Senti um arrepio. Por que ali? Arregalei os olhos, ela se virou parar mim e sorriu:
- Qual o problema? - ela acariciou minha mão discretamente com os dedos.
- Esse lugar... Por que me trouxestes aqui, neste penhasco?
- É um lugar muito especial para uma pessoa. - ela disse olhando a árvore.
- Ham... E-eu... - gaguejei.
- Venha, sente-se aqui. - ela arrancou os sapatos, se sentou na ponta e começou a balançar as pernas.
Sentei-me ao seu lado. A noite estava muito bela, a lua brilhava de um jeito intenso que me lembrou de Victorine quando a lua era refletida em seu olhos. Olhei para a garota ao meu lado, a luz da lua também refletia em seus olhos de forma encantadora.
- O baile da Princesa Adoriabelle estava fantástico. - disse ela olhando os próprios pés descalsos. - Viestes a procura de um cavalheiro também?
- Bem, já tenho um cavalheiro, porém, não o desejo. Desde criança, sempre sonhei com o meu príncipe, minha alma gêmea, e sinto que não é ele. - eu abaixei os olhos para os nossos pés.
- És muito parecida com uma amiga muito importante para mim... Ela passa pelo mesmo. Eu deixei meu rapaz semana passada, não estava dando muito certo, tinhamos um namoro de três anos, mas... - ela olhou em meus olhos.
- Mas...? O que? Apaixonou-se por essa tua amiga importante? - eu disse brincando.
- E-eu... - a metade exposta de suas bochechas corou.
- Uma garota apaixonada por outra? - perguntei assustada. - Nunca vi isso em minha vida. - como não tinha visto se eu mesma estava apaixonada?
- Me... Desculpe. - seus olhos encheram-se de lágrimas.
- Ei, acalme-se. Não vejo problema, eu também suspeito estar por uma amiga. Mas acho que o amor é apenas uma mentira feita para nos machucar. - eu pus a mão nas dela, e um choque sucitou novamente.
Então Victorine veio em minha mente, tantas coisas ela e essa garota tinham em comum... Onde Victorine poderia estar? Dissera que talvez apareceria, mas onde estava?
Nos olhamos por um minuto, então tive coragem o suficiente:
- Tire. - ordenei passando os dedos por sua máscara.
Espere... Isso já havia acontecido?
- Só se tirar a tua também. - ela sorriu docemente.
Ai meu Deus.
- Tire. - eu repeti.
Eu sonhei com isso.
Então ela começou a levantá-la, pouco a pouco, primeiro as bochechas, elas me causaram arrepios, pois nelas havia uma marca, idêntica a de... Victorine.
Seu nariz perfeito começou a aparecer, e então seus olhos. Lindos e delicados olhos castanhos.
E então seu rosto ficou completamente exposto.
Não pude acreditar no que via. Tentei não esboçar reação alguma. Contudo, por dentro, eu não poderia estar mais assustada, aliviada, feliz, chateada, perdida, confusa, esclarecida, desesperada, animada...
Era ela.
Victorine era garota a todo esse tempo. Uma sensação surgiu em meu peito, eu não sabia dizer o que era.
Aqueles olhos, aquele sorriso, aquela voz, aquela pele, o carinho, estava tudo explicado, e ela estaria apaixonada por mim? Eu era a tal amiga que ela estava apaixonada?
- Agora tire a sua. - ela sorriu, curiosa.
- Ah, meu Deus... - eu disse ainda não acreditando no que estava vendo.
- Vamos, tire. - ela sorriu e tocou minha máscara.
Eu deixei com que ela o fizesse. Então suas mãos subiram ao meu rosto e ela começou a tirar vagarosamente a minha máscara, respirei fundo quando ela começou, fechei os olhos e esperei.
Seu sorriso desfez, e uma expressão séria tomou conta de seu rosto, mas logo se tornou um sorriso, o mais encantador sorriso que eu já havia visto em toda a minha vida, que eu tinha certeza de que nunca mais tiraria de minha mente. Ela era aquelas pessoas que sempre andavam sérias mas que quando sorriam faziam uma mudança em você. O sorriso mais lindo que eu já pude ver:
- Annemarie, és tu. - ela sorriu e acariciou minha bochecha.
- Victorine, eu... Estás apaixonada? Por mim? Sou eu a garota?
- Por favor, que nossa amizade não mude por isso. Não há nenhum caso na história que conte sobre duas garotas que se amem desta forma, mas isso não quer dizer que nós não podemos, nem que eu não possa amá-la.
- Não, Victorine, acalme-se, nada irá mudar. Só para melhor. - então segurei sua mão. - Acho que também estou gostando de ti.
- Espere. Como achas que estas gostando, se não acreditas no amor? - ela sorriu.
- Sinto algo diferente por você, talvez seja paixão... É apenas um gostar. - disse a fazendo rir.
- Senti tanto medo de lhe perder... - ela olhou em meus olhos e continuou a acariciar minha bochecha.
- Nunca irás me perder.
O que estava acontecendo comigo? Victorine tinha o poder de me transoformar, se era bom ou mau, eu não sabia dizer.
Ela vagarosamente se curvou e me beijou. Um beijo tão doce, que posso dizer que foi o melhor de minha vida. Eu me afastei e olhei em seus olhos e foi ai que tive a certeza de que estava... Não! Como estar se o amor nem eu ao menos existia?
Então ela voltou a me beijar, seu gosto era tão bom. Continuamos com apenas beijos leves, mas com seu jeito atrevido, doce e sensual, ela colocou sua língua em minha boca, e então senti como se fizessemos amor em nossas bocas.
Victorine me jogou na grama e se curvou sobre mim, enquanto me beijava. Suas mãos deslizaram por minha cintura, senti um arrepio.
- Victorine. - chamei em um intervalo de beijos.
- Sim? - ela parou de me beijar e me olhou apoiada em um cotovelo.
- Não me deixe. - eu disse num tom sério e estranho que nem eu sabia que poderia existir em mim.
- Nunca farei isso.
Talvez a vida não fosse como eu imaginava, talvez o amor existisse. Todavia, precisaria de mais provas para acreditar, precisaria de provas para me dizer apaixonada.
Eu tinha certeza que meus olhos brilhavam ao olhar o rosto dela, via meu reflexo em seus olhos castanhos. Meu coração estava disparado, algo em mim queimava de um jeito bom, de um jeito que eu queria que nunca mais parasse.
Estava tudo explicado, o beijo no canto dos lábios, as doces palavras, o carinho comigo que ninguém nunca havia tido... Ela gostava de mim, era a primeira a gostar de mim pelo que eu era. Não queria a perder, nunca.
Era lá que Victorine estava, era lá que Victorine devia ficar, comigo em seus braços enquanto me enchia de beijos.
Era lá que eu estava, era lá que eu deveria ficar. Em seus braços, para sempre.
Quem sabe me houvesse um felizes para sempre? Mas um pouco diferente...
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Um Conto de Fadas Moderno
RomanceEm todo conto de fadas, no final, a princesa acaba ficando com seu príncipe. O homem dos sonhos de toda garota... Ou de uma parte delas... Annemarie Damboyras, filha do Rei Francês, é uma adolescente bastante difícil que precisa se casar para poder...