Capítulo XXVIII

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Ao abrir os olhos pela manhã, descubro que já tarde demais, quando o pio das corujas já era mais forte e constante, eu e Thomas fechamos os olhos, e adormecemos.
Passamos toda a vigília em silêncio, observando as árvores ou as estrelas.
Olho para o lado e ele não está lá. Como minha primeira reação, procuro a arma que carregava. Ela está, sem ter sido ao menos tocada, ao meus pés.
_ Thomas? _ Chamo e não tenho resposta _ THOMAS!
Barulho. Passos vindos da densa floresta a minha frente, amassam as folhas ressecadas no chão. Pego a arma.
_ Anna? _ Mike diz de dentro da mata _ ANNA!
Ele corre ate mim, e quase me derruba com um forte abraço. E eu jogo a arma no chão.
De trás das árvores, saem Simon, e Mark, que mantém o cano de sua arma encostada na mandíbula de Thomas, que tem o nariz sangrando, e o dedo no nariz. Empurro Mike.
_ Solta ele! Ele está comigo...
Mark o empurra, fazendo com que o peito de Thomas se choque contra o solo, e Simon pula em mim, e, não me interessa se por querer ou não, sua boca toca levemente a minha, e eu o afasto.
_ Como sabiam onde eu estava? _ Digo antes que Simon possa murmurar qualquer desculpa.
_ Eu disse ao Mark como eram os homens, e quando disse o simbolo que eles carregavam no peito, ele soube que estava perto da cede dos Assassinos, como ele os chama.
_ Assassinos? Simbolo?
_ Duas cobras vermelhas formando um "X" sobre uma lua minguante.
_ Assassinos _Interrompe Mark _ Por que foram eles quem mataram nossos pais, Anna. Achamos esse homem, no mato, com duas maçãs, e então quando questionado, inventou que ele e sua companheira viviam na floresta, e ele queria dar-lhe as frutas que pareciam tão sãs e saborosas, diferente das outras.
_ Companheira? _ Pergunto à Thomas, que levanta a sobrancelha e sorri.
_Anna! _ Mike diz, com os olhos arregalados.
_ Mike! _ Imito sua expressão.
_ O que foi com o seu braço? _ Ele pergunta, tocando o pedaço de calça no meu braço.
_ Um tiro _ Eu faço uma careta quando seu dedo toca o ferimento _ Não tinha como eu sair ilesa daquele lugar.
_ Não importa _ Ele diz _ Vamos voltar logo. No colégio, eles vão saber oque fazer agora...
_ Nem pensar _ Mark interrompeu _ Vocês vão voltar. Eu e Anna não.
_ E eu? _ Com cara de cachorro abandonado, Thomas perguntou.
Mark suspirou e balançou a cabeça como se dissesse "não acredito que vou dizer isso".
_ Você também virá conosco _ Ele disse à ele _ Eles não vão te deixar entrar e nem ficar lá.
_ Por quê, Mark? _ Mike se interessa _ Ou vocês vêm, ou nós vamos.
_ Não. É coisa.... _ Mark olha para mim _ De família.
Simon me joga meu machado em minhas mãos, e eu o agarro, com o braço esticado sobre a cabeça.
_ Mas ainda ach... _ Mike se interrompe _ Ouviram isso? _ Eu e Mark sim, mas os outros, que não tinham os sentidos aguçados, não.
Todos se viram para a mata atrás de nós. As folhas das altas e densas, a mais de três metros do chão, começa a se mover, e um vento forte, no alto, as empurra para frente.
Prepararo o machado enquanto Mark posiciona a arma, Mike saca a espada, e Simon pega duas adagas.
De trás das folhas, um enorme lagarto, com couro de crocodilos, com cheiro de sangue, uma longa cauda e sobre as duas pequenas patas traseiras, sai.
_ O que diabos... _ Digo confusa.
_ Estrelas _ Diz Mike sem tirar os olhos da criatura _ Nós podemos ver o quê os Comuns não podem.
O animal se impulsiona para a frente e fica sobre as quatro patas, agora ficando na altura da minha cintura.
Antes que qualquer um pudesse fazer qualquer coisa, o dragão lança a cauda em nossa direção, e todos correm para trás, porém Mark fica e atira inutilmente em seu couro e é jogado para longe pela força do animal. Sua arma vai longe. Começo correr na direção do dragão, e proxima o bastante, tento cortar fora sua cauda mas também sou jogada longe.
Meu peito, onde fui atacada, dói, e meu braço parece que está sendo queimado.
Penso em outro ataque mas, o machado agora está dentro da mata.
Simon atira com perfeição as duas adagas, enquanto me levanto, atingindo os olhos do dragão, que urra de dor.
Enquanto Mike corre com a espada na mão para tentar um ataque, o dragão, sangrando, começa a ficar com a garganta e as "bochechas" vermelhas.
_ CORRE! _ Grito entrando na mata, e vendo as labaredas sairem da enorme boca do animal.
Mark. É tudo oque penso, e então, ignorando as chamas, atravesso a frente do dragão e pulo em cima de meu irmão, pensando em protegê-lo.
Sinto algo se mexendo assima de mim. Mas parece apenas um vento forte.
Quando a sensação se vai, me levanto, e o dragão está no não, esfregando os olhos na terra.
_ Co... Como você... _ Simon pergunta, com a expressão confusa, e Mike agarra seu ombro e diz com tom de urgência.
_ Lembra-se? Ela é uma Lua. Eles existem mesmo. Ela tem mimetismo vulcânico, então é imune ao fogo.
O dragão, ao perceber que o movimento voltou para perto de si, se prepara para começar a lançar mais fogo, e então, Simon me empurra para a frente e manda Mike se enconder.
_ Tenho uma ideia _ Ele diz _Fique na minha frente, me proteja do fogo, e me diga quando a boca dele estiver bem aberta. Tudo bem?
Não tive tempo de responder. O fogo logo nos alcançou. Estava com os olhos fechados por puro impulso e então, quando os abri, percebi que as chamas não chegavam a me tocar. Uns cinco centímetros antes de mim, o fogo se virava, como se ali houvesse um escudo.
Estiquei a mão na altura dos olhos para poder ver melhor e o dragão ainda não estava com sua força total.
_ Mike! _ Gritei _ Dê um golpe por trás!
E com a espada nas mãos Mike fiz o que mandei. O metal nem aranhou o couro do animal, mas o irritou, o que o fez abrir mais a boca.
_Seja lá o que for fazer _ Digo virando a cabeça para trás, para Simon _, faça agora!
Ele colocou sua mão sobre meu ombro para não se queimar e disse para que eu ficasse frente a frente com a boca do animal.
Um pouco relutante, fiz o que pediu, e a mão de Simon, tocou rapidamente a língua do animal, fazendo-a congelar.
O fogo parou, e o dragão, em tentativas falhas, tentou nos golpear.
Seu pescoço, estava tomando o tom azul fraco do gelo, e com isso ficando mais fraco. Em um único golpe, Mike quebrou o gelo e cortou a carne do pescoço do dragão, decepando-o e fazendo seu corpo desabar imóvel.
_ Uau! _ Thomas saiu da mata, batendo palmas _ Podia ser melhor, mas vocês o mataram! Parabéns!
_ Podia ser melhor? _Disse Mike nervoso _ Onde estava você enquanto lutávamos? Você podia ter ajudado! Ou feito melhor.
_ Parem os dois! Tem coisas mais importantes que a briga de vocês agora.
Mesmo com uma dor quase insuportável, causada pelo tiro, corri até Mark e tentei levantar meu irmão inconsciente.

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