Capítulo Catorze

80 11 0
                                    

Não era o mesmo que o de Victorine. O de Victorine era perfeito, me trazia uma sensação maravilhosa, este, apenas era lindo. Palavras para descreve-lo? Simplesmente, lindo. O azul brilhava de uma forma mágica.

Seus olhos mostravam que sua aparência passiva não dizia quem ela realmente era. Selvagem, era o que eles mostravam, apenas eles. Pois o resto, bom, o resto dizia que era inocente.

Devia ter seus quatorze ou quinze anos, era o que aparentava.

Ela sorriu, e eu me senti tonta, totalmente derretida. Sua pele pálida parecia macia, os cabelos loiros desciam ondulados até pouco menos da metade das costas, presos em um meio rabo. Ela era linda. Não mais que Victorine, mas era muito bela.

Ela usava um belo vestido vermelho, e uma máscara branca, com desenhos delicados bordados e com uma rubi entre os olhos. Com certeza, era uma jovem da nobreza, além de suas roupas, como eu disse, já a tinha visto em algumas reuniões.

A parte exposta de suas bochechas pálidas coraram, e eu senti as minhas corarem também.

- Ham... - foi só o que ela conseguiu dizer, parecia fora de si também.

- Annemarie Damboyras. - sorri, tentando novamente ser educada.

- Alícia Dubois. - ela disse fazendo uma mesura.

Sua voz era mais grossa que a minha, porém, mais tranquila, rouca e suave, algumas vezes soava como um sussurro.

- Um prazer, senhorita Alícia Dubois. - eu sorri e ela sorriu de volta.

Então, segui meu caminho, ainda confusa sobre o que havia sido aquilo.

- Por que estás corada? - perguntou Melanie.

- Corada? Eu? - eu disse ainda confusa.

- Sim. Tu estás corada. - disse Courtney.

- Estou... Estou... - eu não conseguia falar.

- Estás, estás...? - Melanie mexeu as mãos para que eu terminasse a frase.

- Acho que estou gostando de alguém. - eu disse rapidamente - Alguém proibido. Eu acho que finalmente estou gostando de alguém.

- Meu. Deus. - disse Courtney com os olhos arregalados.

Elas tinham motivos para estarem surpresas, ninguém nunca, nunca mesmo, havia visto Annemarie gostando de alguém.

- Quem? - perguntou Melanie.

- Alguém proibido, Melanie. Mas ainda não tenho total certeza. Não dir-lhe-ei nomes.

Então o assunto foi encerrado. Contudo, Melanie e Courtney passaram a noite me olhando desconfiadas.

Depois de todo aquele festejo, as lágrimas de minha irmã debutante, as lágrima de minha mãe, entre outros dramas que estava sendo obrigada a assistir lembrando da época em que eu havia sido debutante; subi para o quarto sentindo o olhar que sempre senti, enquanto subia as escadas. Olhei em minha volta... Nada.

Empurrei as portas de madeira do quarto, as tranquei e passei a noite pensando nos beijos com Victorine, na promessa de visitas, e em Alícia.

Tudo com Alícia tinha sido tão estranho, me sentia tonta, sentia borboletas em minha barriga ao pensar em sua voz e seu sorriso, aquele belo sorriso. Não era nada. Tudo o que eu sentia, sentia por Victorine, e não seria sentido por mais ninguém.

Dias se passaram e não recebia nenhuma visita de Victorine por vontade própria. Nos víamos quando eu me juntava a elas na floresta, Victorine me levava para ver o nascer do sol, deixando as outras garotas juntas e indo comigo a sós. Ela enchia-me de beijos e carícias, as melhores que eu já havia sentido em minha vida.

Aqueles momentos, bem, são momentos que todos deveriam ter, mas nem todos têm a chance de tê-los. Não sei ao certo se são os momentos ou as pessoas, mas eles fazem você dar valor a tudo que tinha um dia, por mais simples que sejam. São eles os quais irá lembrar e aquela saudade virá a tona.

