Capítulo 10

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Quando determino algo que preciso em minha mente, nada faz com que eu desista disso. E eu, estou determinada a encontrar quem quer que tenha pego meu colar.

Vasculhei por todos os cantos de minha casa em busca do Colar de Peregron, terra natal de meu pai, uma das muitas jóias mais veneradas em Gloryan e a única coisa que fazia me sentir ligada à ele. Uma pequena herança deixada para sua primogênita.

Sinto como se uma parte de mim tivesse sido arrancada de meu peito deixando uma ferida profunda e dolorida. E quem quer que seja que pegou meu colar só estava interessado na bijuteria pois, nada mais foi furtado.

Preciso começar uma pequena investigação em busca da pessoa que ousou mexer com a única coisa que ninguém tinha o direito de mexer.

O fim de semana não servirá para descansar a mente, pelo visto.

***

Minha primeira suspeita é que Christian possa ser um prisioneiro da dimensão de Freyn. Um colecionador de jóias históricas e que foram muito fundamentais para a formação das oito dimensões existentes.

Certo. Eu viajei um pouco em relação a essa acusação mas, não duvido de que eu possa estar certa.

Eu não faço ideia do porquê estar fazendo o caminho para a escola em pleno sábado.

Na minha cabeça, pegar a ficha com todos os dados de meu suspeito e sua família é o passo certo para se iniciar uma boa investigação.

Mas alguma coisa dentro de mim - acho que minha consciência - diz o contrário.

Como previsto os enormes portões da entrada da escola estavam bem fechados. O fato de não haver nenhum segurança ou algo do tipo me faz ter um pouco de otimismo no quesito "Entrar na escola".

Dou uma volta pela edificação em busca de uma entrada como, por exemplo, uma porta dos fundos ou uma entrada para funcionários da manutenção e limpeza da escola.

Por mais que eu tente, meus poderes não querem cooperar comigo me dando uma sensação de impotência e me fazendo chegar a um nível semelhante à um Escrulo.

Sinto calafrios só de pensar nessa pequena comparação feita por mim mesma.

Encontro uma espécie de entrada de funcionários que por algum motivo está entreaberta. Adentro a escola andando vagarosamente pelo enorme corredor repleto de armários.

No fim do corredor escuto alguns estalos vindos do ginásio. Os ignoro, indo na direção oposta, subindo as escadas seguindo algumas placas informativas que levavam até a sala da secretaria escolar.

No momento que coloco minha mão na maçaneta da porta, ouço passos pesados começarem a subir as escadas. Entro rapidamente, prendendo a respiração enquanto escuto os passos se aproximarem e seguidamente sumirem no corredor.

Minha vista panorâmica me faz notar as várias prateleiras com diversas pastas de cores variadas no fundo da enorme sala.

Corro até as prateleiras me perdendo nos muitos números que cada pasta indica em sua lateral. Minha atenção é voltada à porta após ouvir um certo click.

Me aproximo e suspiro sem o mínimo de paciência ao perceber que a mesma fora trancada. Dou algumas batidas na porta gritando um "Hey!" entre uma batida ou outra.

Mexo - freneticamente - na maçaneta com a esperança de que meus poderes me ajudassem pelo menos uma vez na vida e realizasse um feitiço simples para abrir essa porta e me tirar desse lugar.

Busco meu celular nos bolsos da minha calça jeans preta onde era para ele estar mas não o encontro.

Engraçado como meu celular nunca está comigo em diversas situações que preciso dele...

"Ei! Tem gente aqui!" - grito para quem quer que tivesse trancado a porta.

Como esperado, não houve resposta. Apenas ouço minhas batidas ecoarem pelo corredor vazio.

Encosto minhas costas na porta, deslizando meu corpo até cair sentada no chão. Puxo minhas pernas, me encolhendo e escondendo meu rosto.

Prendo a respiração e começo a contar os segundos mentalmente. Se eu estiver morrendo por falta de ar, com certeza, as chamas selvagens aprisionadas dentro de mim despertarão e trarão um pouco de força e poder para mim.

Eu só preciso - quase - morrer.

"Para com isso!" - um garoto grita puxando minhas pernas fazendo meu corpo deitar completamente no chão.

"A-I!" - sinto o ar entrar por minhas narinas novamente e uma sensação de alívio toma conta de meu corpo.

Olho para frente para ver quem é o responsável por acabar com minha tentativa de quase suicídio. Um garoto com a pele pálida e bochechas rosadas, creio que é por conta do frio, cabelos negros que faziam seus olhos verdes se destacarem e isso fez com que eu me lembrasse do garoto de ontem.

"Se você pensa que eu deixarei você se matar e me enfraquecer, está muito enganada!" - o menino alerta.

"O quê?" - arrumo minha posição ficando menos desconfortável.

"Se você morrer, você me enfraquece!" - conta.

"O que minha morte tem a ver com você enfraquecer?" - indago confusa pela situação.

"Digamos que pessoas amaldiçoadas possuem uma certa ligação vital com certos 'demônios'." - tenta explicar - "Eu sou seu demônio." - ele sorri.

Primeiro: eu não sabia que demônios podiam se tornar pessoas bonitas e segundo: eu nunca li algo sobre nada disso.

"Amaldiçoada? Eu?!" - dou uma risada nervosa - "Nome! Eu quero saber seu nome!" - mudo de assunto repentinamente.

"Oh! Não me apresentei corretamente!" - diz surpreso - "Oi Alice, sou Isaac, seu monstro!" - ele faz uma pequena reverência e estende sua mão mas não a pego.

"Como você tem certeza de que sou sua pessoa amaldiçoada?" - questiono.

Ele mostra uma mancha marrom com um formato disforme na palma de sua mão direita, idêntica a marca de nascença que possuo no mesmo local.

Ele puxa minha mão direita unindo com a sua e sinto um formigamento seguido de uma queimação no ponto da mancha.

Puxo minha mão rapidamente, a esfregando para aliviar a queimação.

"OK. Isso foi estranho!" - encaro o garoto que só assente - "Mas o quê você quer de mim? Foi você que me trancou aqui? Porque eu não sabia da sua existência?" - o encho de perguntas.

"Muitas perguntas para pouco Isaac." - diz tentando ser engraçado - "Certo mal-humorada, digamos que eu te conheço de umas histórias que minha mãe me contou..." - conta.

"Não sabia que demônios tinham pais!" - comento.

"Eu não sou exatamente um demônio. Sou filho de uma bruxa, o que me torna um monstro para vocês de Gloryan." - ele revira os olhos - "A questão é que eu preciso fazer algumas coisas que têm relação com seu pai." - conta.

"Sabe quem é meu pai?" - pergunto meio duvidosa.

"Sei, o conheci quando criança! Ele era um dos cinco guardiões de Gloryan." - percebo um sorriso querendo soltar de seu rosto sério e perturbador - "O que eu realmente queria hoje era testar a capacidade da menina mais venerada em Gloryan mas ao que me parece ela não tem controle de seus próprios poderes." - ele começa a andar pela sala.

"É um probleminha de falta de concentração." - explico.

Ele ia me sugerir algo quando ouço alguém começar a mexer na maçaneta da sala e chamar pelo meu nome. Isaac some nas sombras, deixando apenas um papel e meu celular de volta.

A porta se abriu e vi um Daniel sério e assustador.

Alice, a feiticeira #1 ::RE::Onde histórias criam vida. Descubra agora