Capítulo Vinte e Dois

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Meu coração disparou. Julieta sorriu de uma forma macabra e encostou a ponta da espingarda no chão se apoiando nela. Zurie agonizava e Victorine estava em choque. Eu não sabia o que fazer.

- Mas o que... - comecei a falar.

- Fique quieta, Annemarie, ou melhor dizendo Vossa Alteza - disse ela fazendo uma voz fininha e revirando os olhos - Fala demais, é muito ble ble ble pra minha cabeça, sua voz me causa enjôos...

Ela começou a caminhar à minha volta e à de Victorine que estava abraçada a mim.

- Devem estar se perguntando o que está acontecendo... Bem, deixe-me explicar... Hm... Não há o que explicar! - ela levantou os braços e sorriu de um jeito bem falso.

- Por que fizera isto com Zurie...? - disse Victorine desabando em lágrimas quando Zurie parou de se contorcer e seu olhar ficou fixo em uma árvore.

Zurie estava morta.

- Ela havia descoberto. - ela gargalhou de forma bizarra. - Havia... Não poderá fazer mais nada por conta disto. Agora não passa de lixo. Não que a vida toda ela já não tenha sido...

- Sua desgraçada! - berrou Victorine caindo de joelhos ao lado de Zurie.

- O que ela descobrira? - tentei me manter controlada e não me exaltar para não piorar.

- São duas mulheres, isto é ridículo. Merecem estar mortas. O amor não existe, são piores ainda por acreditarem que existe amor. Não ficarão juntas, se ficarem será fora do trono. Terá que escolher, Annemarie. Ou a garota que a ilude, ou tua vida. - ela apontou a espingarda para Victorine. - Bem, em qualquer uma das opções ela morre. - ela deu de ombros.

- Julieta... - disse Victorine entrando em pânico. - Eu não quero morrer... Por favor...

- Cale-se! - ela atirou ao lado de Victorine.

Meu coração começou a bater forte, sentia o sangue correr pelo meu corpo, meu peito estava quente, minha nuca queimava. Aquilo não poderia acontecer... Eu disse, eu só traria problemas para Victorine.

Me jogar na frente não adiantaria. Pedir para parar, muito menos. Matá-la, não havia como. Eu estava sem reação, não viveria sem Victorine na minha vida. Eu havia passado dezoito anos da minha vida sem ela, mas agora era difícil viver sem ela por dezoito dias.

Então um estouro soou, eu levantei os olhos e Julieta estava paralisada com a arma apontada para Victorine. Julieta se virou para mim e havia um furo no meio de sua testa sangrando, assim ela caiu na grama.

Olhei a minha volta para ver de onde havia vindo o tiro.

- Manu? - Victorine olhou por entre as árvores.

- Eu. - ela saiu do meio das árvores com uma arma nas mãos e correu até nós.

Eu devia muito a ela.

- Zurie está... - disse Victorine.

- Ah meu deus... - Emanuele cobriu os lábios e começou a chorar. - Temos que nos livrar de Julieta.

Nós três arrastamos o corpo de Julieta para a beira do penhasco. Ninguém acharia na água. Victorine amarrou uma pedra no pé do cadáver de Julieta.

- Faça as honras. - disse Emanuele segurando de um lado de Julieta morta, enquanto Victorine segurava outro.

Então a empurrei e observamos seu corpo cair rapidamente até a água e sumir, afundando.

- O que foi... Isso? - perguntou Victorine olhando pra mim e seus olhos se encheram de lágrimas

- Também queria saber... - a abracei.

Emanuele quis ficar responsável por dar um jeito no corpo de Zurie e eu e Victorine fomos dar uma volta pelo jardim para que ela acalmasse.

Victorine era uma garota muito forte, por acaso. Havia derramado aquelas lágrimas, mas em alguns minutos estava erguida e firme novamente. Eu a amava. Amava seu jeito duro, seu jeito forte, sua confiança. Ela me mostrava muito que eu não conseguia ver sozinha. Mostrava que a vida podia valer a pena.

Sentamos na grama encostadas em uma árvore, um pouco distante do castelo para que ninguém nos visse, ficamos olhando o lindo céu azul. Realmente estava muito belo. Desde nova, sempre havia gostado do céu. Olhar para ele fazia com me sentisse algo tão pequeno, trazia uma sensação de liberdade, mas eu não a tinha. Gostava da beleza das cores no céu, as vezes tons de azul, alaranjado, amarelo, roxo... Era tão grande e belo... Era inexplicável minha paixão pelo céu.

Encostei a cabeça no ombro de Victorine. Era tão bom me sentir perto dela.

- Deite-se aqui, meu amor. - ela pôs a mão sobre a coxa.

Deitei-me em suas pernas, logo seus dedos acariciavam as ondas negras dos meus cabelos que caiam sobre suas pernas. Eram tão boas suas carícias... Fechei os olhos e me concentrei em senti-las. Não sabia até quando as teria, agora casaria com Alphonse, talvez Victorine e eu acabassemos logo. Não sabia como contar a ela sobre a notícia.

- Ham... Victorine? - chamei em meus minutos de coragem.

- Sim? - ela olhou em meus olhos e sorriu.

- Bem... - sentei-me ao seu lado.

De suave e apaixonada, sua expressão tinha se modificado para algo preocupado.

- Papai hoje comunicou Adoriabelle e eu... A viagem dele e de mamãe acontecerá amanhã... Ou seja, terei de me casar. - abaixei os olhos não contendo as lágrimas ao ver sua expressão.

Há poucas horas eu havia dito que nunca a soltaria, mas agora estava vendo que talvez seria obrigada a soltá-la.

- Anne... - os olhos dela encheram se de lágrimas - Teremos de...

- Não sei ao certo... Alphonse não conseguirá me prender, mas não a quero correndo riscos por mim. Tenho certeza do quão severo Alphonse será. - toquei as mãos dela.

- Digo o mesmo. Então... Temos apenas algumas horas juntas? - disse Victorine enxugando uma lágrima que rolara. - Que horrível!

- Acho que sim... - segurei o choro. Se uma lágrima caisse eu desabaria.

- Não chore. Vamos aproveitar e fazer tudo dar certo. - disse me abraçando.

- Não vou chorar. - disse olhando para o chão.

- Teu lábio está tremendo e teus olhos estão brilhando mais que o normal. Não me engana. - disse ela segurando meu queixo com uma mão e batendo de leve na ponta do meu nariz com o indicador.

- Não quero deixar-te. - choraminguei e encostei em seu peito, chorando como um bebê.

- Acalme-se. Estou aqui. Não irás deixar-me, não irei deixar-te. Tenho impressão de que seremos uma boa história para contar.

- Isto é um conto de fadas, contudo não sei teremos um final feliz ou seremos apenas um conto de fadas moderno, sem um final feliz. - disse enxugando as lágrimas.

Ela me abraçou forte:

- Apenas o tempo dirá.

Um Conto de Fadas ModernoOnde histórias criam vida. Descubra agora