14- Parente.

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Sou despertada com o barulho do despertador.

Em cima da cômoda como sempre, estão os remédios, mas acho melhor não toma-los, ao lado do copo de àgua tem um pequeno bilhete com a caligrafia de minha mãe.

"Hoje você tem uma consulta no psicólogo, marquei às 15:30"

Mas ainda são 09 da manhã.

Por que ela não veio me avisar como sempre faz? Será que ela quer me dar um tempo?

Desço as escadas e meus pais estão tomando café em silêncio. Eu me sento e meu pai sorri para mim, já minha mãe, dá um gole na xícara de café encarando o vaso de flores atrás de mim sobre o balcão.

Pego um cacho de uva verde e me concentro na parede branca, em seguida como um pão com geleia de amendoim e meu pai me olha surpreso por eu estar comendo pão ao invés de alguma fruta.

-Clhöe, seu tio Willian vai vir passar um tempo conosco - diz minha mãe com a voz distante e eu quase caio da cadeira.

- O tio Will?! - abro um enorme sorriso.

-Sim - ela diz indiferente.

Meu pai percebe meu entusiasmo e sorri vitorioso.

-Eu sabia que você se alegraria com essa notícia - ele aperta minha mão sob a mesa.

-Ele não devia vir - minha mãe resmunga desconfortável com o assunto.

-Mas ele é seu irmão querida - meu pai se vira pra ela.

-Estou fazendo isso por Clhöe - ela se levanta e entra em seu escritório levando consigo a xícara de café.

Eu e meu pai terminamos de tomar nosso café em silêncio, porém, não consegui conter minha animação.

A última vez que vi tio Will, foi quando ele ainda não tinha brigado feio com a minha mãe, porque depois disso, ele nunca mais apareceu na minha casa, logo, eu nunca mais o vi.

-Por que ela não quer ele aqui? - pergunto enquanto ajudo meu pai a limpar a mesa - Como a mamãe consegue ter raiva dele por tanto tempo? É o tio Will.

Ele solta um riso.

-Ele faz muita bagunça - meu pai diz aos risos - Ele ainda nem chegou e já estamos rindo dele e por mais que ele seja alguém legal, ele é diferente da sua mãe, ela não gosta que invadam o espaço dela. Sabe como Grace é né - Meu pai suspira.

-Gosto dele.

-Só por favor, não deixe ele tomar meu lugar - meu pai me dá um beijo na testa e eu o abraço - vai ser bom ter Willian de volta.

...

As horas parecem não passar nunca. Seguro o livro com firmeza, e percebo que li alguns capítulos sem absorver o significado das palavras. Resolvo guarda-lo para ler em outra hora. Meus pensamentos voam e a hora no relógio indica que devo me arrumar para ir a mais uma consulta com a Dra Nora.

Me preparo para entrar no banheiro, e então escuto uma gargalhada diferente no andar de baixo.

É ele!

Vou até a porta da escada e vejo algumas malas no meio da sala.

-Alex! Como você está... Grande! E você minha pequena escritora! Você continua tão pequena!

Ouço ele matando a saudade de meus pais e solto um leve riso vendo a cara de minha mãe quando tio Will a chama de pequena escritora.

-Ok, ok, Eu nem estava com tanta saudade assim - ele anda de um lado para o outro e abre a porta do escritório de minha mãe - quero vê-la, cadê ela? Cadê a minha garota? - sinto meu rosto queimar de vergonha - ela está lá em cima? - ele olha para a escada e me vê - É... ela? Essa é Clhöe? - assinto enquanto ele tampa a boca impressionado - Meu Deus pequena! Como você cresceu! - ele sobe as escadas correndo - Ah eu estava morreeeendo de saudade de você! - ele me abraça me erguendo no ar e percebe meu desconforto, então me solta e sorri educadamente - A Senhorita está encantadora se me permite dizer - ele beija minha mão - Ou se preferir, continua deslumbrante doce Clhöe. Pelo visto, eu esqueci de olhar no calendário, você está muito crescida o tempo passou rápido - ele passa a mão em meu rosto e eu sorrio - Está a cara da sua mãe. Ou melhor está a minha cara - sorrio tímida - Viu como você sorri como eu?

𝕺𝖓𝖔𝖒𝖆𝖙𝖔𝖋𝖔𝖇𝖎𝖆  ➼ʜᴀʀʀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora