Capítulo 6. Simon

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~Na mídia, a música que estava ouvindo enquanto escrevia, "Les yeux au ciel" versão do filme As Canções de Amor, cantado por Louis Garrel~

~Lídia~

Não acredito que ele jogou aquela carta comigo, ele sempre soube o quanto aquela história me chateava. Sim, eu era filha bastarda de meu pai, sim eu fui criada pela minha avó por isso e para aprender as tradições da família, sim, eu só fui reconhecida porque meu pai precisava firmar mais alianças para garantir a fortuna da família, mas no fundo eu sei que meu pai me ama, e minha mãe, mesmo não sendo minha mãe de verdade, também me ama. Eu podia viver com essa cicatriz, mas cutucar para abrir a ferida dessa realidade não era necessária, Killian, mais do que ninguém sabia o quanto eu odiava isso.

-Lídia, espera, me desculpa.

-Você não tinha esse direito. –Eu disse marchando para longe dele.

-Eu sei, mas entenda o que estou sentindo, por favor.

-Me insultar faz você se sentir melhor? Bom saber! –Cuspi as palavras e o ouvi gemer atrás de mim e então me segurar pelo braço.

-Pare de ser tão teimosa e me escute!

-Não estou sendo teimosa, Winter, estou me recusando a ouvir desaforos! –Falei e então parei de fugir e me virei em sua direção. –Você sabe que tem assuntos que não devia tocar, mas você evita? Claro que não, cutuca até que a ferida esteja aberta de novo!

-Lídia, me desculpe é só que... –Ele passou as mãos pelo cabelo e se jogou sentado no chão. –Eu senti sua falta, todos esses anos. –ele foi dizendo e meu coração amoleceu, mas não perdi a postura, ainda estava zangada. –Você foi embora, só me deixou uma carta dizendo que tinha voltado para a sua família para casar com alguém em nome da família. Como você acha que eu me senti? Eu fui trocado por essa gente que só veio atrás de você pelo interesse no que você podia conseguir pra eles!

Eu o entendia, é claro, foi excruciante abandoná-lo, abandonar a vida que estávamos construindo juntos. Mas naquela época, a aceitação de minha família era importante demais para mim, eu era só uma menina, nem havia completado quinze anos.

-Eu sinto muito. –Eu disse e sentei ao lado dele no chão. –Na época... Não, eu coloco os interesses da minha família antes dos meus, Killian, você sabe bem disso. Se meu pai não tivesse aparecido, teríamos ficado juntos.

-E quanto ao nosso casamento? Não vale nada para você? –Ele perguntou e gemi encolhendo-me ao redor de mim mesma.

-Você sabe que não é assim. –Eu disse. –Eu te amo, sempre vou amar, mas... É complicado. – Eu disse.

-Você tem dois maridos, McAllistair, melhor descomplicar isso antes que seja tarde de mais. –Ele disse e eu suspirei, sabendo que ele tinha razão. Ficamos em silêncio por um tempo até que perguntei. –por que começou a roubar?

-Os remédios de Simon são muito caros. –Ele disse e olhei pra cima.

-Porque não me enviou uma carta? Eu teria mandado dinheiro. –Falei erguendo os braços.

-Eu enviei várias cartas desde que você foi embora. Toda semana!

-Que? Não recebi nada. –Falei e então me atingiu a verdade. –Inferno, meu pai deve tê-las escondido, ou destruído.

-Ele faria isso?

-Para proteger a família ele faria qualquer coisa! –Eu disse passando a mão por meus cabelos. –Esse tempo todo eu achei que você me odiasse.

-Nem por um dia. –Ele disse me puxando para mais perto, me abraçando e descansei a cabeça em seu peito, sentido que era o certo, era aqui que eu pertencia, com Killian na floresta. –Nunca poderia. –Ele disse beijando o topo da minha cabeça e em seguida beijou meus lábios de forma casta e rápida. Suspirei. –Eu te amo de mais.

Na manhã seguinte, nos aprontamos e seguimos viagens com Killian e seus homens nos escoltando à cavalo. Adrian não falou nada durante o percurso exceto por amenidades sobre o clima e o estado da estrada de terra. Quando faltava pouco para chegarmos à casa da vovó, ele finalmente falou.

