03-Doutora das Palavras.

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-A Drª Nora já está te aguardando no consultório dela - papai diz abrindo a porta do carro para que eu entre.

Do outro lado da rua, João acena para mim com um sorriso no rosto.

-Quem é o garoto? - meu pai arqueia as sobrancelhas desconfiado.

-Um amigo, - entro no carro - Se chama João, ele é brasileiro.

-Então não foi um primeiro dia de aula tão ruim - ele da os ombros - Fico feliz por isso.

-Eu diria que sim, se não tivesse conhecido Styles - penso alto.

-Quem é esse?

-Esquece - digo e o silêncio predomina no carro até chegarmos em casa.

Abro a porta de entrada encontro mamãe na cozinha fazendo o almoço.

-Como foi a aula na nova faculdade? - ela pergunta secando as mãos no avental que usa enquanto caminha em minha direção.

-Foi bom - digo e no mesmo instante me lembro de Styles me prensando no armário.

-Sua consulta é hoje - mamãe relembra.

-É, eu não esqueci - pego uma pêra da fruteira e dou uma mordida enquanto caminho para a sala.

-Então almoce para ir.

-Vou tomar um banho primeiro e depois venho devorar as panelas - Subo as escadas correndo e assim que chego ao meu quarto jogo meu casaco em cima da cama e me direciono para o banheiro.

Assim que termino o banho, visto a calça jeans , uma blusa qualquer e a jaqueta de couro vinho. Solto o cabelo, passo um batom nude e visto meu par de tênis.

-Será que eu poderia ir sozinha hoje? - pergunto enquanto meu pai lê o jornal.

-Temos um carro, eu posso muito bem te levar - ele diz concentrado na matéria de Esportes.

-Não faz nenhum sentido você ir sozinha Clhöe - mamãe balança a cabeça como tivesse escutado o maior absurdo - Até porque você não conhece Brighton direito, nem as pessoas - reviro os olhos dando uma garfada na comida.

-É impossível eu me perder aqui em Brighton - resmungo - Como você quer que eu conheça novas pessoas?

-Filha, eu só quero te proteger - ela retruca - Vai saber o que você pode encontrar pela rua?

Desde que fui diagnosticada com Onomatofobia, meus pais me veem como uma garota fraca, querem me deixar trancada dentro de casa, tem medo que eu saia na rua sozinha, acham que não sou mais capaz de enfrentar o mundo como fazia antes. E a única coisa que posso fazer é aceitar os fatos. Aceitar que fiquei doente, e que agora, não suporto ouvir uma palavra insignificante que destrói á quem a escuta - Ou pelo menos destrói a mim - Tenho que aceitar que sou uma jovem que tem medo do mundo, aceitar que sou indefesa, que sou frágil aceitar que sou diferente.

Eu deveria ficar feliz por ter vindo para Brighton. Um lugar novo para recomeçar. E eu odeio ter que me lembrar disso, das cicatrizes que me fizeram vir para cá, eu odeio ter que assumir que aquilo me fez fugir como uma verdadeira covarde, odeio ter que tentar esquecer disso, mesmo sabendo que nunca vou conseguir esquecer. E mesmo que eu esqueça, a onomatofobia vai sempre estar aqui para me fazer lembrar.

𝕺𝖓𝖔𝖒𝖆𝖙𝖔𝖋𝖔𝖇𝖎𝖆  ➼ʜᴀʀʀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora