Chapter 23

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Bradley entrou em sua aconchegante casa, considerando a ideia de jogar-se no sofá e adormecer ali mesmo.

O cansaço estava estampado em seu corpo agora fraco, mas o sorriso pela noite tão boa não saía de seus lábios.

Bradley havia sentido falta de sentir-se tão feliz e completo. E era exatamente assim que ele sentia-se a cada segundo passado ao lado de Tristan.

Não havia como negar o amor que o pequeno sentia por seu namorado, era maior que as palavras e maior que qualquer expressão.

Ele poderia gritar todo dia um 'eu te amo' diferente e ainda assim não seria o bastante.

Uma chuva forte e fria batia nas telhas de sua casa, seu corpo tremia pelo frio, então o menino caminhou até seu quarto. Pensando em deitar na sua cama quentinha e dormir até o outro dia.

Subiu as escadas tendo flashbacks da noite, seu namorado lhe segurando e eles dançando, todas as pessoas os aplaudindo e aplaudindo a banda.

Tendo flashbacks de todos os meses que passou ao lado do menino, de todos os beijos e todas as brincadeiras. Lembrando de todas as vezes que o abraço do menino maior foi seu conforto e seu refúgio.

Pegou seu celular do bolso da calça que usava e ali marcava três horas da manhã, do dia dezenove de fevereiro.

Seu coração acelerou quando ele viu o dia e ainda mais quando subiu correndo para seu quarto, encontrando flores mortas ao lado de sua cama.

- Não. Não, não, não! Eu não posso ter esquecido. - Ele falava para si mesmo, negando desesperadamente com a cabeça e correndo em direção às flores.

As cheirou e ali não havia mais o gostoso perfume de rosas e sim o cheiro de mofo e morte.

Morte.

Lágrimas formaram-se em seus olhos, seu corpo tremia freneticamente e sua pulsação estava tão rápida como se ele pudesse ter uma parada cardíaca neste exato momento.

- Desculpa, mãe. - Ele falou baixinho, encolhendo seu corpo no chão, enquanto segurava o buquê apertado em seu peito.

Correu em direção ao seu carro, sem importar-se com a chuva forte que caía, sem importar-se com as lágrimas e a tempestade que havia dentro dele.

Bradley estava devastado, cada pedaço dele estava quebrado. Seu peito estava comprimido e sua cabeça poderia quebrar no mesmo momento.

O menino havia esquecido algo que ele lutava para não lembrar, mas neste exato dia ele tinha que lembrar. Era a morte de seus pais. Nenhuma pessoa podia fazê-lo esquecer disso.

Sentou-se no assento de motorista do seu próprio carro, colocando as rosas ao seu lado.

Ele iria no cemitério, mesmo atrasado, mesmo tendo esquecido. Ele iria ver seus pais e sua irmã, ele precisava fazer isso.

Ele precisava lembrar da sua irmã soltando risadinhas quando começava a improvisar novas histórias. Precisava lembrar de sua mãe o pegando no colo para levá-lo para a cama, mesmo com ainda quinze anos de idade.

Precisava lembrar do seu pai lhe levando para pescar ou acampar, dos dias e noites de homens e das caretas emburradas da sua mãe falando que sentiria saudade deles durante o final de semana.

Precisava lembrar das vezes em que saía com sua irmã e a mulher mais velha, mesmo ainda sendo o grande final de semana de mulheres. Lembrar das vezes que a pequena menina pintou suas unhas com esmalte vermelho vivo, deixando borrões por entre todos os dedos e todas as almofadas do pequeno sofá.

O menino precisava lembrar-se do abraço aconchegante, de dormir nos braços de seus pais, de ter sua pequena irmã em seus braços.

Ele precisava disso. Precisava disso para conseguir continuar vivendo.

E então acelerou o carro, sem ao menos pensar no cinto de segurança, sem pensar em manter a velocidade permitida.

Acelerou como se isso dependesse sua vida, como se o carro pudesse voar a qualquer momento. As gotas de chuva eram confundidas pela água constante que saía de seus olhos.

O pequeno menino dava alguns socos no volante algumas vezes, balançando sua cabeça freneticamente em negação.

- E-eu... E-eu n-não posso ter e-esquecido. - Bradley falava para si mesmo, enquanto ainda colocava mais velocidade no pequeno carro vermelho que dirigia.

As ruas estavam desertas, não havia uma pessoa ou um carro andando por ali.

Seu olhar foi parar nas flores, o menino tirou uma mão do volante e passou pelas pétalas caídas no assento.

- Desculpa, pai. - Ele sussurrou entre soluços. - Desculpa, mana.

Respirou fundo algumas vezes, voltando sua atenção para a pista, esperando encontrar a grande escuridão e o deserto da noite fria.

Mas se assustou ao ver duas grandes luzes, um carro estava vindo em sua direção e notou que estava na direção oposta, virou seu volante com força, tentando ir para a pista certa.

O asfalto estava molhado, o que deixou ainda mais escorregadio e fez o automóvel ir em direção ao acostamento.

Então, sem poder fazer nada para mudar, largou suas mãos do volante e as pôs em seu rosto, logo batendo em uma árvore.

O carro capotou e sua cabeça foi lançada para frente, mas não havia nenhum airbag para lhe ajudar. Seu corpo ficou preso em meio à ferragens e mesmo com a pouco força que ele colocava sobre a porta, a mesma não abria.

Seu cérebro desoxigenava a cada segundo que se passava, ele tossia sangue desesperadamente. E não havia ninguém para salvá-lo dessa vez.

Não havia ninguém por perto para tirá-lo do carro e levá-lo para um hospital. Não havia ninguém para dizê-lo que não era o culpado.

Mas ele era o culpado. Ele sabia disso. Bradley era culpado pela morte de seus pais, pela morte de sua pequena irmã e agora seria culpado pela sua própria morte.

Passou a mão pela sua cabeça, tentando livrar-se da dor estridente. Então sentiu a enorme quantidade de sangue no local.

Sua visão estava turva e não havia nada para ver exceto a água descendo do céu e batendo com força na barriga do carro, que agora estava para cima.

O barulho da chuva acabou misturando-se com seus soluços e seus pedidos de socorro. Mas nada adiantava, ele não podia adiar algo inadiável.

- Desculpa, Tris. - Sussurrou, antes de tombar seu corpo encima das rosas mortas, fechando seus olhos.

Enquanto seu coração ainda pulsava e havia um resto de oxigênio em seus pulmões, ele pensou em Tristan. Pensou em seu namorado e quis mudar tudo isso, quis abraçar o loiro e somente estar com ele.

- Agora e para sempre. - Essas foram suas últimas palavras, até sua pulsação cessar e sua respiração não ser mais audível.

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