-Você e o tal Killian pareciam bem íntimos ontem. –Ele observou.

-Bem, sim, crescemos juntos. –Eu disse.

-E quanto aos homens dele?

-Que quer dizer? –Perguntei.

-Você dançou com todos ontem a noite. Quer dizer, todos menos eu e o cavalariço, Robart. –Ruborizei violentamente.

-Dancei? –Céus, eu lembrava vagamente, mas passei mais da metade da noite tão bêbada que só o que lembro são alguns flashes. –Desculpe, não, não os conhecia até ontem.

-Hm. Posso fazer uma pergunta pessoal?

-Claro, você é meu marido. –Respondi dando de ombros e então comecei a analisar a barra de meu vestido. Estava imunda!

-Você realmente acha que um dia eu vou te amar do jeito que você quer e merece? –Sua pergunta foi como um flashback de minha discussão com Killian na noite anterior e evitei olhar em seus olhos e examinando a extensão da poeira na barra de minha saia como se fosse de suma importância. –Lídia.

-Eu não sei. –Cuspi as palavras. Com Killian eu não queria ceder e dizer a verdade, mas com Adrian, bem, dizia respeito a ele, então respondi. –Eu não sei, Adrian, parte de mim já desistiu de tentar que você me ame um dia, mas eu ainda quero ser amada.

-Quer ser amada por mim? –Ele perguntou e engoli em seco, sabendo que ele tinha ouvido a conversa da noite anterior, suspirei e gemi ao mesmo tempo, escondendo o rosto entre as mãos.

-O quanto você ouviu? –Perguntei com medo de ouvir a resposta.

-Ouvi tudo. –Soltei um som agudo de dor e tremi. –Pelo menos até você esbofetear ele.

-Eu posso explicar. –Comecei, mas será que eu realmente podia explicar?

-Acho que está tudo bem claro, senhorita McAllistair. –Ele disse meu sobrenome de solteira, o que só comprovava que ele realmente havia ouvido tudo.

-O que vai fazer a respeito? –perguntei temerosa, abaixando as mãos e entrelaçando meus dedos.

-Ainda não sei. Quero ouvir a história toda quando chegarmos à casa de sua avó, incluindo o motivo por estarmos indo para lá. Depois, preciso pensar. –Ele disse recostado no encosto de seu assento, seus dedos entrelaçados e as mãos pousadas em seu colo. Composto, sério, tranquilo. Acenei que sim e me sentei da mesma maneira, olhando pela janela.

Ouvi o trotar dos cavalos lá fora, sentindo meu estômago revirar quanto mais perto chegávamos da cabana. Adrian e eu não trocamos mais nenhuma palavra e quando finalmente a carruagem parou em frente à cabana, eu estava mais do que ansiosa para descer.

-Papai, papai, papai! –Ouvi a vozinha gritando de dentro da casa e irromper pela porta, pulando direto nos braços de Killian que já havia desmontado de seu cavalo. Meu coração acelerou enquanto ele segurava Simon nos braços. –Quem é essa moça, papai? –Ele perguntou e Killian olhou para mim e sorriu.

-Essa é a mamãe, lembra da mamãe? –Ele perguntou e Simon olhou para mim com grandes olhos avelã, tais como o meu, embora seu cabelo, queixo e nariz fossem exatamente iguais aos de Killian. Sorri para Simon, será que ele se lembraria de mim? Ele não tinha sequer um ano de idade quando fui embora.

-Mamãe? –Ele perguntou e tanto eu quanto Killian fizemos que sim com a cabeça. O rosto de Simon se iluminou e ele pulou dos braços de Killian e me ajoelhei ao chão para abraçá-lo. –Mamãe, mamãe, mamãe! –Ele gritou e me abraçou com seus bracinhos gorduchos. Eu estava à beira das lágrimas, foi quando Adrian se fez notar.

-Mamãe? –Ele perguntou e ergui o rosto para olhar em seus olhos. Ele estava horrorizado. Engoli em seco.


Arruinada ( #1 Duologia Arruinada)Onde histórias criam vida. Descubra agora