Capítulo 1 - A anti-social in The Castro

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Não gosto de contato humano, porque quando você começa a conviver ou a ter contato com alguém você sem duvida vai se foder alguma hora. Não estou falando isso porque sou o tipo de pessoa chorona que teve experiências traumatizantes com uma namorada ou com amigos - até porque eu não tenho nenhum dos dois - e que agora tem medo de se ferir ou algo assim, o fato de eu afirmar quando digo "você vai se foder caso se apegar a alguém" não é nada mais que um fato verídico, humanos não são perfeitos.

Eles machucam a si mesmos e a outras pessoas, porque somos idiotas, abrimos nossas bocas para dizer comentários bestas e sem sentido, o problema é que você não sabe o que a outra pessoa vai achar disso, não se sabe o que os outros pensam e acabamos os ferindo.

Eu por outro lado me cansei dessa porra toda. Cansei de gastar o meu tempo escolhendo as palavras para falar com alguém. Como eu disse humanos não são perfeitos. Então não havia razão para eu tentar ser, percebi isso quando tinha oito anos, enquanto tentava agradar as pessoas me perguntei "Por que estou fazendo isso? Não vou receber nenhum retorno, isso é uma coisa sem nexo".

Tenho tatuado nos meus pulsos "Do not fuck yourself" esse é o mantra da minha vida e se tem uma coisa que eu aprendi é que segui-lo é a melhor coisa que eu posso fazer.

Se um ser assim tem família? Claro uma vez já tive, mas agora todos estão mortos, não, esse não é o motivo para que eu não goste de contato humano, não é a famosa historia do pobre garoto órfão que tem medo do amor. Não sou o tipo de cara que se abala por "laço sanguíneo", mas também não sou o tipo de cara que falaria "Eu não pedi para nascer, então eles que se ferrem" claro não sou alguém assim e se eu amava meus pais? Mas é claro, não vejo como não amar a quem te deu a vida, isso não quer dizer que eu tenho que amar o resto do mundo e a vida – até porque minha vida é uma merda.

Sinto muito aos meus pais por não poder ser o filho que eles queriam que esbanjasse felicidade e ajudasse velhinhas a atravessarem a rua. Não conseguiria ser assim nem se quisesse provavelmente eu iria largar a velhinha no meio da faixa e sair andando. O caso é que não faço questão de ser um "bom menino" faz muito tempo.

Sou Ciel Phantomhive, atualmente com 19 anos, tenho cabelos pretos e uma pele desnecessariamente branca chegando num tom quase anêmico, se for se levarem em conta os estereótipos implicados pela mídia, sim eu sou um cara bonito – não que eu discorde – tenho um corpo consideravelmente pequeno para a minha idade, chegando a ter aproximadamente 1,52 de altura sem tirar o fato das minhas feições infantis, desde os olhos grandes e azuis as pernas frágeis.

Moro num apartamento simples em São Francisco (Califórnia) e sobrevivo com a herança que ainda tenho de meus pais, eles morreram quando eu tinha 10 anos em um incêndio em nossa casa, eu também estava lá mais o máximo que aconteceu para mim foi perder a visão de um dos meus olhos, assim o cubro com um tapa-olho. Felizmente meus pais eram ricos então posso me dar ao luxo de ter uma vidinha medíocre com o dinheiro de gente morta, quando eu falo assim parece cruel, mas obviamente a verdade é cruel, por isso a omitimos, daí que vêm as mentiras, algo desprezível que usamos para tapar os buracos de nossa personalidade. Claro eu também as conto, por que humanos não são perfeitos, precisamos de algo que deixe isso não tão óbvio, por isso mentimos. Uma das mentiras que falo para mim mesmo é "Vou entrar numa faculdade", infelizmente para isso eu tenho que falar com pessoas e ter que interagir e conviver diariamente com elas, e não acredito que no meu nível mental atual eu possa fazer isso.

