Capítulo Treze

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- Desde quando? - eu encostei a mão na clavícula dela, a empurrando para uma pausa entre os beijos.

- O que? - perguntou ela confusa, eu senti seu hálito quente sobre meus lábios.

- Que sentes isto por mim. - eu disse mordendo meu lábio inferior, me controlando para não beijá-la.

- Não sei dizer ao certo. Senti um leve ódio de ti quando nos vimos pela primeira vez. Não sei porque, mas senti. Porém, aos poucos, vi a pessoa maravilhosa que és.

- Maravilhosa? Onde? Não sou nem um pouco maravilhosa.

- És sim. Tu és a princesa, mas não discutas comigo sobre o tanto que és maravilhosa.

- Então não há muito tempo? - perguntei, querendo mudar o assunto.

Tudo o que sempre mais odiei foi ser contrariada e a companhia de pessoas. E era isso o que ela fazia, estava me contrariando e me dava sua companhia. Estranhamente, eu gostava de ser contrariada por ela, e gostava de sua companhia. O motivo de estar irritada? Bem, não era com ela, e sim comigo. Eu mesma estava me contrariando.

- Não. Mas é algo muito forte.

- Entendo... - eu disse, olhando as estrelas. - Sabes que não podemos ficar juntas, não?

- Sei, e sei bem. - ela abaixou os olhos. - Mas eu vou fazer de tudo por nós.

- Eu também.

- Tu? - ela disse assustada. - Estás amando, Anne?

- Não sei, não sei o que é o amor. Gosto muito de ti.

- Gosto muito a ponto de amar-te.

Fiquei por algum tempo, um tempo em que não sei dizer quanto, olhando as estrelas, simplesmente as olhando, com a cabeça quase vazia, apenas com alguns pensamentos de como seria nosso futuro. Eu... Queria um futuro com Victorine. Então, ela interrompeu meus pensamentos.

Ela se curvou sobre mim e voltou a me beijar. Seus beijos eram tão doces, tão carinhosos, que eu queria que eles nunca tivessem fim.

Sentei-me com ela na ponta do penhasco novamente e lá ficamos a observar as estrelas.

Quem diria! Quem diria que Annemarie, a filha mais velha do Rei Roy da França, a mais difícil de domar, estava conseguindo ser domada. A filha mais megera, mais grosseira, estava sendo domada, por uma garota.

- Não fazias ideia de que era eu por trás da máscara? - perguntei enconstada em seu peito, enquanto ela mexia na ponta dos meus dedos.

- Não, apenas sentia que já te conhecia. Eu a adoro, Annemarie.

- Eu também a adoro, Victorine.

Então foi ai que notei. O que me faltava aquela noite, o que eu senti que faltava no penhasco, era Victorine. Era ela o que me faltava a vida toda, ela era a solução para a indomada Annemarie.

Agora ali não era apenas um lugar só meu, eu gostaria que fosse nosso.

Eu beijei seu maxilar e ela abaixou a cabeça para me olhar. A beijei, do melhor jeito que podia, com toda a minha vontade. Ela pareceu tomar um susto, mas se derreteu em minhas carícias. Victorine novamente me jogou na grama verde e fria, e se curvou sobre mim, espalhando uma trilha de beijos, desde meus lábios até meu busto, então ela parou e sentiu o cheiro.

- O perfume... Estás o usando. - ela sorriu e acariciou a minha bochecha.

Havia sido ela quem me mandara? Mas... Oh, Deus!

- Tu que mandastes? - perguntei.

- Sim. - ela respondeu com os olhos brilhando apaixonadamente.

- Pois saiba que eu o adorei. - eu sorri.

- Que bom... - ela sorriu e voltou a me beijar.

Então era ela o tempo todo, não Alphonse. Victorine, realmente, me supreendia.

A sociedade diria que éramos obras do demônio, pecadoras, talvez. A sociedade julgaria, até não encontrar mais argumentos, julgaria até ver-nos chorar sentidas, tentando fazer com que uma odiasse a outra, diriam que Deus não fez duas mulheres para ficarem juntas, que Ele não fizera mulheres para se amarem deste jeito. Entretanto, nada conseguiria me tirar dela. O errado era não amar. Se Ele existia, Ele não iria querer o ódio.

