Capítulo 22

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Me senti um pouco incomodada andando ao lado de Christian sem falar nada.

Ele me pediu para irmos caminhar em silêncio para ele poder focar em alguma coisa que não seja a vida dele.

Ele me contou sobre o suicídio de sua mãe e confesso que isso me deixou perturbada.

Acabamos andando até a rua de sua casa antiga, já que ele foi morar com seus avós. Ele pega um molho de chaves do bolso de sua calça e foi até a porta para abri-la.

"Eu preciso pegar algumas coisas. Se quiser ir embora, fique à vontade." - ele quebra o silêncio matador.

"Sem problemas." - entro logo atrás dele fechando a porta.

O lugar está diferente da última vez que estive aqui. As fotos que estavam penduradas pelas paredes do corredor já não estão mais em seus lugares. Aparentemente, foram guardadas em caixas, assim como todos os objetos que decoravam os cômodos.

"Esse lugar se tornou deprimente." - Christian comenta abrindo uma caixa sobre o balcão que separa a cozinha da sala de jantar.

"Você vai se mudar para onde?" - a pergunta simplesmente sai de minha boca.

Ele aponta para a mesa que está atrás de mim. Olho para a mesma, encontrando um pedaço de papel com uma caligrafia perfeitamente cursiva.

Christian, é sua tia Mia, vim até aqui ver como você está, mas nos desencontramos infelizmente. Como você sabe, sua avó ainda está doente e o estado dela está pior pela notícia sobre sua mãe. Por motivos burocráticos, você terá que vir morar comigo por um tempo. Adiei meu casamento, por isso pode vir sem problemas, adoro sua companhia!

Beijinhos, te amo e tem comida na geladeira.

Assim que termino de ler a carta, olho para o garoto parado na beira do balcão lendo alguns papéis.

Incrível como a vida dele virou de cabeça para baixo e mesmo assim ele consegue lidar tão facilmente. Eu estaria chorando até agora.

"Eu sin..." - sou interrompida por um som estrondoso de toque de celular.

"Não fala isso. Por favor!" - ele retira seu celular do bolso da sua jaqueta e logo atende.

Volto minha atenção aos detalhes da casa. A sala onde costumava ter diversos quadros pintados já fora esvaziada e isso fez com que eu sentisse um aperto em meu peito.

Parece que todo detalhe que indicava que existia vida nesse lugar foi apagado de uma forma rápida e trágica. E eu não sei como fazer para ajudar Christian nesse momento.

"Alice," - me assusta ouvi-lo me chamar assim - "minha tia vem me buscar daqui a pouco... Você precisa ir, tenho que terminar de pegar os arquivos do meu pai para dar uma estudada." - fala sem olhar para mim, mantendo sua atenção aos papéis.

"Tudo bem. Me manda uma mensagem mais tarde!" - arrumo minha bolsa em meu ombro e começo a caminhar até a porta da frente.

Antes que eu pudesse alcançar a maçaneta da porta, Christian vira meu corpo me fazendo ficar de frente para ele.

Ele me envolve em um abraço inesperado e um tanto desajeitado. Ficamos assim por um bom tempo até eu sentir suas lágrimas escorrerem até meu braço.

Não demorou muito para ele começar a soluçar e falar algumas coisas que, no momento, não fazem sentido.

Ele separa nossos corpos bruscamente pedindo milhões de desculpas pela ação repentina.

"Você pode contar comigo... Sempre!" - aviso antes de decidir ir embora.

***

O caminho de volta para minha casa foi cheio de arrependimentos em relação à situação que estava com Christian.

Eu podia ter feito tantas coisas para ele se sentir melhor... mas apenas fiquei o olhando com o olhar que provavelmente todos o olharam nesses últimos dias e olharão nos próximos dias também.

Eu tive vontade de chorar.

Lembrei de meu pai e de como foi difícil para mim na época. Ele era conhecido por todos por ser um dos Grandes Guardiões e eu como a filha que ele se gabava para todos.

As pessoas me paravam em todos os lugares para me darem palavras de consolo na última vez que estive em Gloryan e eu sempre chorava em público. Alguns até diziam que eu só queria atenção mas na verdade, eu só precisava de um abraço naquela hora e ninguém o fez.

Eu estava farta de palavras, precisava de atitudes.

Logo estava em casa e só percebi que falavam comigo quando Lydia segurou meus ombros e me sacudiu.

"Você sabe onde o Dan se meteu?" - ela pergunta lentamente - "Ele passou o dia todo fora e não atende minhas ligações... Estou preocupada!" - ela olha para minha mãe que estava ao telefone, aparentemente, falando com os pais dele.

"O que aconteceu?" - me sento na cadeira encarando as duas que andavam de um lado para o outro na cozinha.

De repente eu senti uma dor forte no peito. Abaixei minha cabeça sobre a mesa e tentei me concentrar em outras coisas além do incomodo que doía cada vez mais.

"Me responde, Alice!!" - Lydia grita comigo desesperada pela situação.

"Se acalma!" - peço com medo dela resolver me atacar - "Eu não sei... Talvez ele tenha encontrado algo de interessante para fazer aqui em Clareon..." - respondo ainda com a cabeça baixa.

Começo a escutar um zumbido em meu ouvido e tudo em minha cabeça parece girar.

"Ele está com um amigo..." - ouço minha mãe inventando algumas desculpas para a família de Daniel que aparenta estar seriamente preocupada com o garoto

Eu sinto que minha cabeça irá explodir à qualquer momento e isso seria uma cena terrível e traumatizante para meu irmão caçula que agora está sentado comigo na mesa com um olhar tristonho.

"Vou me deitar, não estou me sentindo muito bem..." - aviso mesmo sabendo que ninguém estava me escutando por eu estar literalmente sussurrando as palavras.

Subo as escadas cambaleante sem me apoiar no corrimão por ele parecer tão distante de mim.

Em questão de segundos já estava sentada em minha cama encarando o espelho de meu guarda-roupa e eu posso jurar que eu pude ver a silhueta de alguém passando rapidamente por trás de mim.

"Você só está cansada, Alice." - falo para mim mesma tentando me convencer do mesmo.

Entro debaixo do amontoado de cobertas sobre minha cama, rapidamente me senti sonolenta e em instantes meus olhos se fecharam e eu, finalmente, dormi.

E dessa vez, no dia seguinte, me lembrei de meu sonho.

***

Me lembro de estar em frente à um galpão enorme e de escutar gritos angustiantes vindo de dentro do local.

Haviam dois caminhões estacionados em frente e um segurança no portão principal.

Eu não sabia o que estava acontecendo, pois não tinha nada de errado por ali. Apenas os gritos de alguém pedindo por ajuda.

"Eu... Preciso... De... Ajuda..." - me surpreendo com a voz fraca de Isaac sussurrando em meu ouvido.

"Onde você está?" - questiono, me virando para todas as direções procurando-o.

"Aqui." - de repente uma janela no segundo andar estilhaça voando cacos de diversos tamanhos para todos os lados.

***

E foi assim que eu acordei assustada e suando frio na manhã seguinte.

***

Eu não revisei, então me desculpem e a demora... Me perdoem e não desistam de mim! ⭐

Alice, a feiticeira #1 ::RE::Onde histórias criam vida. Descubra agora