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Chegando no casarão de Diana, eu vi os resquícios do acontecido: comprimidos no chão, um copo quebrado... Diana parecia não querer olhar praquilo e lembrar da cena, e ordenou:

— Vamos lá pra cima.

Entrando no quarto dela, um típico quarto adolescente. Uma estante com vários livros, abordando vários assuntos, parecia quase repousar ao lado de sua cama. Uma escrivaninha, com alguns papéis jogados, o computador e a impressora. Do outro lado da cama, seu armário enorme, com 4 portas e 4 gavetas. Basicamente era só isso, mas o chão do quarto imenso era tomado por muitos, inúmeros bichinhos de pelúcia.

— Eu vou tomar meu banho e você fica aqui.

Enquanto ela tomava banho, eu fiquei olhando pros ursinhos e pensei: "Caramba, nunca dei nada a ela. " Até minha irmã tinha dado uma flor plastificada, mas eu nunca havia dado um presente sequer. Será que ela fazia questão? Se sim, não demonstrava.

Fiquei pensando nisso por um tempo e ela sai do banheiro, enrolada em uma toalha e com outra na cabeça. Seu olhar de vergonha diz tudo: era pra eu esperar ela se arrumar lá na cozinha, já que a sala ainda estava tomada pelos comprimidos caídos.

Esperei por uns 20 minutos, até que ela desceu com uma mochila e uma roupinha de ficar em casa.

— Mudei de ideia. Será que sua mãe se importa se eu dormir na sua casa?

Claro que ela não iria se importar. Ela tinha pensado até que Diana iria ficar direto, depois do almoço.

— Mas e seu pai?

— Amanhã eu explico a ele o que aconteceu.

Deixei minha bicicleta acorrentada no hospital mesmo, e fomos para minha casa andando. Chegando lá, contei à dona Jô o que tinha acontecido, e ela concordou. Como não tinha espaço para todos, Diana dormiria no meu quarto, na minha cama, e eu dormiria no chão.

Antes de deitarmos para dormir, ficamos deitados um pouco na minha cama, brincando um com o outro. Entre brincadeiras e implicâncias, me veio à memória a casa de cachorro que vi na primeira vez em que fui na casa de Diana.

— Di? Tá acordada?

— Oi, tô sim, meu bem. O que houve?

— Eu lembrei de uma coisa... Eu vi uma casa de cachorro quando fui na sua casa, mas não vi nenhum cachorro. Pode me contar dele?

— Claro que sim. Na verdade não era "ele", e sim "ela". Botei o nome de Dolphin porque é golfinho em inglês e eu achei bonito. Ela era uma husky muito bonitinha. Eu ganhei quando fiz 3 anos, ela era filhotinha. Papai gostava muito dela, e, depois que minha mãe foi embora, eu passava os fins de tarde com ela no quintal. Quando eu tinha 15 anos, ela ficou doente, e mesmo com papai pagando o tratamento, ela não suportou e morreu... Deixamos a casinha no quintal e a enterramos embaixo dela, para que ela fique sempre protegida e que sempre nos proteja também. Entendeu?

— Entendi sim, amor. Desculpa fazer você tocar no assunto.

— Não, tudo bem. Me abraça.

O sono foi chegando e eu tive que descer para minha "caminha" preparada confortavelmente ao pé da cama. Dei um beijo de boa-noite em Diana, e fui deitar. Porém, no meio da madrugada, sinto um empurrãozinho nas minhas costas, um corpo se acomodando ao meu lado e braços me envolvendo suavemente, e uma respiração meio desengonçada, com soluços.

— Di, seu pai pediu pra que dormíssemos em lugares diferentes...

— Não consigo dormir. A cena dele caído no chão não sai da minha cabeça. Por favor, deixa eu dormir com você...

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