Capítulo 1

372 29 1
                                    

Assim que chegamos, fomos direto para uma mansão. Ela ficava mais afastada da cidade quase que como uma casa de campo.

Sai do carro e ao respirar fundo me senti em paz pela primeira vez desde que aquela merda toda aconteceu. Emmett me olhou sorrindo.

Emmett Thomas Cullen tem 22 anos. Já se formou em educação física e quer abrir sua própria academia. Ele sempre, e quando digo sempre é sempre mesmo, foi extremamente protetor comigo e Alice. Ele precisou passar por terapia quando eu voltei. Ele se culpava e acabava descontando isso da forma errada. Estava batendo em quem via pela frente. Meus pais o mandaram para o box e ele se deu bem.

Alice é minha irmã gêmea. Baixinha, cabelos curtos repicados para todos os lados, uma fadinha. Tem olhos verdes assim como eu. Mesmo que eu não fale, ela sabe o que aconteceu. Ela sente.

Rosálie poderia ser considerada uma deusa da beleza. Olhos azuis violeta, corpo mais que perfeito, cabelos loiros e pele branquinha. Ela e Emmett se conectam de um jeito que ninguém entende.

Jasper é parecido com sua gêmea. Cabelos loiros, Alto, forte, mas, não tanto quanto Emmett. Seus olhos são verdes e ele sempre conversa comigo. Acho que é o único que finge que nada aconteceu. Isso é bom.

Minha mãe é linda. Olhos verdes, cabelos quase no mesmo tom acobreado que o meu. Rosto em formato de coração e um amor imenso.

Carlisle é loiro, assim como Emmett, olhos azuis e alto. Um pouco mais baixo que Emmett e quase da minha altura. Ele brinca que nós o superamos em beleza e tamanho.

-Essa mansão é antiga. Claro, a reformei como queria. -Mamãe falou. -Mas, deixei a estufa e a sala de música como era originalmente. Acho que você vai gostar.

-Sei que sim, mamãe. -Falei e fui guardar minhas coisas.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

Acordei naquela manhã com uma vontade absurda de ir até a sala de música. Era a primeira vez em anos que o piano não ficava trancado comigo no quarto.

Me arrumei e fui até lá. A sala era rústica. Paredes em pedras que facilmente abafavam sons. Uma lareira...

Sentei ao piano e notei que a banqueta bambeou.

A arrumei e notei que o piso estava solto. O levantei e vi que um pano enrolava alguma coisa. Sempre fui curioso e peguei o embrulho.

Era um diário. Muito antigo. Poderia chutar que era do começo do século passado.

Desisti de tocar e fui para meu quarto fechando a porta. Ainda era cedo demais. Nem cinco da manhã.

A tranca estava gasta e enferrujada. Então, abrir não foi problema.

Pertence à: Isabella Marie Swan.

Ano: 1920.

Como suspeitei. Bem antigo. Estava conservado apesar do tempo.

Querido diário...

19 de março de 1920.

As coisas tem sido difíceis. Todos me culpam pelo que aconteceu. Ninguém percebe que eu era uma criança? Que não tinha como medir forças com um homem daquele tamanho?

Royce acabou com a minha vida. Ele e seus amigos nojentos acabaram com tudo que havia em mim. E ainda me deixaram com a vergonha de carregar um fruto amaldiçoado, como meus pais falam.

Eu não vejo dessa forma.

Mesmo eu tendo 14 anos, esse bebê não tem culpa de nada. Somos dois inocentes jogados nisso tudo.

Eu sei que assim que ele ou ela nascer, vão me mandar embora. Vão tirar ele ou ela de mim. Eu jamais vou vê-lo crescer. Jamais vou ser mãe. Por mais cedo que pareça, já me sinto mãe. Ele se mexe dentro de mim. Sempre que o sinto, levo um sorriso em meus lábios. Porque eu sei que depois disso jamais voltarei a sorrir.

Fiquei chocado. Ela era apenas uma criança. A primeira página tinha um misto de agonia e felicidade. Ela estava feliz pelo filho, isso era fato. Mesmo sendo apenas uma criança ela era feliz ao saber que tinha uma vida dentro de si. Uma vida que ela defenderia com a dela, mas, jamais permitiria que fizessem a ele ou ela o que lhe fizeram.

Assim como eu ela sofreu traumas. Éramos pessoas marcadas pelo abuso.

Passei a página. Queria saber mais. A cada página eu via sua dor, acompanhava os progressos de sua gravidez. Até aquele dia.

Querido diário...

2 de agosto de 1920.

Era um menino. Lindo apesar dos pesares.

Porque eu digo era?

Porque meu pai foi cruel o suficiente para matá-lo na minha frente. Ele o afogou. Eu gritei, chorei... Mesmo ensanguentada e sem forças do parto tentei pular nele e o impedir. Não adiantou. Ele matou meu menino. Meu pequeno Adam.

Eu iria fugir. Mamãe tinha prometido que eu poderia amamentar ele por pelo menos dois meses antes de tirar ele de mim.

Em apenas uma semana eu já teria forças para partir. Poderia me esconder da Fazenda do meu avô que não estava sabendo disso porque meu pai sabia que ele me ajudaria. Mas, não tive como concluir meus pensamentos.

Eu mesma o enterrei. Meu pai queria apenas jogar aos animais. Ele poderia ser mais desumano? Sim, sem dúvida! Jamais duvidem de Charlie Swan quando ele tem propósitos.

A ambição dele fala bem mais alto que sua humanidade.

Diferente do que pensei, eles não me mandaram embora. Todos sabem que sou uma "perdida". Jamais terei dotes como minhas irmãs. Mas, isso não o parou. Ele encontrou alguém.

Gordon West. Um vendedor de quinquilharias. Ele é rico, velho e doente. Todos sabem a sua fama em procurar mocinhas com menos de 16 anos para casar.

Meu destino e servir de brinquedo para um velho. Mas, para meu pai não importa muito com quem eu esteja, desde que esse alguém lhe dê status, dinheiro e prestígio.

Odeiei esse Charlie com todas as minhas forças. Como ele podia fazer isso com Bella? Como poderia ela passar por tudo isso?
Nas páginas seguintes ela falava que escolheu viver. Que iria honrar aqueles que lhe amavam. Ela casou com esse Gordon. Ele não a queria como mulher. Isso ele tinha na rua. Ele queria uma esposa que lhe fosse dedicada e que lhe servisse de empregada calada. O que Bella não fazia e constantemente apanhava dele.

Porém, ainda assim ela erguia a cabeça e mostrava a todos que era forte e que jamais deixaria que a fizessem cair.

Eu sabia que ainda havia muito que ler naquele diário. Mas, apenas aquele primeiro ano de escrita me deram uma força que eu desconhecia. Olhei a hora. Quase oito. Logo todos estariam tomando café.

Tomei banho e me arrumei. Me olhei no espelho. Meus olhos estavam com um brilho que jamais vi neles ou se vi não lembro.

Respirei fundo. Ouvi a movimentação do pessoal e desci. Ao me verem, meus pais arfaram se abraçando.

Eu tinha voltado a querer viver.

O Diário de BellaOnde histórias criam vida. Descubra agora