Capítulo XXVII

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Depois de me levantar e tentar chutar entre as pernas de um dos caras armados, ser amarrada na cama, e agora ser solta novamente, achei que seria melhor pensar em alguma coisa antes de tentar sair.
_ Onde fica... _ Me levanto, e um dos guardas aponta a arma para mim _ Ei! _ Levanto as mãos _ Calma ai! Quero saber onde fica o banheiro nesse lugar.
_ Vai ficar ai _ Thomas diz.
_ UM CONVIDADO TEM DIREITO A UM BANHEIRO! _ Grito.
Thomas suspira, enquanto o guarda espera ordens de atirar, ou abaixar a arma.
_ Tudo bem. Abaixe isto, Al _ O homem abaixa o fuzil.
_ Obrigado. Agora o banheiro.
_ Você não vai sozinha. Vai com eles atrás de você. Não vai tentar nada, ouviu? _ Thomas dita as ordens.
_ Sério? _ Suspiro, em desaprovação, e abro a porta _ Uma nota para a hospedagem? 1. Só por que tem uma cama.
_ Terceira porta à direita _ Diz Thomas.

Enquanto ando pelo corredor, passa pela minha cabeça formas de fugir. Todas inúteis.
Pelas sombras que as luzes artificiais provocam, vejo que os guardas mantêm as armas abaixadas, andam muito próximos, um ao lado do outro, logo atrás de mim.
À uns trinta metros a minha frente, há uma porta aberta, e muita nenhuma luz, e sim um vento frio, vem de lá. Em cima uma placa escrito "SAÍDA" me faz rir.
Viro-me rapidamente para trás, e atinjo a mandíbula do primeiro guarda, puxo a arma de sua mão e dou uma coronhada em sua testa, o que o faz cair.
Quando aponto a arma para o outro guarda e aperto o gatilho, ouço o barulho de minha arma, e de outra, ao mesmo tempo.
Sinto algo escorrer pelo meu braço esquerdo, e uma dor aguda.
Tento ignorar a dor, e atiro na cabeça do guarda que está caido.
Começo a correr em direção à porta, me virando duas vezes para atirar em guardas, antes de alcançá-la.
O vento frio, me deixa mais devagar, mas ainda sim, estou afastada do lugar.
Não há mais guardas, nem cientistas. Só eu, e uma bala no braço.

