Capítulo 9

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Começo a secar o piso do porão e os poucos móveis que aqui se encontram. Ainda encharcada por causa do sistema anti-incêndio que Fred montara.

Ao finalizar a secagem, subo as escadas saindo na sala de estar. Dou uma olhada nos cômodos térreos e não encontro nenhum vestígio de meu quase incêndio.

O cansaço clamou pela minha cama. Passei o dia inteiro na escola por causa de um evento extracurricular e mal vi a luz solar. A casa escura, iluminada apenas pela luz da lua, se tornou mais assustadora do que normalmente é.

Tiro meu colar, presente - quase herança - de meu pai, e coloco com cuidado em cima do balcão da cozinha.

Então, decido ir para meu quarto, apago as luzes do andar de baixo e subo as escadas correndo com medo de algum demônio surgir no meio das trevas e vir atrás de mim.

Entro em meu quarto e fecho a porta, deixando a escuridão para o lado de fora e entrando no meu mundo iluminado.

Me jogo em minha cama sem me importar em trocar de roupa. Olho para os adesivos de várias estrelas fluorescentes - que não estão brilhando porque a luz do quarto ainda está acesa - que enfeitam o teto de meu quarto.

Enquanto as observava, me perdi em meus pensamentos.

Fiquei preocupada por causa de Christian… Também fiquei ansiosa por causa dele! E tudo isso para no fim ele chegar e me falar sobre minhas notas e pedir minha ajuda nos estudos.

E o que ele queria deixando minha imaginação correr solta naquele momento que ele se aproximou de mim?! Ele acha mesmo que eu o deixaria fazer qualquer coisa sem incinerá-lo ali mesmo?!

E porque eu aceitei ajudá-lo tão de imediato, logo após ele fazer isso?

“Alice, você é muito fácil…” - digo para mim mesma. Noto que agora já não estou mais deitada em minha cama e sim dando voltas pelo meu quarto, enquanto penso.

Mas o que tem demais em ajudar uma pessoa que tem dificuldades em certas matérias?! Além do mais só ajudarei fora da escola, tratarei ele do mesmo jeito que sempre o trato, não me importando com nada vindo dele.

E eu já até sei um lugar perfeito para estudarmos sem causar certo alvoroço para ambos… A lanchonete que tem aqui perto de casa é um ótimo lugar!

E agora estarei preparada para qualquer ação dele e não me deixarei ser intimidada por qualquer coisa ou ficar surpresa por pequenas coisas.

"Alice, volta para a realidade... Você pensa muito nos problemas do dia a dia." - digo para mim mesma desligando a luz deixando apenas a luz de fora e da decoração de meu teto iluminarem o lugar.

Sinto uma leve tontura que me fez cair sentada em minha cama. Encaro o espelho e tenho uma sensação ruim.

Minha visão está embaçada de novo... O que está acontecendo comigo?

Olho bem para o espelho, tentando focalizar... E uma mancha preta - que eu juro que não estava ali até poucos segundos atrás - no canto de meu quarto fez meu corpo estremecer.

Após piscar repetidas vezes, com a intenção de enxergar melhor, consigo ter uma visto melhor de meu quarto. Olho novamente para o espelho e meu coração quase sai pela boca vendo que a mancha preta na verdade é uma pessoa me encarando.

Me levanto vagarosamente da cama, iniciando uma caminhada lenta até a porta de meu quarto. Sinto uma movimentação atrás de mim e algo me diz que é o momento certo para correr.

Tropeço em meus tênis que estavam jogados no meio do caminho e de alguma forma, não caí.

“Parece que a sorte está ao meu favor” - falo em minha mente dando uma leve risada.

“Errado!” - eu esbarro em um corpo que não faço ideia de como surgiu aqui.

Olho para trás e vejo que a pessoa que estava alí, agora está aqui… E isso faz minha cabeça girar por conta da confusão.

“QUEM É VOCÊ E O QUÊ QUER DE MIM?” - grito tão alto que sinto minhas cordas vocais latejarem.

O menino, um pouco mais alto que eu, começa a vir em minha direção, me fazendo recuar até cair em minha cama.

Meu coração está prestes a explodir de medo, ansiedade, fúria e tremor. Porque ele não fala nada?!?

O garoto se aproxima mais colocando seu dedo indicador sobre meus lábios em sinal de silêncio. Observo seus olhos verdes que se misturava com o brilho do luar que de alguma maneira me fez ficar tão sonolenta...

Fui caindo no sono... Até que não vejo mais nada além de escuridão.

***

Acordo no dia seguinte com meu corpo todo dolorido. Olho em volta e suspiro em alívio por ainda estar em meu quarto e ver Ly esparramada no colchão que se encontra ao lado da minha cama me fez soltar um sorriso bobo.

O que foi aquilo ontem? Foi um sonho? Quem era aquele garoto? Ai meu Deus, tô delirando, preciso de tratamentos psicológicos!

O fim de semana chegou e com ele minha felicidade por não ter que ir para a escola e ser seguida pelo Christian de um lado para o outro.

Por algum milagre, acordei disposta hoje e sinto que o dia será tranquilo e sem tantas novidades e/ou surpresas.

Vou até minha escrivaninha em busca de meu celular, mas não o acho, encontrando apenas um envelope preto com um papel preto com uma escrita vermelha, destacada, no fundo preto.

De: *****
Para: Alice

"Tudo está prestes a mudar!"

O nome do remetente está borrado, mas parece que é proposital. Analiso bem a letra, para ver se reconheço, mas não me recordo de já ter a visto antes.

Guardo o papel de volta ao envelope preto jogando no fundo de minha gaveta de tralhas, junto com diversas coisas que nem me lembrava que possuía.

Escuto minha mãe gritando no andar de baixo avisando que o café da manhã já estava pronto. Corro descendo as escadas, sendo a primeira a me sentar na cadeira da ponta esquerda.

Minha mãe está limpando o balcão como de costume. Observo-a enquanto espero os outros residentes se ajeitavam na mesa, ela gentilmente coloca as coisas em seu devido lugar, mantendo a ordem de sempre.

“Mãe, pode me dar meu colar que deixei aí em cima ontem quando cheguei?” - peço rindo de uma piada que meu irmão contara.

Ela dá uma olhada sobre o balcão antes de me responder “Não tem colar algum aqui em cima, filha!” - avisa me deixando preocupada pois eu tenho certeza de que havia deixado em cima do balcão ontem. Pergunto para Lydia se ela viu meu colar e a mesma nega.

“Você é tão cabeça de vento!” - Dani faz um de seus comentários desnecessários.

“É verdade!” - Ly concorda - “Ela é tão cabeça de vento que ontem quando cheguei, a encontrei dormindo com a porta da sacada escancarada… Parece que alguém aqui não acompanha as notícias e boatos sobre esse bairro!” - conta. Dou de ombros e volto minha atenção aos meus pensamentos.

Então, existe uma grande possibilidade de uma pessoa ter sim entrado aqui em casa ontem e, provavelmente, levou meu bem mais precioso. A única coisa que me ligava à meu pai.

Alice, a feiticeira #1 ::RE::Onde histórias criam vida. Descubra agora