Capítulo 26

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"Alice!" - escuto me chamarem na escuridão - "Sou eu, Isaac." - logo consigo assimilar sua voz.

Dou uma olhada panorâmica para o ambiente, mas é como de eu não estivesse saindo do lugar por conta do breu.

"Que lugar é esse?" - pergunto para o nada, já que está impossível de ver Isaac.

"Não sei, ele chama de Meio." - tenta explicar.

Não questionei o fato do demônio ter dito "ele" como se eu soubesse sobre quem ele está falando.

Forço minha visão para conseguir enxergar o menino, mas falho miseravelmente.

"Esqueça! É inútil..." - Isaac fala e eu posso jurar que eu pude escutar um gemido de dor vindo dele - "Você poderia me ajudar?"

"Espera... Daniel conseguiu chegar até você?" - indago ainda preocupada com meu amigo.

Um silêncio amedrontador se manifesta no ar me dando arrepios.

"Eu o vi sim." - ele é breve - "Você poderia, por favor, vir até a Avenida Trill? Digamos que eu esteja sem condições de sair do lugar sem a ajuda..." - logo percebi que sua voz está trêmula.

Se ele viu Daniel, o mesmo não quis ajudá-lo? Ou será que Isaac não pediu por puro orgulho?

Não tive tempo de enchê-lo com os meus questionamentos, a escuridão foi sumindo com a claridade do sol de Clareon.

Em instantes, volto para onde estava, em frente da escola. É como se o tempo não tivesse passado.

"Rápido!" - me apressa.

Eu estou curiosa sobre a capacidade desse garoto conseguir se comunicar comigo de diversas formas diferentes.

Então eu, com meu corpo nada atlético, começo a correr como se minha vida inteira dependesse de chegar em um dos lugares mais movimentados daqui.

A medida que eu acelerava minha corrida, a quantidade de pessoas que ficavam assustadas ao ver meu vulto passando por elas, como um raio, aumentou.

Vez ou outra, alguém gritava para eu não fugir se eu fiz algo de errado. Aparentemente, eu pareço uma fugitiva das autoridades.

Finalmente avisto a placa de sinalização que indica que a Avenida Trill fica à esquerda do próximo cruzamento.

Decido caminhar até lá, pois estou prestes a desmaiar de cansaço. Isso é resultado da vida sedentária que possuo.

Enquanto caminho, volto a pensar em todas as coisas que vêm me atormentando nos últimos dias.

O principal deles é meu treinamento e a vontade enorme de voltar para Gloryan. Eu sei que há alguma coisa acontecendo naquele lugar e eu quero ajudar.

O ocorrido de mais cedo com Christian também está me dando nos nervos e não é o fato de que ele descobriu dos meus poderes, mas que ele está bravo num nível elevado e, de alguma forma, isso me incomoda.

Apesar de que... ele é um Escrulo.

"Você acabou de passar da entrada do lugar onde estou." - o demônio se comunica mentalmente.

"Onde você está?" - paro de caminhar bruscamente.

Ando para a direção de onde eu vim, agora atenta e não perdida em milhões de pensamentos.

Avisto Isaac num beco sentado ao lado de algumas caixas velhas e uma caçamba lotada de entulho. Sua aparência está deplorável a ponto de me causar pequenas dúvidas se é realmente ele quem está ali ou um morador de rua.

Dou alguns passos adentrando o espaço entre uma cafeteria e um edifício comercial.

O jeito que o garoto está jogado no chão não parece nada confortável.

É como se ele estivesse morto.

"Ei!" - encosto em seu ombro - "Eu sei que não é nada normal perguntar isso, mas você está vivo?" - continuo cutucando seu braço dando pequenos chacoalhões no corpo mórbido - "Pensei que demônios não morressem..." - faço um comentário a fim de causar alguma reação no garoto.

Nada.

Minhas mãos vão de encontro às suas que estão frias como o gelo, imediatamente senti leves arrepios.

Me abaixo, aproximando minha orelha de seu peito torcendo para escutar seu coração pulsar, isso se ele tiver um, não entendo muito de demônios e coisa do tipo.

Meu coração, existente, quase sai pela minha boca quando Isaac respira fundo sugando todo o oxigênio que podia, voltando em si.

Me afasto dele.

Posso jurar que eu escutei alguém gritando dentro de seu peito e agora não posso esconder minhas pernas trêmulas de medo.

"O que houve?" - ele passa a mão na parte de trás de sua cabeça como se ali estivesse doendo.

Eu simplesmente congelei em meu lugar sem reação alguma apenas repassando o som de um grito agonizante em minha cabeça.

"Alice?" - ele me chama e eu realmente não consigo responder.

De alguma forma, aquilo me dez lembrar de Daniel. Se Isaac está aqui sozinho, onde esse garoto foi parar?

"O que deu em você?" - ele repousa sua mão em meu antebraço, agora está menos fria do que antes.

"Cadê ele?" - consigo perguntar sobre meu amigo.

"O que? Ele quem?" - Isaac parece cansado.

Idiota.

"Daniel!" - aumento meu tom de voz - "Você tinha dito que o viu, onde ele está?" - indago.

"Oh..." - ele exitou por um breve momento antes de responder a minha pergunta - "Ele precisou voltar para Gloryan."

Suspeito.

"Por quê?" - questiono não acreditando em nada do que ele disse ou o que ele disser.

"Problemas familiares." - ele é rápido com sua resposta.

Mentiroso.

Minha desconfiança sobre o demônio aumenta ainda mais, mas antes de enchê-lo com mais perguntas, percebi alguns ferimentos espalhados por várias áreas de seu corpo exposto.

"O que aconteceu com você?" - mudo de assunto.

"Digamos que eu seja um fugitivo e que me torturaram para eu aprender à não fugir mais... Consegui fugir antes de me prenderem novamente." - conta.

"Por que você foi preso? E por que fugiu?" - sou curiosa.

"Irei lhe responder assim que eu esteja em condições melhores que essa." - aponta para si mesmo e para o lugar fedorento que estamos.

"Ok. Você tem razão..." - concordo pegando meu celular.

"O que você está fazendo?" - Isaac pareceu assustado.

"Ligando para minha mãe vir nos ajudar." - respondo colocando o aparelho na orelha.

Ele ficou mais pálido que de costume.

"Relaxa, é só minha mãe!" - falo tentando acalmá-lo.

"É isso o que me assusta. O fato de ser sua mãe..." - comenta. Não pude evitar de rir de sua expressão assustada.

Não demorou muito para a Super Mãe chegar para salvar o dia, principalmente o dia de Isaac.

Alice, a feiticeira #1 ::RE::Onde histórias criam vida. Descubra agora