II

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Acordei desesperado às 11:00 de domingo, com o barulho dos gêmeos no quarto ao lado. Parecia que tinham umas quinze crianças onde na verdade tinham dois pré-adolescentes de 12 anos. Só escuto Dona Jô abrir a porta com aquela delicadeza, como se quisesse que a porta virasse igual porta de banco, e dar um grito só, que ecoou na casa:

- JÁ PRO BANHO, OS DOIS!

Levantei no mesmo pique, e apesar de mãe ter mandado os dois irem primeiro, eu tomei meu banho primeiro e fui prender Azul (meio que uma burrice, já que Azul sempre me jogava no chão por eu ser alto e magro) pra poder varrer as folhas de amendoeira secas que caíam insistentemente.

Assim que terminei de varrer, me joguei na cama pra poder chamar Diana. Não tinha nem salvo o número dela ainda, peguei o celular do bolso e salvei "Menina dos Olhos ". Assim que a chamei, ela me diz que estava na mesma praça onde nos encontramos no dia anterior.

- Quer que eu vá te encontrar? - Perguntei na inocência.

- Sim, por favor!

Mal terminei de ler essa frase, já pulei da cama, procurei a melhor camisa que tinha e desci correndo as escadas.

- MÃE, VOU VER DIANA!

- QUEM?

Não tive como responder à pergunta porque já tinha até subido na bicicleta e saído correndo, apesar dos protestos de Azul, que latia sem parar.

Chegando na praça, a reconheci de longe. Seu cabelo cacheado estava mais cheio, com uma lótus encaixada perfeitamente perto de sua orelha, tal qual nem reparei se era artificial ou não. Um vestido e uma sandália aberta completavam seu visual, ao menos era o que eu pensava. Quando toco em seu ombro, ela vira pra mim com as bochechas avermelhadas e algo de diferente em seu rosto. Um par de óculos realçavam ainda mais seus olhos cor de mel, que pareciam me fitar não só o corpo, mas também a alma. Assustada com meu olhar paralisado, ela pergunta:

- Que foi? Ficou tão ruim assim?

- Não, imagina, tá perfeito. - "Droga, não era pra ser tão direto.", pensei.

- Me faça companhia, gosto da sua voz.

Gelei. Ela, minha paixão platônica, a garota que quase não me deixa dormir, disse que gosta da minha voz.

- Mas o que tem demais nela? - Perguntei, ainda meio envergonhado.

- Nada, é que ela me faz sentir feliz em estar viva. Estou passando por alguns problemas em casa e nosso passeio de ontem me fez chegar em casa sorridente, papai até estranhou.

"Me faz sentir feliz em estar viva.". Ao ouvir minha voz, ela sente exatamente o que sinto quando olho em seus olhos.

- Olha, eu conheço um parque muito bonito, e não é muito longe daqui. Tem árvores, crianças brincando de pique na grama e um lago, bem no meio. Quer ir?

- Seria ótimo! - disse ela, sorrindo com os olhos e com a boca.

Assim que começamos a andar, ela pegou em minhas mãos e deitou a cabeça em meu braço. Meu coração começou a bater mais rápido, fiquei pálido e suava frio.

- "Que sensação estranha é essa?" - Pensei com medo.

Fomos andando assim, e a cada casal de velhinhos que encontrávamos, ficávamos mais constrangidos. "Que casal mais bonitinho", "Quando forem casar me chamem", "Deus os abençoe, ficam tão fofinhos juntos" e coisas do tipo eram ditas. O estranho era que, toda vez que escutávamos isso, ela apertava minha mão e dava uma risadinha.

Chegando perto do parque, sentamos um do lado do outro e falamos sobre tudo. Música, esportes, política, religião... Tudo era abordado com uma naturalidade incrível, como se nos conhecêssemos há anos.

Foi chegando a tardinha e o Sol foi se pondo. Coincidência do destino (ou não), sentamos num lugar de onde dava pra ver o Sol milimetricamente se pondo entre dois enormes morros. Apoiei os braços no chão e recostei. Qual não foi minha surpresa quando ela deitou em meu peito e pôs uma perna em cima das minhas.

- Esse momento é tão lindo... De lá de casa, não vejo quase nada do meu quarto, a janela fica pro Norte... E, cá pra nós, mesmo tendo nos visto ontem, não queria mais ninguém pra passar esse momento.

Gelei mais uma vez. Seja lá o que fosse que eu tivesse sentindo, era recíproco! Eu fazia o bem que faltava a ela, e ela me chamou propositalmente porque queria um lugar bonito pra ir comigo.

Antes que eu pudesse pensar alguma coisa, ela virou pra mim, com o rosto a meio palmo do meu e deu um sorrisinho. Convite melhor não existe. Sim, nós nos beijamos, e foi talvez o momento mais bonito em toda a minha vida.

Como de costume, a levei em casa novamente, agora que já sabia o caminho. Fomos de mãos dadas até seu portão, dessa vez, e demos um beijinho de despedida. Quando ía subir na bicicleta, olhei para ela e dei um sorriso besta. Ao mesmo tempo em que vi seu pai olhando tudo por uma fresta na janela da frente.

Cheguei em casa, sentei ao lado de Azul pra contar-lhe as novidades, já que era meu confidente desde os 14 anos.

- E aí, rapaz, cumé que ce ta? Olha, acho que eu to apaixonado, e ela é linda! Tem os cabelos cacheados e a pele morena, e os olhos dela? Ah, os olhos dela. Parecem dois sóis me queimando o peito! Um dia, vou trazê-la aqui, e você tem que me prometer que vai se comportar, hein! Promete? Ah sim, bom garoto!

Impressionante não era eu falar com ele, e sim o modo como ele agia como se estivesse entendendo e concordando com tudo.

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