Com o corpo frágil que tenho preciso diariamente de remédios, isso me faz ter que destrancar de meu apartamento e ter que sair pelas ruas para não morrer pelos cantos por causa de uma asma ou algo assim. Eu detesto sair do apartamento porque infelizmente eu sou um imã para pervertidos, entendo que me achem irresistível, mas não poderiam achar de longe? Digo não consigo pegar um trem sem que toquem em partes "indevidas". Um ruim sobre São Francisco é que aquele lugar é um antro homossexual – malditos ativistas liberais – o pior de tudo isso é que eu moro no Bairro The Castro conhecido pela predominância de moradores homossexuais, muitas vezes já fui assediado nesse lugar - um dos motivos para eu não gostar de contato humano - é o fato de certas pessoas não conseguirem segurar seus impulsos carnais e sem duvida isso é um problema para mim.

Eu tenho uma quantidade considerável de stalkers, mas se tem um cara que realmente me assusta é o vizinho ao lado do meu apartamento. Um homem de cabelos pretos, olhos vermelhos, com uma estatura bem mais alta que a minha e provavelmente mais velho. Esse cara vem me perseguindo já faz tempo, e já teve algumas noites que eu o ouvi gemendo meu nome enquanto eu ouvia barulhos "estranhos", até hoje ele não tentou nada, mas isso não quer dizer que eu não saio de casa com um spray de pimenta e uma arma de choque.

Enfim, voltando à atualidade. Saio do meu apartamento minúsculo para comprar um remédio que resolva a dor que ando sentindo no meu olho ferrado. Assim que destranco a porta e entro no elevador, vejo o meu stalker preferido saindo do seu apartamento e tentando alcançar o elevador onde estou. Começo a apertar compulsivamente o botão de "fechar", e a única coisa que vejo antes das portas se fecharem são os olhos vermelhos e chorosos do homem que tenta de todas as maneiras abrir a porta, para a minha sorte ele falha. A última coisa que eu quero é ficar entre quatro paredes com aquele cara.

Assim que o elevador chega ao primeiro andar saio rapidamente do prédio com medo que aquele maluco me siga pelas escadas. Ao sair tento me dirigir à loja de conveniência mais próxima, enquanto vejo alguns olhares "suspeitos" se dirigindo para mim. Atravesso as ruas cobertas por bandeiras de arco-íris que representa o quanto aquele lugar é gay até chegar a "IS HERE" a loja de conveniência mais próxima da minha casa e que geralmente tem tudo que eu preciso. É uma loja pequena que fica na entrada de The Castro, lá tem um suporte considerável de remédios e comida. Entro na loja, já pegando uma quantidade considerável de remédios para dor de cabeça, dor de estômago, gripe ou qualquer outra merda que esse corpo frágil e imunidade fraca possam me favorecer. Dirijo-me ao caixa levando o que causaria uma overdose de remédios para qualquer outra pessoa. Após pagar por tudo já quase indo embora, um furacão de cabelos vermelhos adentra a loja e começa a olhar loucamente para todos os lados até me ver. Quando ele para por alguns instantes posso observar sua fisionomia, ele é um homem por mais que de começo não pareça, de cabelos vermelhos que passam sua cintura, olhos verdes, dentes afiados, pele alva, óculos e terno vermelhos e por mais estranho que isso pudesse parecer ele usa botas de cano longo de salto alto, em qualquer outro lugar isso seria estranho, mas não em The Castro, ele seria tipo de cara que estaria "divando" lá.

Ele ficou me encarando um pouco até se dirigir a mim e me puxar pelo pulso até fora da loja me fazendo derrubar as minhas compras. Eu fico encarando estupefato aquele coisa vermelha sem entender nada. Ele me olha de cima a baixo e suspira um "Não é meu tipo, mas...", o ruivo leva até meus lábios um pano branco e eu sinto meus olhos se fechando antes de ouvir: " desculpe,mas se eu não achasse ninguém ele sem dúvida me mataria", depois disso fica tudo escuro.

– O que acha Will?Ele não é muito novo?

– Não, ele é perfeito!

– Você nunca disse que eu era perfeito!

– Calado Sutcliff!

Nesse ponto eu acordo. Não estou mais na loja, na verdade não sei onde estou.

Olho para minha frente e vejo novamente o homem de cabelos vermelhos, só que está acompanhado por outro de cabelos pretos arrumados de modo social, seus olhos eram uma mistura de um verde-amarelado cobertos por óculos.

Ele: – Finalmente você acordou! Seja bem-vindo ao Pleasure Maddening.

Did you Say Bitch?Onde histórias criam vida. Descubra agora