Capítulo 4. Não Agora

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~Mídia: Como eu imagino a Lídia, porém o cabelo dela é mais laranja que amarelo e ela tem mais sardas. Bem mais!

Meus olhos demoraram alguns instantes para conseguir focar novamente, Adrian estava sobre mim, de quatro na cama e eu me apoiava em meus cotovelos para manter o tronco erguido, ele usava apenas suas calças agora. Seus olhos demonstravam o quanto ele havia bebido agora, sabe-se lá quanto e ele cheirava à whiskey. Ele parecia nervoso e tudo o que eu queria era tranquiliza-lo.

-Não posso fazer isso. –Ele repetiu. –Não é justo. –Ele acrescentou e sorrio, tocando sua bochecha carinhosamente, reassegurando-o.

-Tudo bem. –Disse sorrindo.

-Tudo bem? –Ele perguntou e aproximou-se mais, inclinando-se sobre mim. –Isso não faz de mim um traidor de minha família? Não faz de mim um péssimo marido por não consumar o casamento e cumprir com minhas obrigações de esposo?

-Faz de você um homem. –Eu disse acariciando sua bochecha e ele descansou seu rosto em minha mão e fechou os olhos. –Você a amava muito.

Adrian então me abraçou, descansando a cabeça em meu colo e acariciei seus cabelos, ninando-o carinhosamente. Meu coração estava partido, meu orgulho ferido. Tranquei minha esperança de uma vida amorosa no fundo de minha mente, estava tão claro que eu não era quem ele queria estar abraçando agora. Adrian estava chorando, eu podia sentir seu corpo sacudindo sobre mim enquanto seu hálito e lágrimas quentes aqueciam e molhavam minha pele. Suspirei.

-Sshh, fique calmo. –Eu disse, acariciando-o e beijei o topo de sua cabeça. Engraçado como eu parecia conhecê-lo há tanto tempo, que esta posição em que estávamos não me parecia estranha ou incomum. Parecia normal. Era o certo. –Ninguém precisa saber.

-Eu sinto muito, lady Allistair.

-Adrian, estamos casados agora, me chame de Lídia. –Eu disse olhando o teto acima de nós enquanto acariciava seus cabelos. Havia pinturas de pequenos anjos roliços e coloridos no teto de cor creme.

-Tenho certeza de que você é gentil e será uma boa mãe para as minhas filhas, mas não posso amá-la. –Ele disse, pisando nos cacos de meu coração.

-Não precisa repetir isso, Adrian, já sei. –Disse amarga, mantendo o volume de minha voz o mais baixo que podia. Lágrimas teimosas rolaram de meus olhos e os fechei.

Tudo o que sonhei ter estava nas mãos deste homem quebrado em meus braços, mas ele os atirou junto aos entulhos de seus próprios sonhos e ateou fogo enquanto nós dois observávamos as chamas, lamentando. Lembrei-me das palavras de minha avó quando eu tinha 13 anos e ela lia as cartas de tarot para mim

-Minha filha, querida, não há destino além daquele que fazemos com nossas próprias mãos. O que as cartas dizem, se concretizarão se você seguir no caminho que está agora. Jamais deixe sua felicidade nas mãos de outro que não você, você está me entendendo?

Na época, não entendi, mas concordei com a cabeça mesmo assim, vovó sempre fora um pouco assustadora, especialmente quando lia as cartas. Agora que depositei minha felicidade nas mãos de Adrian e ele a lançou ao fogo bem diante de mim, eu entendia.

Quando Adrian caiu no sono, saí de debaixo dele devagar para que não acordasse e caminhei até meu guarda-roupa pegando uma de minhas calcinhas e tirando a chave do baú que eu escondia sempre em alguma calcinha. Fui até o baú, pé ante pé, respirando devagar, com medo de que alguma tábua rangesse e o despertasse, de joelhos diante do baú, o destranquei e comecei a remexer nas coisas lá dentro, reorganizando a bagunça que a mudança havia causado. As fotos de um garotinho de cabelo preto e embora a foto tivesse um tom esverdeado, eu sabia que seus olhos eram do mesmo tom de avelã que os meus e que sua pele tinha tantas sardas quanto a minha, estava caída sobre os outros objetos do baú, sorri acariciando a foto e a alfinetei de volta a tampa do baú.

Arruinada ( #1 Duologia Arruinada)Onde histórias criam vida. Descubra agora