Esperando um milagre

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Por Noah Cooper


A luz filtrava pela tenda, fraca, mas suficiente para revelar a poeira que dançava no ar. Alex estava encostado no canto, os olhos semicerrados em um descanso inquieto, enquanto Carter mexia em uma faixa que usávamos para cobrir os ferimentos. Eu olhava para a porta da tenda, como sempre fazia, tentando adivinhar o que aconteceria a seguir.

Foi quando ele entrou.

O garoto. Ele era nosso pequeno salvador desde o primeiro dia, trazendo água, comida e até bandagens, quando ninguém mais parecia se importar. Aquele moleque magricela, que falava um inglês rudimentar, era o motivo de ainda estarmos de pé.

Dessa vez, ele não estava com as mãos cheias de suprimentos. Segurava roupas – túnicas simples e claras, típicas daquela região. Seus olhos estavam ainda mais agitados do que o normal. Algo estava diferente.

— Rápido. Americanos usar isso. — Ele ordenou, sua voz saindo embolada, misturando árabe e inglês, como sempre fazia.

Levantei-me devagar, ignorando a dor persistente no corpo.

— O que está acontecendo, garoto? — perguntei, enquanto Alex e Carter me seguiam com olhares cautelosos.

— Rápido! — Ele insistiu, gesticulando com a mão, como se não tivéssemos tempo para perguntas. — Roupas... muçulmanas. Vocês... esconder.

Eu conhecia aquele tom. Era a mesma urgência que ele tinha quando nos avisou sobre as rondas noturnas dos guardas, quando salvou nossa pele pela primeira vez. Respirei fundo e fiz o que ele pediu, pegando a túnica e começando a vesti-la. Alex e Carter, ainda relutantes, fizeram o mesmo.

— Por quê? — insisti, enquanto puxava o tecido áspero sobre a cabeça.

Ele parou por um segundo, lutando com as palavras, a testa franzida.

— Vocês... ir embora. — Ele finalmente disse, como se cada sílaba fosse um esforço monumental.

Senti meu coração acelerar.

— O quê? — Alex interrompeu, encarando-o com olhos semicerrados. — Como assim, ir embora?

— Amigos... vir buscar. — Ele respondeu, a voz vacilante.

Aquilo foi o suficiente para me deixar paralisado. Amigos? Meus amigos? Não podia ser... Antes que eu pudesse pressioná-lo por mais detalhes, a aba da tenda foi levantada, e o velho que esteve na tenda entrou. Ele falou rápido em árabe com o garoto, a voz grave e urgente. Eu não entendia nada, mas a tensão no ar era palpável.

O garoto respondeu, os gestos nervosos, tentando explicar algo ao homem. O velho balançou a cabeça e saiu da tenda, mas não sem antes lançar um olhar para nós – um misto de cansaço e algo que parecia resignação. Quando ele se foi, o garoto voltou sua atenção para mim. Ele se aproximou, os olhos fixos nos meus.

— Vocês correr. — Ele disse, com a voz quase um sussurro. — Rápido.

— É verdade? — Minha voz saiu rouca. Eu precisava de mais. Precisava de uma confirmação, de algo mais sólido. — Eles... eles estão vindo?

Ele acenou com a cabeça, firme.

— Sim. Americanos. Vocês amigos.

Minhas pernas quase falharam, como se o peso de semanas naquele inferno estivesse prestes a me derrubar de uma vez. Alex respirou fundo ao meu lado, murmurando algo que parecia uma prece. Carter apenas fechou os olhos, balançando a cabeça. Eu queria acreditar. Por Deus, como eu queria acreditar. Mas a dúvida me corroía, misturada com a fagulha perigosa da esperança.

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