XXIV. CAMALEÕES

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Só fui receber a próxima mensagem significativa de Ágappe cerca de três meses depois de nossa ligação

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Só fui receber a próxima mensagem significativa de Ágappe cerca de três meses depois de nossa ligação. Estávamos reabastecendo os suprimentos do Polar Tang na Ilha dos Tritões quando o telégrafo começou a apitar. Foi Ikkaku, que trocava as lâmpadas dos corredores do submarino, quem ouviu os bipes e me chamou para decifrar o comunicado.

Era longo e tinha muitos números, de modo que precisei deixar a mensagem repetir algumas vezes para decifrá-la por completo. Quando terminei, franzi o cenho para minhas anotações. Não porque estavam erradas ou incoerentes, mas porque me diziam para encontrar Ágappe na Cidade das Estrelas em menos de quinze dias.

Venha a Cosmo no Carnaval. Encontre-me 01:30. Rua 2.670, Nº 318. Prédio cinza. Fachada branca. B$ 8.000,00. Flor de lótus.

Fiquei um tanto alarmado diante do recado, lendo-o e relendo repetidas vezes, como se as frases imperativas pudessem me fornecer algum tipo de explicação. Afinal, a Caçadora Silenciosa dificilmente me pediria para encontrá-la, muito menos depois de se esforçar tanto para garantir que ninguém descobrisse nada a respeito de nossa aliança. Entretanto, não tive oportunidade de duvidar demais sobre a procedência da mensagem, pois o telégrafo logo voltou a apitar.

Meu piercing inflamou. Traga antibióticos. E vista-se bem.

Dúvidas esclarecidas. Era ela mesmo.

Foi assim que acabei desembarcando de um navio anônimo outra vez na baía de Cosmo, na segunda semana de março, para me dirigir ao endereço indicado pela caçadora. Mesmo com o início da madrugada escorrendo pelo relógio, o primeiro dia das festividades de Carnaval ainda fervilhava na Cidade das Estrelas, de modo que passei por alguns desfiles com bandas e grupos de pessoas fantasiadas. Música podia ser ouvida por quase qualquer lugar da cidade, fosse vinda de bares e restaurantes ou de algum bloco de rua. O brilho das milhares de luzes emitidas pelos arranha-céus conferia uma iluminação suave até mesmo às ruas mais escuras, mas o endereço que Ágappe me passara parecia não pertencer às partes mais movimentadas da cidade.

Quando finalmente encontrei a Rua 2.670, logo entendi porque a caçadora fizera questão de me dizer para ir bem vestido. Apesar de se tratar de um local mais afastado, era uma ampla via muito bem-cuidada, com prédios luxuosos dispostos em ambos os lados. Não eram altos como os enormes arranha-céus que se erguiam na orla da praia, mas tinham uma arquitetura semelhante, com vidraças espelhadas e corrimões de ferro retorcido e ornamentado nas fachadas.

O número 318 ficava bem ao final da rua; uma construção de, no máximo, seis andares, com portas de madeira gigantescas e janelas escuras, cobertas por cortinas e insulfilme nas vidraças. Um pequeno grupo de pessoas, composto por três homens com roupas elegantes e duas mulheres praticamente seminuas, se reunia do lado de fora, fumando charutos e conversando baixo. Pareciam bêbados e, quando me aproximei da entrada do prédio, um cheiro forte de perfume feminino chegou às minhas narinas, misturado ao aroma de erva queimada.

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