Capítulo 3 - Coisas do Campo

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Logo após a curva, a direita da estrada principal, alguns metros a frente ficava a entrada da fazenda. Uma sensação de alívio tomou conta de mim, pensar que não precisaria ficar mais dentro do carro com os dois se divertindo, realmente era revigorante.

Meu pai pediu pra que eu fosse abrir o portão. Desci, respirei profundamente, aquele cheiro de terra e mato tão familiar tomou conta dos meus pensamentos, me levando áquelas muitas lembranças de infancia. Abri o portão, esperei meu pai passar com o carro, fechei em seguida.

- Vamos filha já estamos atrasados! Tinha dito a sua vó que estariamos aqui pro café mas já é quase hora do almoço.

- Vocês podem ir, vou andando daqui e logo chego. Quero esticar as pernas um pouco. - eu tinha que ficar sem eles o mais rápido possível, foi o que consegui dizer pra não magoar meu pai.

- Tudo bem, mas não demore. - ele retrucou.

- Não vou. - respondi e saí do caminho demarcados pelas rodas de carro. Resolvi seguir pelo caminho de pedras logo ao lado da estrada da entrada.

Tanto tempo sem ver esse verde, sem animais, sem insetos nojentinhos. Tinha me esquecido de como era a sensação da brisa e sol da manhã tocando minha pele. Aquele pedaço de campo coberto de flores, as mais simples, mas que faziam do chão um colchão macio de uma fragrancia suave. Esse barulho de patos do lago, como eu ria quando algum deles não conseguia pousar direito na água, ou quando corriam atrás de mim só porque eu ficava atrás dos patinhos na beira.

A essa altura já conseguia avistar o celeiro, e de lá de dentro correndo na minha direção vinha Betsy, aquela labradora que em tantas vezes foi companhia das minhas aventuras pelo campo. Já deveria estar velha, ou morta, pois pelo que me lembro minha vó tinha ela desde sempre. Claro que eu não queria que ela se fosse, nunca, jamais. Depois de tantos anos pelo menos mancando ou com deficiencia devido a idade, mas ela vinha correndo com uma energia que realmente me deixou espantada.

- Oi sua velha, parece estar muito bem! - ajoelhei para dar um abraço nela, que pareceu me recorrer de imediato. - Ainda lembra de mim sua danada? O que tem feito de bom por aqui?

Nem sei porque estava falando com a cachorra, só sei que era melhor do que ficar falando com a Angeline sem duvida.

- O papai trouxe uma namorada. Me promete que assim que puder você dará uma mordida na canela dela?

Ela latiu para mim, como se tivesse me entendido. Quem derá tivesse!

Eu não podia mais enrolar, mas precisa falar com minha mãe antes de enfrentar tudo isso sozinha. Me dirigi em direção ao lago. Lá estava a lápide da minha mãe, do jeito que eu me lembrava, só com um pouco de folhas por cima, mas como eu esperava sempre um buquê de flores do campo novo pelas manhãs, como minha avó dizia que deixava. Limpei as folhas e me sentei ao lado dela, mesmo sabendo que ela não estava ali, era como ter um amigo imaginário depois da idade de ter um, a menos que eu fosse doida e não sabia ainda.

- Oi mãe, me desculpe por te abandonar aqui com esses patos idiotas. Vovó disse que tem cuidado de você pra mim já que não posso estar aqui sempre. Eu vim com o papai e uma moça que aparenta ser namorada dele, ela se chama Angeline, mas não tem cara de anjo. - ri desdenhosamente.

- Trouxe nosso livro favorito, e enquanto estiver aqui prometo que venho todos os dias ler para você. Bom tenho que ir antes que o papai comece a me procurar. - Nesse momento uma lágrima rolou do meu rosto involuntariamente. Eu nem havia percebido que meus olhos já estavam mergulhados em tanta água, precisava me acalmar e voltar em diração a casa, e foi o que fiz, não quero que me vejam chorar. Levantei e novamente senti uma leve brisa tocar meu rosto, até parecia minha mãe tentando enxugar minha lágrimas.

