Capítulo 32

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— O que está fazendo, Thales? — Lia pergunta com um tom desesperado.

— Estou louco.

— Não duvido disso, mas por que eu tenho a ver com isso?

Não a respondo, porque não tenho uma resposta, e apenas nos levo por entre as pessoas, onde passamos o corredor estreito e chegamos na porta.

Giro a maçaneta e a abro. Entramos e Lia enxerga a oportunidade de me forçar a soltar sua mão.

— O que você está fazendo? — ela pergunta de onde parou, ainda assim perto de mim. — Por que droga você me trouxe aqui?

Me viro para ela, mas não respondo. Não há como. Como se coloca em palavras algo que nem eu mesmo sei?

Para encurtar o nosso encontro, finalmente, escolho me aproximar o suficiente para tocá-la: tocar seu rosto, seus lábios, olhá-la de perto, devorá-la.

— Meu Deus, eu não sei como e nem por que — digo, um peso aflito na voz —, mas eu morri de saudades. Eu senti tanto a sua falta, Lia. Meu Deus, eu achei que fosse morrer.

Ela arregala os olhos diante dos meus. Está em choque.

Me sinto aliviado, porque compartilhamos do mesmo sentimento.

— Por que você achou que eu morreria? — ela fica confusa, mas ri. — Por causa de uma conversa amorosa sua com a Karina? — ri mais, mas dessa vez parece de ódio. — Ah, me poupe.

Balanço a cabeça.

— Não estava falando de você, mas de mim — anuncio. — Achei que o seu ódio pelo que eu disse estivesse latente a ponto de você nunca me perdoar por palavras de um homem confuso.

Lia ri, para a minha surpresa.

— O que você tem, Thales? Está bêbado ou drogado?

Me ofendo pela pergunta, mas imagino que minhas palavras a tenham assustado mais. Nem eu sei, honestamente, de onde saiu tudo isso. Simplesmente foi tão fácil, sincero e inevitável, que me faltam explicações.

— Não — nego e toco o seu rosto, acariciando sua pele e descendo com o polegar até seus lábios, desenhando linhas em seu lábio inferior macio.— Nunca estive tão sóbrio.

— Você está me assustando — Lia admite e segura meu pulso, o suficiente para alterar a minha respiração por causa do singelo contato.

— Não quero te assustar, quero te beijar — digo isso levando os lábios até os seus, quase ouvindo as batidas do meu coração.

Nossas bocas se tocam e sincronizam instantâneamente em um beijo. Não é afoito, desesperado ou apressado. É um beijo de óbvia saudade. Meu Deus, como pode algo assim?

Já te aconteceu algo parecido uma vez, minha razão me lembra, tentando me recobrar o pleno raciocínio.

Entretanto, por mais insano que possa parecer, eu não dou ouvidos. Não quero me lembrar. Não quero me prestar ao papel de voltar ao passado e reviver aquele momento agora, como acontece repetidamente.

É algo que já tenho de lidar toda vez que abro os olhos pela manhã e quando os fecho à noite para dormir. É uma lembrança dolorosa, mastigante, inesquecível.

Foi o meu próprio pai. É inconcebível.

Lia me segura os braços, puxando-os. Não para seu corpo, e sim para me afastar do toque. Do nosso toque.

Nosso beijo é interrompido e ela me olha com descrença ao se afastar um passo.

— O que passa na sua cabeça? — questiona. — Em um dia você diz que ama a Karina e no outro volta a mentir para mim só para me beijar?

Minha cabeça de baixo não está cooperando com a de cima, então tenho de fazer um esforço quádruplo.

— Aquela conversa é mentira, nunca aconteceu — digo, nos reaproximando. — Será que você acreditou que, depois do que te contei sobre mim, eu realmente faria algo do tipo? Jamais eu falaria "eu te amo" para uma mulher.

Acho que minha resposta não é a melhor, pois Lia sorrir, descrente.

— Você é inacreditável, Thales.

— Eu estou falando sério — meus olhos se perdem em seu rosto e eu quero beijá-la outra vez. Mais uma. Toda vez que puder... — Karina e eu somos só amigos.

— Amigos um caramba! — Lia destila e começa a gesticular. — Você é lerdo assim mesmo ou se faz?

Meneio a cabeça.

— Eu não sei por que fizeram aquilo, Lia. Não sei o que ganharam através disso. E falando sério, não quero saber.

— Pois você deveria — ela rebate imediatamente. — É o seu nome que estão usando, contando uma mentira pelo que você diz. E... — ela me analisa um segundo. — Como podem ter gravado um áudio de você se declarando e não ser você?

— Não sei. Deve ser IA aquela porra. Não sou eu.

Lia amolece os ombros, apesar de ter os braços cruzados agora. Ela me analisa, acredito que decidindo se acredita ou não. Não vou dizer isso, mas espero desesperadamente que ela acredite em mim.

— Você acha que eu perderia o meu tempo, Lia? Trabalho com você há quase dois meses e, me diz, alguma vez você me viu mexendo em celular? Rindo ou sorrindo para uma tela? Mandando áudio?!

— Engraçado, você fala como se estivéssemos passando o tempo todo juntos! Só ficamos juntos durante o trabalho, Thales. Se toca.

— Eu quero te tocar. Muito mesmo.

— Pois... — Lia começa a responder, mas para, me olhando fixamente até suspirar. — Tem que ser a última vez — declara. — Porque eu não vou ficar com alguém que tem uma cobra atrás de si e não faz por onde se livrar.

Confesso que não ouço nada depois do "tem que ser a última vez", porque já estou avançando para o seu corpo outra vez.

Uma última vez.




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Última vez...

Sei 😆

Já caí nesse conto do vigário

Boa noite, amores!

Deus teve misericórdia e mandou uma chuvinha pra cá, nem fiquei feliz q postei mais um 🤭

Minha Tentação tem Nome - Os Wade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora