"Como soube que eu estava aqui? Você estava me seguindo? Por quê?" - encho-o com meus questionamentos que rondavam minha mente, enquanto Daniel me arrasta pelo corredor sem dizer palavra alguma - "Porque você não me responde?"
Paro de andar fazendo com que ele parasse sua caminhada, girando seu corpo em 180° ficando de frente para mim.
"Sua voz..." - começa.
"O que tem minha voz?" - faço gestos para que ele prossiga.
"Ela é irritante!" - diz fortemente me dando um leve susto.
"E isso é motivo suficiente para não responder às minhas perguntas?" - indago.
"Ok... Andei te seguindo sim, feliz?!" - confessa. Sua atenção é dada totalmente à seus tênis azuis marinho e vejo que ele aperta sua própria mão em sinal de nervosismo.
"Por quê?" - estalo os dedos chamando sua atenção de volta para nossa conversa.
"Vi aquele bilhete em cima da sua cômoda e como achei a letra familiar resolvi te seguir pois, te conhecendo bem, tive certeza de que ficaria incomodada e sairia para procurar por quem escreveu isso." - explica - "Queria tirar minhas dúvidas..." - seu olhar aparenta estar perdido em um vazio qualquer.
Um silêncio incômodo se forma entre nós e o corredor vazio fez com que a tensão aumentasse. Eu não sei o que dizer ou, se sei, não consigo fazer com que as palavras saiam.
"Ele está aqui... Ele voltou... N-não pode ser!" - Dani sussurra para ele mesmo - "ISAAC, SAI DA MINHA MENTE!" - grita colocando suas mãos sobre sua cabeça.
"Você conhece Isaac?" - pergunto curiosa mas vendo a situação de Dani começo a me arrepender de ter feito tal pergunta - "Vamos pra casa." - guio Daniel em direção a saída, o mesmo ainda em estado de choque.
"Me prometa que vai manter distância dele..." - ele pede.
"T-tudo bem..." - digo sem convicção enquanto andávamos lentamente rumo à minha casa.***
Assim que entramos em casa somos recepcionados por Lydia que acabara de preparar biscoitos para lancharmos.
Ao contrário de mim que fui diretamente para a mesa apenas me importando em comer, Daniel passou direto indo para o banheiro e se trancando lá.
Ly me lança um olhar de "o que você fez?" e logo suspira passando a mão em seus cabelos coloridos.
"Dan... O que houve?" - Lydia bate na porta do banheiro repetidas vezes até que escutamos um "me deixe sozinho" ser pronunciado por uma voz entristecida - "Você vai me dizer o que aconteceu mocinha..." - ela diz apontando pra mim.
"Você tá parecendo minha mãe desse jeito!" - eu começo a rir mas ela não faz o mesmo - "Tá. Antes de te contar o que aconteceu, eu preciso saber... Qual a relação entre Dani e um tal de Isaac?" - pergunto mas não creio que terá alguma relevância.
Ela arqueia suas sobrancelhas surpresa com minha pergunta.
"Você conhece Isaac Monroe?" - pergunta como se eu não devesse conhecê-lo.
"Mais ou menos... É difícil explicar!" - na verdade não é não, apenas estou cansada demais para pensar em como colocar os fatos ocorridos mais cedo em forma de uma explicação simples.
"Isaac foi e ainda é o primeiro amor de Dani..." - conta um pouco constrangida - "Ele e sua mãe moravam em Gloryan porém, eles viviam totalmente contra as leis, então, a família Monroe não eram considerados cidadãos de Gloryan, portanto eles não tinham os mesmos direitos que um cidadão comum." - conta.
"Mas, como eles conseguiam viver lá sendo que não andavam segundo as leis?" - pergunto ainda confusa.
"Eles tinham alguma coisa relacionada ao Terceiro Guardião... Por isso eles tinham uma permissão de morar em Gloryan até que Isaac completasse 13 anos." - explica se sentando na cadeira ficando de frente para mim."Nossa!" - começo a ficar mais curiosa sobre o tal Isaac - "Mas me conta mais! Digo, a relação dos dois... Como era?" - faço uma cara de pidona.
"Isaac era muito rude com Dani. Mesmo virando amigos, ele não media suas palavras, muitas vezes magoando Daniel." - ela se força a terminar o assunto quando o garoto de cabelos encaracolados sai - finalmente - do lavabo com os olhos vermelhos.
"Vocês não sabem de nada!" - declara raivosamente em nossa direção - "Não toquem mais nesse assunto. Por favor..." - ele respira fundo tentando manter controle de seus nervos.
Em poucos segundos, Lydia e eu nos olhamos e logo em seguida balançamos a cabeça positivamente, afirmando que pararíamos a conversa. Apesar de querer saber mais sobre a relação de Daniel e Isaac.
Ele se senta ao meu lado e noto que suas mãos estão trêmulas de nervosismo quando o mesmo leva um biscoito até sua boca, mordendo com um pouco de dificuldade.
"Dramático" - penso alto, em seguida recebendo um olhar fuzilante em minha direção. Eu até posso sentir minha cabeça ser perfurada pelos olhos de meu amigo.
***
"O quê está fazendo vestindo o uniforme de minha escola?!" - questiono Daniel que me perguntara se a roupa havia ficado legal nele.
"Eu estava curioso em saber como é frequentar uma escola 'normal' e como minha amiguinha aqui..." - aponta o indicador em meu rosto - "...não me conta como é, pedi para que sua mãe me ajudasse a entrar no colégio que tu estuda!" - seu sorriso vai de orelha a orelha enquanto ele faz uma dança totalmente estranha em comemoração.
Reviro os olhos e me sento na poltrona, ainda desacreditando na ideia de passar meu dia todo aturando o Dani sensível.
"Você é maluco!" - foi tudo o que consegui dizer. Recebo um "Concordo plenamente com o leão ali" de Lydia que estava atenta a suas unhas.
Pego minha mochila jogando-a no ombro e Daniel imita minha ação, me provocando, é claro!
O caminho até a escola se resume em meu amigo fazendo várias perguntas como aquelas crianças que estão indo a primeira vez pro jardim de infância e eu apenas respondia "sim", "não" e "quem sabe?" causando leves tons de indignação dele.
Muitas vezes, minha curiosidade teimava em querer saber sobre o passado de Dani, mas mordia minha língua sempre que podia para não estragar o clima florido do garoto mais irritante de todas as oito dimensões.
"Bem-vindo ao Colégio de Escrulos!" - brinco apontando para o portão da escola - "Espero que seja a melhor experiência de suas férias escolar de Gloryan..." - como uma pessoa que está de férias em um lugar, resolve estudar em outro? E como minha mãe conseguiu matriculá-lo? Ele nem mora aqui!
"Er... Acho que não será tão legal como eu pensava!" - seu tom de voz passa de animado para sério em uma fração de segundos - "Estou começando a me arrepender... O que aquele garoto está fazendo aqui?" - ele aponta para um garoto, com o mesmo uniforme que o nosso, que virava a esquina vindo em nossa direção.
"Conhece ele?" - pergunto tentando identificar seu rosto. Tenho certeza que já o vi em algum lugar...
Alice, ele estuda na mesma escola que você. É óbvio que você já deve tê-lo visto.
"Eu queria poder não conhecer." - ele encara a figura que se aproxima cada vez mais de nós - "Nós, infelizmente, não nos esquecemos de nosso primeiro amor!" - ele revira os olhos.
"P...Primeiro amor?" - encaro o garoto mais uma vez e - finalmente - reconheço-o.
Isaac.
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Alice, a feiticeira #1 ::RE::
FantasyAlice é uma jovem feiticeira de 16 anos que pretende se tornar poderosa e salvar o mundo. Mas para que isso ocorra ela terá que enfrentar desafios da adolescência e de todas as 8 dimensões.