Para, quando decido que já estou à uma distância segura fo meu "hotel". O efeito do soro, graças aos deuses, já passou.
Estou em uma floresta densa, e úmida. As árvores são altas e majestosas. Ouço ao longe, os habitantes da floresta "conversarem". Da direita, vem um rugido manso. Da minha frente, um uivo, ao longe e um pio de coruja. Da esquerda, um som que poderia ser de um animal comendo folhas. De trás, um sibilo, que está... perto demais.
Com um pulo, levanto-me e dou dois passos ao recuar de uma enorme cobra com uma coloração acinzentada, com marcas pretas.
Ela rasteja vagarosamente, até decidir que está perto o suficiente para se impulsionar para frente e dar o bote.
Mas eu penso mais rápido, e bato o cano da arma do alto de sua cabeça, enquanto esta ainda está no chão. Vou para trás da cobra, e torno meus movimentos mais rápidos e constantes.
Não contei, mas aproximadamente, uns quatorze golpes na cabeça e no pescoço ela para de se mexer.
Vejo ao meu lado, um galho quebrado, oque o deixou com uma grande ponta.
_ Só pra garantir _ Digo ao animal.
Desço a ponta do galho na cobra, e no local, vejo um buraco.
Pela direita, ouço passos sobre as folhas.
Aponto a arma para o nada.
_ Quem está ai?
_ Abaixe essa porcaria! _ Uma voz masculina, conhecida diz _ Parece até o Al.
_ O quê você está fazendo aqui? _ Pergunto, agora mirando a arma no peito de Thomas.
_ Já disse pra abaixar! _ Ele diz levantando as mãos _ Vai matar um cara desarmado que só quer ir embora também?
_ Ir embora? _ Pergunto, mas ainda não abaixo a arma.
_ Claro! Porque eu ficaria aqui, se lá, eu não passo de um empregado que cuida dos prisioneiros mais agitados? Se não posso fazer nada de acordo com meu verdadeiro potencial?
_ Hum... Por que devo acreditar que você não vai me matar quando eu virar as costas e começar a andar?
_ Eu estou DESARMADO!
_ Tudo bem _ Abaixo a arma _ De costas, com as mãos levantadas.
_ O quê? _Ele pergunta com cara de espanto.
_ De costas _ Digo com raiva _ Não acredito em você. Você não sairia de la desarmado.
_ Porque devo acreditar que você não vai me matar ao invés de me revistar?
_ Por quê eu tenho palavra.
_ E dai? Eu não te conheço.
_ Vire-se agora! _ Eu digo _ Se disse que não vou te matar, então não vou.
Com uma mão firme na arma, passo a outra pelos pés, pernas, cintura e costas de Thomas.
_ Hum _ Resmungo. Realmente esperava achar algo nele.
_Pronto? Agora faça a gentileza de baixar a arma.
Abaixo o fuzil, que eu havia apontado-lhe novamente no peito.
_ E então _ Ele começa a dizer algo mas eu o interrompo com um gemido de dor _ O que foi?
Solto a arma, ao meu lado e coloco a mão na ferida.
_ Ah, cara _ Ele se aproxima _Você levou um tiro!
_ Ah, sério? _ Digo _ Achei que tinha ganhado um beijo de uma borboleta.
_Quê?
Faço que não com a cabeça, e ele continua:
_ Deixa eu ver _ Novamente digo que não com a cabeça _ Olha só. Eu recebi treinamento. Eu sei lidar com feridas assim. Então agora, você vai me deixar ver.
Tiro a mão da parte em meu braço, que ainda sangra. Ele olha e suspira. O ar quente que abandona sua boca, faz arder o ferimento.
_ Você tem sorte _ Ele diz arrancando a barra da calça _ Foi de raspão. Olha só. Não vai ser como filmes. Do jeito que você é pequena, não preciso passar frio tirando e cortando a camisa. Vai ser barra de calça mesmo.
Ele amarra tão forte o pano em meu braço que dou um leve gemido.
_ Quer arrancar meu braço? Forte demais!
Ele ri, e dá um nó. Sem afrouxar o tecido.
_ Não... _ Digo ainda com dor _ Não devíamos subir em uma dessas casas para passar a noite?
_ Nesse estado? _Ele olha para o meu braço _ Nem pensar.
_ E vamos passar a noite como?
_ No chão, mas quem vai dormir é você. Não queremos animais aqui, certo? _ Ele arrasta o pé no chão, trazendo várias folhas para perto de si, e as ajeita em um monte, ao meu lado _ No meio da noite eu vou te acordar, e trocaremos os lugares. Isso é o melhor travesseiro que vamo...
_ Você dorme _ Eu o interrompo _ Não vou conseguir dormir mesmo com essa dor. Depois eu te acordo.
Ele, com uma expressão cansada assumindo o rosto, concorda com a cabeça, e encosta a cabeça no monte de folhas, se encolhe e fecha os olhos.
Eu o observo.
É moreno. Os cabelos lisos, e a muito não cortados, mas que só tem tamanho suficiente para alcançar à testa, caem em direção às folhas. As pálpebras, se fecham suavemente, e a boca, assume uma forma sem expressão. O peito, estufa e contrai, para frente e para trás, enquanto as narinas abrem e fecham regularmente.
Um dos olhos azuis se abre rapidamente e me encara. A boca, se contorce em um sorriso.
_ O que foi? _ Pergunto, sentindo o rosto esquentar.
_ Eu quem devo perguntar _ Diz ele ainda deitado e sorrindo _ O que foi?
_ O que?
_ Por quê está me olhando? Ainsa acha que posso te matar? Mesmo desarmado? _ Ele abre o outro olho e solta uma gargalhada baixa _ Está esperando demais de mim, se esse for o caso.
Ele se levanta e apoia as costas na árvore onde também estou encostada.
_Vou ficar acordado com você _Ele diz, e eu não protesto.

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