Corri desesperadamente, cheguei em casa ofegante louca por um copo de água. Minha avó me olhou admirada, de como eu havia crescido em mudado em tão pouco tempo desde a última visita dela a um ano atrás.

- Pepê como você está linda! - e me abraçou. - Como vocês não chegaram pro café eu imaginei que chegariam com fome, fiz seu bolo favorito.

- Ah, obrigado vovó. - respondi ainda com ela me abraçando. - Mas acho que vou deixar pra mais tarde, quero ir logo pro meu quarto, trocar essa roupa.

- Tudo bem, a viagem foi longa mesmo. Seu quarto está pronto e do jeito que você deixou, não se procupe que eu não mexi no seu esconderijo do chocolate. - ela disse sorrindo e soltando uma piscadinha.

- Bom pelo jeito eu estou liberada. Vejo vocês no almoço, vou arrumar minhas coisas. - Qualquer coisa que me distraia e me mantenha ocupada até ter que ver aqueles dois juntos de novo era válido, inclusive arrumar minha bagunça.

Meu quarto era o mesmo que minha mãe ficava quando era pequena, minha parte favorita da casa, era lá que ficavam todos os livros mais incríveis. Nunca tirei nenhum dali pra levar quando voltava pra Londres por medo de estragar ou perder. Aquele era "nosso espaço", meu e da minha mãe, e estava intacto. Uma cama enorme e confortável; uma parede recheada de livros, aquela estante era realmente enorme e pra mim um tesouro; um closet até grande pra um quarto de criança; um banheiro privativo, com ducha e banheira que eram maravilhosas; a lareira que sempre evitei de acender com medo de pegar fogo em tudo; e aquela janela enorme com aquela espreguiçadeira almofadada, lugar perfeito pra ler durante o dia, quando o sol bate na janela pela manhá até ele se pôr.

Joguei tudo que tinha nas malas em cima da cama, separei as roupas e guardei na closet, os livros na estante mais baixa pra não misturar sem querer com as edições da minha mãe que eram iguais alguns dos meus. Depois fui para o banco próximo a janela que dava vista para a entrada ver se conseguia adivinhar o que meu pai fazia lá fora.Papai e Angeline foram dar uma volta na propriedade, ele queria muito provavelmente impressioná-lo com o "avançado" conhecimento do campo. Aprendeu tudo com minha vó quando começou a namorar, fiquei sabendo que ele só aprendeu a cavalgar pra agradar minha mãe. Nem sei se ele ainda sabe fazer isso, mas pelo caminho que está tomando até a cocheira imagino que vai tentar algo.

Lá de baixo só sinto cheiro de café, aquele aroma incrível de café processado na hora. Não resisto e desço atrás de um pedaço do bolo e café.

- Pode parar de me espionar aí do canto da porta e vir pegar seu bolo senhorita Persephone. - disse minha vó com tom sarcástico

- Senhora Eleonor em momento algum eu a estava espionando, só queria verificar que o perimetro estava seguro de forasteiros. - e ela entendeu que eu não queria a Angeline por perto.

- Pois bem, então já que o local é seguro sirva-se e depois quando tiver feito tudo que tiver pra fazer e quiser conversar é só me avisar. - disse piscando pra mim.

- Entendido! - peguei um prato e coloquei alguns pedaços de bolo, fui no armário peguei uma caneca, aquela que tinha a asa quebrada pela minha pessoa anos atrás e que minha vó não tinha jogado fora, coloquei café nela, fiz uma continência e voltei pro meu quarto.

Nada como as coisas do campo, onde passei os melhores anos da minha vida pra me ajudar a relaxar. 

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⏰ Última atualização: Aug 01, 2015 ⏰

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