IV

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Esses momentos se tornaram frequentes. Nunca gostamos muito de shoppings, bares, e sempre preferimos nossa monotonia. Quando ela não me levava nesse lugar, eu a levava onde a levei no nosso segundo encontro. Quando não era nem uma coisa nem outra, eu ía pra casa dela. Até que chegou o sábado em que a levaria na minha casa, pra apresentar à minha família. Na sexta de noite, conversávamos:

— Parece que foi ontem que você me viu e me chamou pra tomar café com você.

—Pois é, e amanhã vou te buscar pra você vir aqui conhecer minha família...

— Como eles são?

Se eu contasse como são, com certeza ela iria desistir de vir. Então resolvi fazer um suspense.

— Amanhã você vê, meu bem.

No sábado, bem cedo, acordei todo mundo. Tive uma conversa bem séria com os gêmeos e disse pra não me envergonharem. Até com Fred e Azul eu conversei. Saí pra buscá-la e assim que volto, dona Jô nos avista de longe, já que varria as folhas de amêndoa do gramado. Assim que entrei com a bicicleta e ela na garupa, Azul não parava de latir (sorte que lembrei de prendê-lo antes de ir, senão ele ia me derrubar nas folhas como sempre fazia.)

— Meu bem, aquele lá é o Azul. Quando você vier menos arrumada eu te apresento ele. — Viro pra minha mãe e as apresento uma pra outra: — Mãe, essa aqui é a Diana. Diana, essa é minha mãe, dona Jô.

— Essa é sua namorada? Que linda, meu filho!

Realmente, Diana estava linda. Dessa vez não estava de vestido, nem com a sandália aberta, nem com a flor no cabelo. Estava com uma blusa lilás por baixo de um casaco branco, já que se tratava de um sábado frio de agosto, e uma calça jeans que realçava um pouco suas curvas. Nos pés, um par de tênis simples. O par de óculos dava o toque final à "namorada do Cadu".

— S-sim, sou eu. Me chamo Diana. Cadu fala muito bem da senhora e de sua comida.

— Vamos entrando, querida. Os gêmeos devem estar lá em cima e o bebê, dormindo aqui embaixo.

"Como o bebê dorme com o cachorro latindo?", ela me perguntou baixinho. Eu só consegui rir.

— FLÁVIO, BRANCA, DESÇAM JÁ PRA CONHECER A NAMORADA DO SEU IRMÃO!

Desceram numa carreira só, quase derrubando um ao outro na escada em espiral. Por mais que eu deteste admitir, estavam bem-arrumados, e não com a usual bagunça que sempre vestiam. Branca até com o cabelo preso estava, coisa que não tinha visto desde que ela era bem pequena. Só que escondia alguma coisa nas costas, o que me deixou preocupado.

­— Você que é a namorada do Cadu? – Perguntou Flávio.

—Sim, sou. Você deve ser o Flávio. — Disse Diana, meio envergonhada.

Flávio olhou pra mim, e depois pra ela de volta, e disparou:

— Você não acha que é muito bonita pra ele não?

Diana não conseguiu conter o riso, e eu, a raiva.

— Olha, eu peguei pra você. Cadu disse que gosta de flores. — Disse Branca.

Depois de dizer isso, Branca mostra o que tinha escondido. Eram dois lírios artificiais, desses que a gente compra no centro da cidade. Branca sempre foi a "menos pior" dos dois. Flávio sempre fazia besteira e colocava a culpa em Branca, que em sua defesa só conseguia chorar. Conforme a adolescência veio se aproximando, Branca foi ficando mais sensível, enquanto Flávio só piorava.

— Ó, obrigada, viu? Gosto de pôr no cabelo, assim olha — Colocou uma flor no próprio cabelo e outra no cabelo de Branca. — Pronto. Passe a usar assim também, ficou linda em você.

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