- Victorine... - eu disse em um intervalo de beijos, enquanto nos sentávamos.

- Diga. - ela continuou a me beijar.

- Precisamos ir. - eu disse com nossas testas coladas. - Irão sentir nossa falta.

- Acalme-se, Anne. Estão todos distraídos.

- Darão minha falta. Esquecestes que sou irmã de Adoriabelle?

- Tudo bem, então... - ela disse me enchendo de beijos na bochecha, me fazendo rir e cair na grama novamente.

- Sinto que estes beijos de despedida foram apenas mais um plano mirabolante para me derrubar novamente. - eu ri e toquei seu rosto.

- Talvez. - ela riu e me deu um beijo leve. - Vamos. - ela se levantou e me puxou pelo braço.

Me sacudi tirando a grama de meu vestido. Ela se agaixou e eu a observei, cuidadosamente, ela levantou a barra de meu vestido e calçou meus sapatos com carinho e cuidado em meus pés descalços.

Ela sorriu de canto, seus olhos brilhavam ao me ver. Estendi minha mão a ela e então se levantou, me dando um abraço, aqueles abraços que nunca sabemos descrever como eles
são. Colocamos nossas máscaras.

Ela pegou em minha mão e juntas corremos para o palácio onde acontecia o baile. A festa ainda não havia terminado, Adoriabelle dançava uma linda valsa com Berthe.

Victorine ajeitou a máscara em suas bochechas, deu um sorriso doce para mim e quando notei, ela já estava partindo.

- Victorine! - eu chamei.

Ela se virou, com seus olhos castanhos brilhando.

- Continuará a visitar-me?

- Claro, alteza. - ela sorriu e se curvou. - Assim que possível a visitarei, encontros que nunca mais esquecerá.

- Ah, pelo amor de Deus, não precisas chamar-me de alteza. Bem, sobre as visitas, eu a esperarei, todas as noites. - eu corri até ela, meus saltinhos batendo no chão, lustrado pelos criados o dia todo, e a abracei.

- Ei, não me abrace deste jeito, nós não podemos... - disse ela pondo as mãos em meus ombros.

Como eu queria poder abraçá-la em público, poder beijá-la assim como todos os casais, poder amá-la livremente... Mas naqueles tempos, isto seria impossível, era como se fossemos as únicas garotas que nos amávamos deste jeito... E não éramos? Sim, nós éramos, e mesmo não conhecendo a família de Victorine, eu sabia que não nos aceitariam, assim como a minha.

Em hipótese alguma aprovariam nosso amor. Ninguém aprovaria.

- Me... De-desculpe... - eu disse me afastando, suspirei e levantei o queixo, tomando minha pose novamente.

- Lamento, Anne. - ela disse abaixando os olhos.

- Está tudo bem. - toquei seu braço.

- Até breve. - disse ela beijando minha bochecha.

A observei partir para o meio da multidão. No meio do caminho, ela encontrou quatro garotas. Emanuele, Jessamyn, Julieta e Zurie. Victorine disse algo a elas, e pelos lábios de quem devia ser Emanuele consegui ler meu nome. Victorine balançou a cabeça e todas elas olharam em minha direção.

A ruiva, Julieta, abanou a mão animada, e eu acenei de volta com um sorriso tímido no canto dos lábios. Então parti, antes que Alphonse desse minha falta, talvez já tivesse notado que eu havia sumido há algum tempo.

Avistei Melanie e Courtney em um canto, elas conversavam. Me direcionei a elas, sem olhar sequer para os lados, até que trombei com alguém:

- Me des... - então levantei meus olhos e vi um azul intenso, tão belo e encantador. - culpe. - eu terminei boquiaberta com o brilho daquele olhar.

Eu já tinha a visto algumas vezes no palácio quando papai reunia a nobreza, mas nunca tinha notado tamanha beleza.

Um Conto de Fadas ModernoOnde histórias criam vida. Descubra agora