VIII

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O ano mal começou e dona Jô já tinha dores de cabeça. Flávio havia repetido de ano, em uma escola particular onde a mensalidade não era muito barato. Diana se prontificou a ajudar a pagar. Apesar de dona Jô ser extremamente contra, acabou por aceitar, já que seria um ano a mais pagando a mesma quantia. Ele ficou privado de tudo: sem futebol, sem videogame e sem computador. Dormiria sozinho porque, já que Branca não tinha nada a ver com isso, ela poderia usufruir livremente do videogame e do computador, que vieram para o meu quarto. Então ficamos dormindo eu e Diana em minha cama, e Branca no chão.

Como todos ficariam de férias, inclusive Diana, havia pedido aos meus superiores do trabalho para me darem as férias em janeiro também. Assim, poderia passar mais tempo com minha mãe e meus irmãos, e também passar mais tempo com minha amada.

Aproveitei o carro e o tempo livre para fazer alguns passeios com dona Jô e as crianças. Passeios esses que ela não teve oportunidade de fazer por tomar conta de todos nós o tempo todo. Diana nos acompanhava em todos, e era quase como se ela tivesse virado parte da família mesmo. Ajudava a cuidar de Fred, supervisionava os gêmeos, até de Azul ela ajudava a cuidar.

Tudo ía muito bem, até uma visita inesperada fazer Azul latir feito maluco, arrastando a pesada casa de madeira que tínhamos feito pra ele quando era filhote (agora mal cabia todo na casa, tendo que entrar e ficar numa posição só.). Era Jaqueline, procurando saber por que eu tinha sumido. Não esperava, estava deitado com Diana no sofá da sala, pedi a minha mãe que dissesse que não estava em casa, mas ela acabou ouvindo minha voz. Dona Jô, cinismo em pessoa, tratou Jaqueline como se nada houvesse acontecido.

— Ó, minha filha, quanto tempo! Você sumiu, o que houve?

— Pois é, Joana. — Ela não tratava minha mãe como se fosse mais velha do que ela, e isso sempre me incomodou. — Achei que Cadu tivesse te contado sobre o que aconteceu...

— Ah, é verdade, contou sim. E então, o que conta de novo?

— Não vai me convidar pra entrar, Joana? — A insolência dela me irritava, dava pra ouvir tudo da sala e só sentia Diana apertar meu braço a cada frase ríspida dita por Jaqueline.

— Er, bem... — Minha mãe olhou pra mim e eu fiz que sim com a cabeça. — ... Já que insiste, pode entrar...

Ela entrou com o nariz em pé, um ar soberbo e uma cara de quem se acha superior. Foi me cumprimentar com um beijo, recusei e apertei a mão dela.

— Bom dia, Jaqueline.

— Jaqueline? Hm, como se me chamasse assim. E você deve ser a Diana.

Minha Diana se mordia de raiva por dentro, dava pra ver nos olhos dela. Mas, educada como sempre, só ajeitou os óculos e apertou sua mão, sem conseguir esconder o incômodo.

— Sim, sou eu. Muito prazer, Jaqueline. Cadu me falou muito sobre você.

— Falou? Acredito que não falou tudo, não é, Cadu?

Na hora que falou meu nome, Jaqueline mudou o tom de voz pra um tom sedutor e fez uma expressão sedutora também. A impressão que tive era que Diana ia voar no pescoço dela, mas ela manteve a serenidade usual. Virei pra ela, ela só olhou pra mim e voltou os olhos pra Jaqueline, que usava uma saia extremamente curta e um decote enorme. Diana não parava de encarar Jaqueline, Jaqueline não parava de encarar Diana e eu ali no meio daquele fogo cruzado. Ficaram se encarando por um tempo, até que chega dona Jô de mãos dadas com Fred, que já esboçava algumas frases, só pra quebrar o gelo.

— Vem aqui, meu amor. — Diana pega ele no colo com muito carinho, e vê Jaqueline se morder de raiva, vendo que não era mais o centro das atenções.

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