Meio zonza e quase enjoada por tudo que ouvi, volto à festa. Mas descubro que não há mais uma. Metade das pessoas foram embora e os que ficaram, parece ter sido só por curiosidade.
Balanço a cabeça, ainda perplexa.
Vejo Adam no mesmo lugar em que estávamos sentados antes dos acontecimentos. Ele parece cauteloso e aflito. Olha para todos que se movem, como se esperasse que alguém dissesse o que houve ou fizesse alguma coisa.
Eu me aproximo, chamando sua atenção.
Adam se levanta imediatamente, como aliviado.
— Lia, graças a Deus. O que aconteceu que aquele maluco te puxou de novo? A polícia passou por aqui, paramédicos... Tinha uma mulher baleada, Lia. Que tipo de ambiente é esse do seu trabalho?
Mordo o lábio, refletindo na pergunta.
Aparentemente, era o ambiente perfeito até eu descobrir os bastidores.
Pensei ter uma ideia de quem era Thales, mas não sabia um por cento. Meu Deus, o homem é louco. É preocupante. O que seu pai fez, é indigno em um nível que não posso conceber. A Karina... Nunca duvidei que fosse uma mulher ardilosa e ambiciosa, mas... Namorar o pai do Thales e depois se apaixonar pelo filho e querer tê-lo?
Parem o mundo, eu quero descer.
— Você está bem? — pergunto ao Adam.
— Bem? — ele ri e olha à nossa volta. — Bem assustado, só se for. O que houve, o tal Thales te contou?
Meneio a cabeça, também verificando o local. As pessoas que ficaram, também começaram a se dispersar.
— A mãe dele foi baleada — faço uma careta, as palavras me sendo como um remédio amargo e horrível.
— Por quê? — Adam fica boquiaberto.
— Coisas mal resolvidas, atritos de família — balanço a cabeça. — Vamos embora?
Seu olhar é coberto de compaixão agora, então ele vem me abraçar e salpicar um beijo no alto da minha cabeça.
— Sinto muito — sussurra. — Vamos.
Consigo sentir que Adam ainda usa o mesmo perfume da época que namorávamos, e isso me faz relembrar algumas coisas e, por isso, me afasto do seu abraço e meneio a cabeça, indo à cadeira e pegando a minha bolsa de mão, para então caminhar até o elevador.
Nós o aguardamos para entrar e, quando dentro, Adam me surpreende com uma pergunta capciosa.
— Percebeu como o nosso abraço se encaixa do mesmo jeito da época em que namorávamos?
Eu o olho, os olhos estreitos.
— Não percebi — digo a verdade. — "Época" é porque faz muito tempo.
— Mas quando foram momentos verdadeiros, a gente não esquece.
Balanço a cabeça.
— Pode ser, mas não é pertinente que você fique dizendo coisas assim quando sabe que não estamos mais juntos e nem ficaremos — esclareço.
Adam fica em silêncio por um segundo, então conclui:
— Sei que não estamos ou vamos estar, mas você ainda se lembra de me chamar nos momentos importantes da sua vida. Me considera um adereço ou ainda tenho importância para você, Lia?
Meu olhar fica em um misto de surpresa e susto.
Que ousadia... Embora não seja tão surpreendente, porque Adam sempre foi ousado.
— Que pergunta é essa? — rebato.
— Uma pergunta normal — ele me encara e desvio o olhar.
O elevador abre as portas e saímos juntos, caminhando em silêncio até fora do prédio e presenciando a movimentação de pessoas e policiais.
Umedeço meus lábios secos de tanta tensão resultante de momentos atrás e fico olhando toda a junção que é um amontoado diante de mim.
Penso em Thales. Ele mataria um homem. É a sua vontade, aliás. Ele deixou bem claro. Nunca duvidei disso desde que vi aquela arma na cômoda de sua casa. Ele seria preso.
O Thales dos olhos mais lindos do mundo mataria alguém e seria preso. O mesmo homem que me mostrou um poema romântico e tocante assim que começou a trabalhar comigo, que me beijou e me deixou perdida ao tirar a roupa, muito mais quando me teve, o mesmo com um desespero por me ver hoje mais cedo...
O mesmo homem que sequer conheço.
Então eu o vejo.
Na rua, parado perto de uma viatura. Seu semblante está fechado, os lábios unidos e a mandíbula apertada, dedurando sua tensão.
Queria não suspirar, mas eu suspiro, totalmente alcançada e acertada.
Mas então percebo que Thales está me olhando de volta, e não sei se gosto disso.
Por que ele está me olhando? Acaso acha que vou dedurar aos policiais o seu plano louco? Eu devia fazer exatamente isso. Só que Thales esclareceu condições. Ele vai matar o pai da Karina, se a Sra. Wade morrer. Se ela não morrer, Thales não mata ninguém e assim não vai preso.
Meu Deus, o que estou pensando? Que família é essa?
Engulo em seco, desviando do olhar misterioso desse homem ocultamente tempestuoso.
— Você não me respondeu, Lia — Adam diz perto de mim, atraindo meu olhar para ele. — Eu sou o que para você?
Esse olhar também não está dos mais agradáveis.
— Você é... — começo, tendo cuidado no que vou dizer. — É meu amigo. Pensei que tudo bem para você se fosse assim.
Adam fica singelamente surpreso.
— Acaso não te ocorreu que isso de ser amiga do seu ex, que te amou de verdade e fez de tudo por você, pode ser um ato de obrigá-lo ao masoquismo?
Minha boca se abre e fico indignada.
— O quê? — questiono, não crendo mesmo no que ouvi.
Não sei qual parte me pegou mais, se foi Adam dizendo que me amava de verdade e que fazia de tudo por mim, sendo que ele não pensava duas vezes antes de olhar para outras mulheres na rua e me deixar falando com o vento, ou se foi ele deduzir que estou levando-o ao masoquismo por isso.
Fecho brevemente os olhos.
— Eu sempre perguntei antes se estava "tudo bem" para você — digo. — Se não quisesse vir, que me dissesse, eu iria super entender.
— Você só entende o que você quer, Lia — ele destila. — Sempre foi assim. Nunca entendeu que te amo. Ainda amo.
Volto a ficar de boca aberta e só a fecho quando Adam ousa, mais ainda agora, vir colar os lábios nos meus.
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Nem todo ex, mas sempre um ex
Brinks
Bom dia, amores! 🌞❤️
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Minha Tentação tem Nome - Os Wade 1
RomanceLia é gentil, educada, inteligente e apaixonada por Thales Wade. Ela ainda não sabe disso. Ele também não. Não é como se fosse mudar muita coisa nos dias de ambos caso descubram. Se por um lado Lia é a líder da equipe criativa do seu trabalho, por o...