VII

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Diana acabou por ficar morando com a gente. Eu, ela e minha mãe conversamos com Dona Neusa, que tinha ficado com a guarda de Diana a pedido de seu Jaime, entramos num acordo e ela se mudou para lá. Não trouxemos nada superficial (como os inúmeros ursinhos de pelúcia do quarto dela), só as roupas, o material escolar, essas coisas.

Era uma nova rotina pra ela: Acordávamos juntos, ía com ela até a escola e pegava o ônibus no ponto que tem bem na frente da escola dela. Levei algumas semanas para comprar o tal carro que seu Jaime tinha deixado para mim indiretamente, mas quando o fiz, decidi não usar a quantia toda que ele deixou e dar uma parte pra dona Jô. Afinal, ela sempre foi guerreira e nunca recebeu nada em troca. Seu Jaime tinha deixado R$15000,00, comprei um usado qualquer de R$7500,00 e deixei o restante numa conta que abri pra ela, a qual ela podia tirar e depositar quantas vezes quisesse. Quando contei isso, ela quase chorou de novo.

Com o carro, tudo ficava mais fácil. Com o salário que ganhava, dava tranquilamente para pôr combustível (o carro raramente dava problemas, e quando dava, tínhamos um mecânico de confiança e, por ser amigo de dona Jô, dava uma abatida no preço) e ainda ajudar em casa.

O fim do ano se aproximava e começaram as arrumações para as festas. Dona Jô, com um pouco do dinheiro da conta que abri pra ela, comprou muitas coisas para a ceia de Natal, que todo ano fazíamos juntos, e agora com mais uma integrante: Diana.

Elas eram como mãe e filha. Minha mãe não podia fazer nada sozinha que Diana se oferecia para ajudar. Dava gosto de ver elas se dando bem, já que dona Jô sempre odiou Jaqueline e eu tinha medo dela não gostar de Diana também. Mas, como já disse algumas vezes, Diana é diferente.

Dia 23 de dezembro começaram os preparativos. Arrumamos a casa toda e enfeitamos, passamos o dia inteiro fazendo isso e fomos todos dormir cansados. Na véspera de Natal, dona Jô acordou todo mundo bem cedo para ajudar. Eu e Flávio, os únicos "homens" da casa, ficamos encarregados de arrumar as coisas para a ceia, enquanto Diana, minha mãe e Branca se dividiam entre cuidar da cozinha e de Fred, que já perambulava pela casa e tinha a péssima mania de brincar perto de Azul, que sentado tinha quase o tamanho dele em pé.

- Branca, cadê seu irmão?

- Ele tava aqui, mãe... FREDERICO!

- Ajul, mama, Ajul...

- Vem aqui, meu benzinho. - Diana o pega delicadamente no colo. - Depois a gente brinca com Azul, tá bom?

À tardinha, estávamos todos em casa e tudo estava pronto. Fomos nos arrumar, e foi uma briga para seis pessoas usarem somente um banheiro. Eu fui primeiro, logo depois Diana. Depois dona Jô e Fred, e os gêmeos ficaram brigando pra ver quem iria primeiro, até que dona Jô deu um grito só e Branca correu de medo pro banheiro. Flávio riu a noite toda por conta do susto que Branca levou.

Nunca fui de me arrumar muito formal, a não ser para ir trabalhar. Botei uma blusa larga e uma calça jeans, com um par de tênis. Diana estava linda (como sempre), apesar da simplicidade. Um vestidinho branco e uma sandália não muito alta fizeram dela a princesa da noite. Princesa, porque rainha mesmo era dona Jô. Estava com um vestido vermelho, um salto alto, algumas joias e uma maquiagem não muito chamativa. Desceu as escadas em espiral deslumbrante. Nem parecia ser mãe de 4 filhos. Flávio e Branca se vestiram como qualquer outro casal de gêmeos de 12 anos.

Como de costume, às 21:30, demos as graças e comemos. As meninas tinham preparado tudo com muito carinho: Frango assado, maionese, arroz, farofa... Eu e Flávio, particularmente, nos esforçamos para não nos sujarmos de comida, já que sempre fazíamos isso.

Uma garrafa de vinho era o bastante, já que somente eu e minha mãe iríamos beber. Diana me pediu um gole, pra que provasse, e eu dei. Sabia que um gole não iria embebedá-la.

À meia-noite, fomos ao quintal para desejarmos Feliz Natal a Azul, como sempre fazíamos, e voltamos nos cumprimentando. Abracei Diana, dei um beijo em sua testa e disse:

- Te amo, minha pequena. Feliz Natal e que seja o primeiro de muitos com você.

- Também te amo, meu bem. Só queria que Papai estivesse aqui, mas tudo bem. Meio que ganhei uma nova família, não é?

O que ela disse era verdade. Sua mãe havia a abandonado, seu pai havia falecido. Dona Neusa era como se fosse da família, mas não era a mesma coisa. A família que ela tinha era a nossa.

O período entre o Natal e o Ano Novo era aquele em que comemos as sobras do Natal. Dona Joana era esperta e não preparou tudo o que comprou, logo, não tinha que ir comprar tudo de novo. Supermercado nessa época é insuportável, muita confusão. Ela se safou de muita coisa.

Na véspera de Ano Novo, foi basicamente a mesma coisa. Enfeitamos a casa, dividimos as tarefas, nos arrumamos, comemos e saímos, dessa vez pra ver a mini queima de fogos que tem lá perto. Abracei Diana por trás, envolvendo os braços dela nos meus, e ficamos olhando pra cima, com aquela festa de cores no céu. Azul latia sem parar, parecia não suportar o barulho ensurdecedor dos rojões, ou estar maravilhado com as cores e ir dançar junto com elas no céu.

- Azul não para de latir. - Diana disse em meio a risadinhas. - Acho que ele quer que alguém o solte.

Mal falou isso, saiu correndo dos meus braços e soltou Azul. Ele pulava no ritmo do barulho dos fogos, e parecia bem feliz em, enfim, estar "livre". Pulava em mim, como se me desejasse um Feliz Ano Novo. Quando Azul finalmente desceu e foi brincar com as explosões no céu e latir pra elas, Diana veio correndo e me abraçou. Me abraçou apertado, e me deu um beijo bem demorado. Depois de me beijar, ela falou:

- Te amo, Cadu. Você é tudo o que eu precisava, preciso e vou precisar um dia. Feliz Ano Novo e que seja o primeiro "ano" entre muitos ao seu lado.

- Eu... eu não sei o que falar, Di... Te amo, meu bem.

Nos beijamos de novo ao som dos latidos de Azul.

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