Capítulo 19

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Eu ainda estava disposta a não sair de casa pelo resto da minha vida mas o problema não está em mim, e sim em minha mãe.

Fazem quatro dias que não tenho contato com a escola e essa quebra de rotina me fez perceber o quão minha vida é parada indo ou não indo estudar.

Também percebi que muitas pessoas resolveram simplesmente deixar de existir, pelo menos para mim, tais como Christian e Isaac.

Não sei o que aconteceu, mas minha ideia de Dani ajudar Isaac deve ter sido a melhor ideia que eu já tive em minha vida toda, afinal, ele anda menos infeliz e com um auto astral indescritível.

Me preocupo um pouco, pois Isaac não dá sinal de vida faz algum tempo. Existem probabilidades de algo muito grave ter acontecido, sempre que penso nele sinto um certo temor.

Christian não me ligou, nem deixou mensagem alguma. Também não surgiu inesperadamente em minha casa. Confesso que me incomoda um pouco essa barreira criada entre nós mas ao mesmo tempo acho necessária, afinal, ele é um Escrulo.

Arrumo a alça de minha mochila em meu ombro e me despeço de Lydia com um beijo em sua testa, a surpreendendo.

Sigo meu caminho, junto com Dani, em silêncio. Apenas imersa em meus pensamentos e preocupações sobre como será meu dia hoje.

Infelizmente, nenhuma das aulas de Dani batem com as minhas no dia de hoje e eu odeio profundamente minha mãe por tê-lo matriculado como meu primo.

Hoje, diferente dos outros dias, está ensolarado sem sequer uma nuvem no céu. Amo dias assim.

Ao longe já consigo ver diversos grupos de amigos fazendo o mesmo caminho até a entrada do colégio. Eu apenas espero que seja um dia normal.

Escuto um celular tocar atrás de nós e o toque me é muito familiar. Dou uma olhada de relance e apresso o passo ao ver Christian tão próximo de nós.

"Ei, o que foi?" - Dani questiona enquanto eu o puxo quase o fazendo cair de cara no chão encimentado.

"Só não olha pra trás e continua andando." - aviso tarde demais.

Meu amigo olha para trás e para me fazendo parar também. Ele gritou algo como "Hey, Chris!" e acenou para que o garoto olhasse para nossa direção.

O garoto loiro desviou sua atenção do aparelho eletrônico avistando-nos de imediato. Ele acena de volta para Dani e dá alguns passos até nos alcançar.

"Ainda bem que te vi. Não é, Alice?"

"Sim, Dani. Que bom que você o viu..." - mantenho meu olhar num grupo de jovens ao longe - "Vou entrar." - dou meia volta dando início a minha caminhada até o interior da escola.

Me infiltro na multidão de adolescentes que enchem os corredores da imensa escola em busca de meu armário.

Após algum tempo andando entre empurrões e tropeços, chego ao pátio, onde a movimentação é bem menor que lá dentro.

Avisto um banco vazio perto de algumas máquinas de refrigerantes e doces, não seria ruim esperar o movimento diminuir nos corredores não muito largos do colégio.

Retiro minha mochila de minhas costas e logo em seguida sinto meus ombros latejarem de dor. Eu me pergunto porque eu carrego tantos livros na minha mochila se tenho um armário para os guardar.

Aperto meus ombros como se isso fosse realmente ajudar. Não demorou muito para que o sinal soasse pelo prédio, anunciando que faltam dez minutos para o início de mais um dia letivo.

"Sorria!" - um garoto com uma câmera em suas mãos parou duas garotas que passavam aqui por perto e sem mais nem menos um flash foi disparado e diversos xingamentos foram proliferados por elas.

Uma leve risada se manifesta em mim e com isso, sinto que me enganei em achar que meu dia seria péssimo.

Eu deveria ver as coisas de um modo diferente hoje.

"Mantenha o sorriso!" - agora o flash disparou em minha frente e tive dificuldades em entender exatamente o que está acotecendo.

Apesar dos pontos de luz em minha visão, estou grata por não ficar cega com o flash inesperado.

"Ficou perfeita." - o garoto se senta ao meu lado e estende sua câmera para que eu possa ver a foto.

Eu detesto fotos do fundo do meu coração. Olhar para a imagem me fez perceber que esse sentimento é profundo.

"Por que você está tirando fotos dos alunos?" - pergunto observando o pátio se esvaziar gradativamente.

"Apenas para ter lembranças desse lugar." - diz como se estivesse indo embora para um lugar distante - "Bom, acho que devemos ir!" - aponta para onde os alunos estavam indo.

"Sim, devemos." - pego minha mochila e começo a caminhar lado a lado com o garoto fotógrafo - "Nos vemos por ai." - me despeço ao chegar ao meu armário.

"Até a aula de cálculo." - ele sorri - "A propósito, acho que você não sabe, mas somos da mesma turma em cálculo." - informa e surpreendentemente não me lembro de tê-lo visto em aula alguma.

"Uou, estou me sentindo mal por não me lembrar de você nas aulas de cálculo. Me desculpa..." - falo em constrangimento.

"Tudo bem, gosto do meu papel de lobo solitário. É mais emocinante!" - ele pisca seu olho esquerdo fazendo um movimento divertido com seus braços finos - "E digamos que você é a pessoa mais difícil de não reconhecer." - ele aponta para o meu cabelo e logo entendo o porquê de ter dito isso.

"Hahaha, legal!"

Ele segue pelo corredor, assim que o sinal principal soou, enquanto eu segui a direção oposta para a sala de integração.

Alcanço a maçaneta da porta, a mesma já se encontra fechada, a professora é rígida o suficientw para fechar a porta assim que o sinal bate.

Outra pessoa alcançou a maçaneta ao mesmo tempo fazendo com que nossas mãos se chocassem. Sinto meu estômago se contorcer com o clichê cinematográfico do momento.

Posso sentir o espaguete do jantar de ontem criar vida dentro de mim querendo sair assim que ergo minha cabeça e encontro o olhar leigo de Christian.

"M-me desculpe." - as palavras saem impensadas.

"Sem problemas." - ele abre a porta e logo faz um sinal para que eu entre primeiro.

Entro e a atenção de todos vêm em nossa direção, praticamente nos julgando por algo.

"Se for para namorar, cheguem mais cedo!" - a professora diz - "Sentem-se, a aula já começou." - vou para a última fileira e me afundo, constrangida, na cadeira gélida.

Christian não consegue conter sua risada e, agora, acho melhor rir também da situação.

Afinal, acho que isso serviu para quebrar a pequena barreira que estava se formando entre nós.

Alice, a feiticeira #1 ::RE::Onde histórias criam vida. Descubra agora