Capítulo Onze

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- Annemarie, não sabes como eu estou animada. - disse Adoriabelle sentando-se no sofá á minha frente.

Naquele dia, seria o baile de Adoriabelle. E ela não parava um minuto de falar daquele baile.

- Sei, sei bem. - eu ri.

- Será tudo tão perfeito! - então ela se levantou e começou a girar pela sala. - Encontrarei meu cavalheiro, dançaremos juntos por toda a festa! Meu vestido será o melhor de todos! - ela colocou as mãos no peito. - Então, no fim da noite, perderei meu sapato e um príncipe de outro reino virá a minha procura!

Então comecei a rir mais alto ainda:

- Não ria, é a pura verdade, minha irmã. - ela disse num tom brincalhão e depois começou a rir comigo. - Mas será perfeito, disso eu sei e assim eu espero.

- Claro que será.

- E Alphonse e tu? - perguntou ela, dando-me um tapinha no braço. Por que todo o mundo insistia nessa pergunta?

- Estamos bem... - respondi.

- Anne, não mintas para mim. Vejo-te saindo pela janela quase todas as noites. - ela me lançou um olhar sério, me fazendo corar.

- E-eu...

- Ei, acalme-se. - disse ela. - Sabes que eu saio com Berthe para a floresta. Eu sei que saistes com algumas garotas para a floresta. Está tudo bem, uma não contará o segredo da outra.

Eu adorava Adoriabelle. Era a melhor em guardar segredos. Quando menor, sempre contava tudo para papai e mamãe, porém, agora, ela não contava nada.

E Adoriabelle passou novamente um longo tempo falando sobre a festa. Contudo, não prestei atenção em nada, estava com os pensamentos muito longe. Pensava em tudo, desde o casamento com Alphonse até meus sentimentos por Victorine.

Eu não queria casar com Alphonse, desde criança sempre imaginei casar com alguém que eu amasse de verdade, com o meu príncipe encantado. Eu queria um felizes para sempre e não seria com Alphonse o meu.

Por mais que eu tenha feito tudo o que fiz no quarto com ele, eu não queria o fim com ele.

Eu queria meu fim com... Com Victorine.

O que eu estava pensando? Fim com Victorine? Uma garota? Impossível! Eu não poderia estar apaixonada... Mas as coisas não são como todos querem, eu estava apaixona... Não! Não estou apaixonada! Era o que eu tentava por na minha cabeça, mas não adiantava muito.

- Estás me escutando, Annemarie? - perguntou Adoriabelle de braços cruzados sobre o peito.

- Hã? Sim, claro. - respondi saindo do transe.

- Então, como eu estava dizendo, ela disse que a fita dela seria a mais bela do baile e disse que o vestido... - e ela continuou a falar e falar e falar...

Berthe chegou na sala, e só assim Adoriabelle se aquietou, pois saiu correndo com ele para a floresta.

Eu estava sozinha na sala, apenas eu e meus pensamentos, e se eu continuasse assim, tinha a mais clara certeza de que começaria a chorar. Assim, sentei-me na frente do piano.

Comecei a tocar uma melodia, a minha favorita, Moonlight Sonata de Beethoven. Eu sempre adorei tocar aquela música. Eu entregava toda a minha alma quando estava tocando perfeitamente as notas. Fora a primeira música que eu havia aprendido, e era a que eu mais gostava. Eu me sentia livre.

Continuei a tocar, meus dedos tocavam involuntariamente. Comecei a pensar em tudo, aquela música me fazia refletir, e tentei segurar uma lágrima que insistia em cair. Eu apenas queria ser feliz. Pode parecer que uma princesa é a garota mais feliz de todo o mundo, mas isto está totalmente errado. Ela pode ser a pessoa mais triste do mundo, ninguém sabe como ela realmente se sente. Sempre fui grossa com as pessoas que conviviam comigo, mas na frente do povo, eu me apresentava como a garota mais feliz, sendo que eu nunca fui, realmente, feliz. Era o que eu mais queria.

Um Conto de Fadas ModernoOnde histórias criam vida. Descubra agora