Capítulo 1

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- Como está se sentindo? -Pergunta Joseph Lors.

- Bem, mas o pesadelo continua. -Respondo ao meu terapeuta enquanto sento no sofá.

- Alguma novidade nele? -Pergunta curioso.

- Não, o de sempre. Estou correndo de algo ou alguém, mas quando tento olhar para trás para ver, eu acordo. Quando isso vai parar? -Pergunto irritada pela dor de cabeça que esse pesadelo me causava.

- Angel, ele vai permanecer até que compreenda que ele é um sonho comum. -Joseph tenta me explicar.

- Mas não parece um sonho comum! -Me irrito. - Quando estou correndo, estou tão rápida que pareço estar em um tipo de moto, mas sinto meus pés batendo contra o chão, então sei que estou correndo.

- Angel, vamos ter que fazer o PRM hoje. Você tem que se lembrar quem você é, e tudo o que passou para chegar onde está. -Disse Joseph calmamente.

Programa de relembração mensal não! -Reclama meu subconsciente e quase o ouço bufar.

- Sério? Não vamos parar com isso? -Pergunto o olhando.

- Vamos começar? Do início por favor. -Disse Joseph ignorando minha pergunta e meu olhar.

Às vezes ele consegue me irritar de verdade!

- Meu nome é Angel. -Digo revirando os olhos.

- Seu sobrenome? -Ele pergunta apesar de saber todas as respostas.

- Não sei, fui deixada recém nascida na porta do Orphelinat Béatrice Rollins, aqui mesmo em Paris, com uma carta em inglês que pedia para não mudarem meu nome, se desculpava por não dar mais informações, mas pedia que cuidassem de mim. -Conto já com o choro engasgado na garganta.

- Tinha algo a mais no final dessa carta, não é? -Pergunta Joseph, mesmo sabendo que eu estava prestes a chorar.

- Uma mensagem de meus pais dizendo que me amavam demais, mas não tinham escolha, pois os dois estavam com uma doença fatal, e que um dia eu descobriria a história deles e os entenderia melhor. -Digo e sinto lágrimas ofuscarem minha vista.

- Prossiga. -Pede Joseph.

- Nunca pude ser adotada pois não tinham ao menos informações sobre minha nacionalidade, mas a dona do orfanato me criou lá mesmo. No meu primeiro ano no colégio conheci Antony Possani, que tinha se mudado com sua família da Itália para cá, daquela época até hoje ele é meu melhor amigo e o único em quem confio, além da família dele, que também sabe alguns de meus segredos. -Prossigo sentindo várias lágrimas escorrem pelas minhas bochechas.

- O que houve nos seus dezesseis anos? -Perguntou Joseph me entregando um lenço que uso para secar algumas de minhas lágrimas.

- Atingi a idade máxima permitida no orfanato. Arranjei um emprego com muita dificuldade, e com o salário pagava o aluguel de um apartamento que só tinha sala, cozinha e banheiro. Assim eu estudava pela manhã e trabalhava tarde e noite no café "Café & Sucré".

- E quando se tornou maior de idade? -Joseph pergunta prestando atenção às minhas reações.

- Passei para a "Université Paris Diderot - Paris 7", onde estou estudando medicina até hoje, essa mesma universidade me arrumou um estágio, com o salário dele mais o salário do café, que trabalho até hoje, consegui comprar uma casa, não muito grande, mas ao menos não pago aluguel. E a três meses comprei meu primeiro carro, usado, mas ainda é meu. -Digo sorrindo limpando as lágrimas.

- Muito bem. Vamos fazer o seguinte? Que tal domingo que vem você tentar trazer esse tal de Antony aqui? Assim posso rever sua história por outro ponto de vista. -Joseph diz sorrindo para mim. - Nosso tempo acabou. Não esqueça, são só sonhos comuns!

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