Alice, a feiticeira #1 ::RE::

Capítulo 24

Isaac (pt. 2)

"É para isso que servem os amigos!" - eu quis sorrir para ele.

Fico feliz por conseguirem me encontrar. Mais feliz ainda por ser Daniel e não outra pessoa.

Eu o magoei tanto.

Me lembro de sermos inseparáveis e isso, de alguma forma, causava alguns olhares e comentários maldosos sobre nós.

"Olha lá o filho de um Grande Guardião com seu namorado plebeu!" - alguns garotos gritavam para nós quase todos os dias.

"Não é a toa que seu pai o abandonou... Foi puro desgosto!" - outros comentavam.

Éramos empurrados e até trancaram nós dois em uma sala escura e pediram para fazermos o que quiséssemos. Daniel chorou descontroladamente e tudo o que fiz foi guardar todas essas coisas como ira dentro de mim.

Então eu decidi sair da vida dele. Ele estava sofrendo por ser meu amigo e eu não queria isso.

Sem dizer nada, eu simplesmente passei a ignorá-lo quando passava por ele e até o empurrei para longe quando ele segurou meu braço para que  o visse ali.

Eu fui um tremendo idiota durante seis meses quando me acusaram por um crime que eu não cometi.

Era um dia escuro e eu tive que ficar perante todos de Gloryan não podendo me importar com os comentários de reprovação e de surpresa. E eu juro que eu pude vê-lo lá no meio com uma expressão que não pude descrever no momento, mas hoje eu sei...

Ele estava magoado por tudo o que eu fiz com ele e com as pessoas mais importantes daquele lugar.

Apesar de só ter feito o primeiro.

Não acredito que ele veio me resgatar... Esperava que Alice apareceria explodindo as coisas como uma péssima feiticeira do fogo que ela é.

Eu pude perceber seu esforço para não rir do meu estado físico, se bem que eu estou muito melhor do que hoje de manhã.

"Cuidado... Eu acho que quebraram algumas partes do meu corpo." - aviso quando começamos à andar na direção do corredor do lado de fora da sala.

"Desculpa! Vou tomar cuidado." - Daniel se aproxima mais e eu sinto um leve desconforto por estarmos tão próximos desse jeito.

Eu tive vontade de chorar.

Passei quatro anos sem nenhum contato com ele e quando eu volto ele está todo diferente, não é mais aquele garoto chorão que sempre pedia minha ajuda para as coisas mais ridículas.

Eu não sei o que as pessoas viam em nós para tirar sarro. Não podíamos ser amigos? Por que não?

Eu nunca pude entender muita coisa e sinto que não era só por causa de sermos amigos que eles pensavam coisas estranhas de nós.

Nossos passos são lerdos e todo barulho que vinha do fim do corredor me dava vontade de correr de volta para a sala e mandar Daniel embora. Se pegarem nós dois, levarão ambos para Gloryan e ele estará encrencado com os pais dele.

"Você tem certeza de que não tem ninguém aqui?" - questiono apreensivo.

Paramos de andar e ele me solta por alguns instantes. Ele se vira de frente para mim me encarando como se eu tivesse falado algo estúpido.

"Isaac, você está duvidando de mim?" - indaga.

"Estou." - respondo. Me surpreendo como minha voz soa estranha por ficar tanto tempo sem falar.