Capítulo 2

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Chego em casa pronta para ouvir o sermão de minha mãe sobre a minha demora para chegar em casa e que eu não faço questão de atender suas ligações.

Vou até a entrada da cozinha e escuto a voz de meu primo Fred no andar de cima:

“Tia, a Alice tem que começar seus treinamentos com urgência!” - falava num tom de preocupação.

“Alice tem que focar em sua vida aqui em Clareon! Gloryan fica para depois…” - o tom de voz de minha mãe é severo.

Subo as escadas de madeira, seguindo suas vozes em discussão. Encosto no batente da porta do quarto de minha mãe observando os dois, minha mãe organizando as roupas em seu armário e Fred jogado em sua cama, apoiado em seu braço que reagiu ao me ver:

“Prima, querida! O que acha de começarmos seu treinamento?” - pergunta com um sorriso de orelha a orelha.

“Treinamento para quê?" - pergunto sem entender a situação.

“Controlar seus poderes.” - responde, ainda com seu enorme sorriso.

“Não vejo porquê não…” - falo olhando para minha mãe à espera de que falasse algo.

“Onde a mocinha estava?” - muda de assunto.

“Mãe!!”

Ela sorri e deixa o quarto, ficando apenas eu e meu primo. Ele me lança um olhar e conhecendo ele bem, tenho certeza de que está planejando algo.

***

Após o jantar minha mãe foi colocar Samuel, meu irmão, para dormir. Segui o exemplo, subi indo direto para o banheiro, escovei meus dentes e fiz um coque na minha juba de leão. Logo, fui para meu quarto, me deitando em minha cama macia e me afundando debaixo das cobertas.

"Lydia pediu passar uns dias aqui em casa." - minha mãe diz entrando vagarosamente em meu quarto.

"Sério? Por que? Quando?" - pergunto já ansiosa.

“Ela disse está com saudades de você e como ela está de férias, perguntou se podia vir para cá!” - explica -  “Se der tudo certo, amanhã quando você chegar em casa ela já estará aqui." - avisa me dando um beijo na testa e saindo do quarto.

Lydia é minha melhor amiga desde o dia que eu caí da escada, chorei, minhas chamas saíram do controle e eu - acidentalmente - incendiei meu próprio cabelo. Ela estava lá... Rindo da minha situação. Sim, essa é uma história bastante bizarra.

Apesar de sermos muito diferentes uma da outra, nos entendemos melhor do que ninguém. Estou feliz por poder vê-la depois de tanto tempo longe de Gloryan.

A distância nunca foi um empecilho para nossa amizade. Vez ou outra trocávamos cartas contando sobre como a vida era entediante quando não estávamos juntas.

Eu realmente estou ansiosa para vê-la  novamente.

***

Passo pelo portão de entrada da escola e vou direto para meu armário pegar meus livros e materiais das aulas de hoje.

"Eu acho que o destino está aprontando alguma para nós dois!" - o loiro de olhos acinzentados passa por mim abrindo o armário ao lado do meu.

Tá de brincadeira...

Termino de pegar minhas coisas e fecho meu armário violentamente, fazendo com que o menino arregalasse os olhos assustado.

Me sento no mesmo banco do dia anterior, esperando o sinal ecoar pelos corredores de armários.

Fecho meus olhos para prestar atenção na letra da música que tocava em meus fones de ouvido, mas sou interrompida pela sensação de ter alguém muito próximo de mim.

Abro meus olhos rapidamente e o rosto do garoto mais inconveniente do mundo está tão perto do meu que posso sentir sua respiração quente bater em meu rosto.

"Por que você não fala comigo?" - questiona se sentando ao meu lado.

Pego minha mochila, revirando os olhos e começo a me distanciar do garoto.

Eu definitivamente não preciso de um amigo, ainda por cima um Escrulo.

"Você deveria ser muito grata à mim!" - o loiro segura meu pulso me girando e me fazendo olhar para ele - "Se não fosse por mim, você teria passado a maior vergonha da sua vida naquele banheiro sujo de hospital!" - seu tom de voz estava diferente do comum, ele não estava irritado, parecia mais chateado.

"O quê?" - pergunto confusa. Como ele sabe do hospital?

Percebendo minha expressão de confusão, ele respira fundo e suspira afundando seu rosto em suas mãos.

"Você é tão desligada assim? Fui eu quem encontrou você no banheiro há dois dias atrás!" - ele começa a balançar sua cabeça em negação.

Sinceramente, a situação foi tão constrangedora que nem eu prestei atenção na pessoa, apenas nos seus cabelos loiros, que por sinal estava um pouco maior do que atualmente.

"OK. Muito obrigada pela ajuda! Agora, tchau!" - aceno com minha mão e vou em direção à minha aula de T.I., deixando-o sozinho no corredor.

Não tive nenhuma aula junto com a turma dele, o que foi ótimo pois consegui prestar atenção e aprender mais do que ontem.

No término das aulas fôra anunciado algumas mudanças nas turmas porquê diabos eu não sei. Conferi a lista nova e vejo que permaneci no mesmo lugar de sempre. Logo corri para casa com minha ansiedade em rever minha amiga.

***

Passo pelo jardim de minha casa e um silêncio incomum começa a me preocupar. Busco minhas chaves dentro de minha mochila, finalmente a achando e abrindo a porta branca de madeira.

"Cheguei!" - grito fazendo um pequeno eco pela casa. O silêncio foi minha resposta.

Vou para meu quarto e estranho ao ver que a porta está entreaberta. Estranho mais ainda ao ouvir um "Shh" vindo de lá de dentro.

Empurro a porta entrando no meu mundo azul, mais conhecido como meu quarto, e meu coração quase sai pela boca quando Lydia pula na minha frente gritando algo que não fui capaz de entender.

A garota de cabelos coloridos e com sua estatura maior que a minha me envolveu em seus braços, enchendo meu rosto de beijos.

"Que saudade!" - ela diz em meio ao abraço apertado.

"É mesmo." - digo abrindo um sorriso de felicidade. Mas ele logo se apagou após ouvir a voz da última pessoa que eu queria ver na minha vida:

"Eu não vou receber um abraço da minha anã favorita?" - questiona, caindo então num ataque - descontrolado - de risos.

Alice, a feiticeira #1 ::RE::Onde histórias criam vida. Descubra agora