E eu tinha meus momentos com Victorine. Belos momentos, dos quais sempre ficariam lembranças.

O inverno se aproximava, logo, a neve chegaria e o frio intenso também. Os dias começavam a ficar nublados, e as noites frias, ainda não congelantes, mas muito frias.

Essas épocas do ano sempre foram as melhores para mim. Eu sempre amei o frio, e não havia coisa melhor para se fazer do que sentar em frente a lareira com um livro. Papai sempre odiara me ver, desde criança, sentada em frente ao fogo, então eu sempre me sentava quando ele estava ocupado.

Uma das coisas ruins de ser uma nobre, ainda mais uma princesa, era que eu não podia fazer coisas normais de crianças ou que pessoas normais faziam, como brincar no vilarejo, subir em árvores, sentar no chão em frente a uma lareira, entre outros.

- Alteza, - chamou Oliver aparecendo na entrada do corredor, ele fez uma mesura - vosso pai, Rei Roy, a chama na sala do trono.

- Já estou indo. - levantei-me do chão e coloquei o livro sobre a mesa de centro.

Segui até a sala do trono, onde papai estava sentado como sempre, com sua expressão séria:

- Papai, Oliver dissera que o senhor me chamava...

Olhei ao meu lado e como em um passe de mágica... Alphonse estava ao meu lado...?

- Sim, lhe chamei. Queria falar-lhe sobre a minha expedição para a América... Eu lhe disse que partiria em seis meses, há quatro meses atrás, porém a viagem foi adiada para daqui três meses, ou seja, temos um mês a mais para arranjar seu casamento... Não a deixarei em meu lugar e sim Alphonse, rapaz de confiança e educado, com capacidade para cuidar de meu reino enquanto estiver fora. Está decidido e assim será.

Olhei para Alphonse, ele parecia surpreso, animado e mais algo que não soube dizer... Contudo senti que não era algo muito bom... Ele sorriu de um jeito sombrio.

- Mas, papai, não quero casar-me com Alphonse.

- Não é questão de quereres. - ele disse vermelho de raiva.

- Bem, - mamãe finalmente falou - não há necessidade de casar-se com ele. Ele apenas assumirá.

- Calada, Adrien! O certo seria Annemarie casar-se com Alphonse Le Roux! - ele gritou apontando Alphonse.

- Entretanto, não há necessidade.

- Depois conversaremos em particular, Adrien.

- Vossa Alteza, - Alphonse se curvou - a Rainha pode ter um pouco de razão... Não há total necessidade, entretanto, casar-me com vossa filha, a Princesa Annemarie, seria uma honra.

- Sim, caro Alphonse. - disse papai, então lançou um olhar furioso para mamãe. - Mas mesmo assim teremos uma conversa em particular...

As coisas ficariam feias para mamãe por me defender... Mas ela parecia não se importar.

- Foi apenas para avisá-la, Annemarie. - disse papai respirando fundo. - Pode retirar-se, e Alphonse também pode ir para tua casa.

Ah, era só o que me faltava, ter que casar-me com Alphonse, ou mesmo não me casando, ele teria todo o direito sobre minha vida, todo o controle!

Subi para o quarto irritada. Já era tarde da noite e logo as garotas apareceriam para passarmos a noite na floresta.

Naquela noite, não foram me chamar como sempre chamavam, fiquei um pouco preocupada. Era tarde, mais de meia noite, as doze badaladas haviam soado tinha um bom tempo. Sentei-me na cama, aguardei uma pedra ou algo do tipo entrar pela janela, porém, quando nada aconteceu, resolvi deitar-me.

Deite-me na cama, depois de algum tempo com os olhos fechados, escutei algo bater na janela... Uma pedra. Abri a janela, me debrucei e olhei para a floresta.

Senti uma sensação gostosa e uma enorme vontade de jogar-me em seus braços.

Um Conto de Fadas ModernoOnde histórias criam vida. Descubra agora