Capítulo 1. Noivado

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Capítulo 1.

No enterro de Jane, não consegui chorar. Já havia chorado tanto nos últimos dois dias, que acho que minhas lágrimas secaram. Ao meu lado, estavam mamãe e papai, mantendo a compostura, lágrimas silenciosas, um lencinho na mão de mamãe, assim como o meu, gravado com nossas iniciais. "L.A." sendo seu L de Lynda. Ao lado de papai, estavam o Duque e seu filho logo depois, seguido pela ama de seus filhos, Giovana, a menina de quatro anos de idade, quieta segurando a mão do pai e o novo bebê da família nos braços da ama.

Eu suspeitava que o filho do duque não sabia do arranjo que nossos pais travavam de me colocar no lugar de Jane para dar a ele um herdeiro do título. Olhei para Adrian, seus olhos estavam inchados e era óbvio que estivera chorando, ele devia realmente amar minha irmã, sequer erguia o olhar, talvez por medo de acabar chorando na frente de todos.

Homens.

Quando o padre terminou sua oração, um a um, caminhamos até o caixão de madeira polida e depositamos uma rosa sobre a tampa. Entre várias rosas vermelhas, haviam duas rosas brancas, as favoritas de Jane. Uma delas, sabia que tinha sido minha e me perguntei se teria sido Adrian quem jogou a outra. A multidão de amigos e parentes, todos vestindo negro, se dispersou de forma silenciosa pelo jardim do cemitério. Minha irmã havia sido enterrada no mausoléu do duque, longe de sua família e me percebi amarga por este fato.

Ao lado da carruagem, mamãe e eu esperávamos papai terminar de falar com o Duque e seu filho. Se despediram com um aperto de mão simples, um tapa nas costas e foi isso. Entramos na carruagem depois de papai, e quando nos sentamos, mamãe ao seu lado e eu diante dos dois, papai bateu com sua bengala no teto e nos movemos.

-Papai. -Chamei sua atenção num fio de voz. Não me atreveria a falar mais alto com meu pai, mesmo que a situação fosse mais alegre.

-Diga. -Ele permitiu e limpei a garganta.

-O senhor Adrian já sabe do arranjo que o senhor e o duque fizeram? -Papai pigarreou desconfortável e abaixei os olhos.

-O duque não achou de seu interesse fazer esse fato notado tão cedo no luto do rapaz. Passado metade do período de luto, em um mês e meio, eles conversarão.

-Sim, pai. -Respondi simplesmente e seguimos a viagem em silêncio.

Dois meses e meio haviam se passado desde então. Eu já havia aceitado o fato que jamais passaria de uma substituta de minha irmã, não seria um casamento de verdade, não enquanto ambos ainda amássemos Jane. Eu vivera a vida inteira à sombra de Janessa, a filha perfeita que não cometia erros, então não era nenhuma novidade.

Hoje, Adrian e eu seríamos formalmente apresentados como noivos e haveria uma festa de noivado na mansão do Duque. O casamento seria dali há quatro dias, na sexta-feira. Estariam com pressa?

Na carruagem, mamãe ajustava falhas inexistentes em meu vestido bordado à mão, com várias camadas de seda, renda e fitas de cetim, tudo combinando em perfeita harmonia em seus vários tons de verde para contrastar com meu cabelo ruivo, que estava preso em um coque alto tão apertado, que eu sentia minha cabeça sendo puxada para cima. Papai girava sua bengala no mesmo ponto no piso da carruagem, provocando um ranger como som de fundo dos cascos dos cavalos e do ranger geral da carruagem. Papai vestia uma casaca inglesa clássica preta e mamãe vestia um vestido de seda e cetim cinza, ainda de luto por Jane.

A mansão do duque estava bastante iluminada com lanternas de jardim e estacas com velas e embora ainda fosse sete da noite e o céu ainda estivesse claro, a mansão se destacava de forma inegável.

Fomos anunciados como "A Família do Barão Allistair" e eu segui calda e de cabeça baixa atrás de meus pais, que entraram de braços dados. Muitos dançavam, outros se mantinham mais afastados, observando e conversando, alguns beliscavam os petiscos e drinks que eram servidos pelos empregados da casa.

Arruinada ( #1 Duologia Arruinada)Onde histórias criam vida. Descubra agora