Capítulo 3. Núpcias

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Adrian e eu não trocamos outras palavras durante o trajeto e apenas incluíamos um ao outro em conversas curtas com os convidados. O banquete foi servido as dez, depois de horas de dança e brindes sem fim, antes e durante o jantar. Adrian já havia bebido tanto que havia se resignado a ficar sentado ao meu lado na grande mesa, Tania e o duque lançavam olhares zangados a ele vez ou outra, mas se ele percebia, parecia não se importar. Ao fim da sobremesa, mais um brinde, desta vez do duque.

-Caros convidados, amigos e família. Estamos honrados em recebê-los em nossa residência, para celebrar o casamento de nosso filho Adrian e da jovem lady Lídia. Ergam suas taças, mais uma vez, e que o senhor abençoe esta união e que ela gere frutos! Saúde! –Os coros de saúde ecoaram pela milésima vez no salão. Era nossa deixa.

Após me despedir de meus pais e lançar o buquê para uma moça, provavelmente amiga da família de Adrian, ele e eu saímos do salão rumo ao nosso quarto. Deixei que ele me levasse aos tropeços pela mão pela mansão, que seria labiríntica para mim por mais algum tempo. Viramos a esquerda ao final da escada e Adrian tocou na maçaneta da segunda porta a esquerda e quando enfim olhou para mim, franziu o cenho, largou a maçaneta e seguiu pelo corredor, como se houvesse esquecido de que precisava me mostrar meu quarto. Entramos no último quarto do corredor. As portas eram grandes e pesadas, talhadas com desenhos de pavão e folhagem, com a maçaneta curvada como uma onda dourada.

-Este é o seu quarto. –Ele disse enquanto entrávamos e ele fechava a porta, soando mais sóbrio do que parecia estar. O quarto estava escuro, mas ele clicou no interruptor atrás da porta e suave luz amarela invadiu o cômodo vindo de lâmpadas aqui e ali pelas paredes.

-Jane dormia aqui? –Não pude deixar de perguntar.

-Nos primeiros dois dias sim. –Ele disse tocando de leve a coluna da cama, que se estendiam quase até o teto formando uma tenda de seda rosa claro. –Não conseguíamos ficar longe um do outro. –Ele sorriu consigo mesmo enquanto eu rodeava a cama e ficava de frente para ele. –Ela se mudou para o meu quarto depois disso.

-Entendo. –Eu nunca invejei minha irmã até voltar a viver com meus pais. Quando vi o futuro que a aguardava, família, filhos, o amor de sua alma gêmea, o monstro verde me encontrou. Houve dias em que eu a odiava por sua felicidade.

Antes que pudesse chorar, inspecionei o restante do quarto. A penteadeira clássica em cedro branco e dourado com uma jarra e uma tina de água. A penteadeira cor de rosa com um enorme espelho e vários de meus objetos pessoais, o guarda roupa enorme com toda a minha roupa. E meu baú, trancado, é claro, a chave onde somente eu poderia encontrar. Abri meu armário e retirei minha camisola, me dirigindo até o biombo.

-Onde está indo? –Ele perguntou com o cenho franzido vindo até mim.

-Trocar de roupa. –Respondi sem entender.

-Esse é o meu trabalho, venha até aqui. –Ele ordenou e, embora estivesse ofendida pelo seu tom de voz, também estava receosa. Nunca vira Adrian bêbado assim. –Venha até aqui, eu disse. –Ele repetiu e caminhei devagar até ele.

Ele acariciou minha bochecha com a ponta dos dedos, delicadamente, de minha têmpora ao meu queixo e então em direção a linha em que meu cabelo começava, ele removeu os grampos que prendiam o véu em meu cabelo então libertou meu cabelo do coque apertado, puxando-o para baixo suavemente. Não tirei os olhos dos olhos dele enquanto ele olhava para meu rosto, mas não em meus olhos.

-Sua voz parece com a dela. –Ele disse acariciando as mexas de meu cabelo. –Seu cabelo também. –Finalmente olhando em meus olhos, ele acrescentou. –Mas seus olhos são diferentes, é o que denuncia a verdade.

-Cubra-os então. –Falei espontaneamente. Fui eu mesma quem disse isso ou o champanhe que andei bebendo? Ou pior, meu desespero? –Finja que sou ela. –Falei e antes que pudesse me impedir, minhas mãos se moveram para seu pescoço onde desatei a gravata borboleta que ele usava e a entreguei em suas mãos.

Logo eu não via mais nada além do contorno turvo de Adrian e parte dele que conseguia ver pelas frestas na curva de meu nariz sob o tecido. Suspirei e então engasguei quando o senti me abraçar, seu peito se movendo de forma dura, como se ele estivesse se forçando a respirar. Hesitante, me mantive parada, uma perfeita estátua, abraçando-o de volta apenas quando o senti soltar os botões de meu vestido, agarrando-me ao tecido de seu casaco para continuar em pé. Esperei ansiosa, enquanto botão por botão, ele removeu meu vestido e enfim me afastei para que o tecido caísse ao chão. Ele me soltou de si e caminhou ao meu redor, me perguntei onde ele estava até sentir a fita do corpete se soltando e gemi aliviada por enfim poder respirar livremente. Ele parou. Por que ele parou, me perguntei, mas não ousei falar em voz alta.

Mais uma vez, senti suaves puxões no corpete até que ele caísse por meu quadril rumo ao chão. Cobri meus seios, estranhamente envergonhada embora não fosse a primeira vez em que me encontrava numa situação tão íntima. A ponta de seus dedos estava gelada quando ele tocou a pele de minhas costas suavemente, acariciando com nada mais que a ponta de seu dedo indicador, torturando-me de forma tão doce, que quase pude acreditar que aquilo me satisfazia. Que aquilo era intimidade.

Senti suas mãos em minha cintura, ainda suaves, alisando a pele até chegar ao cós de minha calcinha, removendo-a rapidamente, e pisei para o lado para deixa-la se juntar ao amontoado do véu, o vestido e o corpete. Ele se afastou de mim, senti o ar se deslocando e quando ouvi um barulho seco, soube que ele estava removendo seus sapatos. Tentei encontra-lo pela fresta da gravata em meus olhos, mas não o achei em lugar algum.

-Adrian? –Perguntei sussurrando, incerta. E se ele tivesse ido embora? Eu teria ouvido o ranger da porta? A porta rangeu quando entramos? Eu não podia me lembrar. Humilhação varreu por mim, levando embora a pouca coragem que eu havia reunido para estar ali naquela posição tão... Sejamos sinceros, desesperada. –Adrian? –Chamei novamente, minha voz trêmula com o último raio de esperança que vinha da voz em minha cabeça que repetia sem parar "você vai ficar bem".

Ele não respondeu, porém ouvi um tilintar de vidro e o som de água sendo derramada em um copo. Pelo menos ele ainda estava no quarto. Ele bebeu o que quer que fosse e suspirou alto, caminhando de volta para mim e achei que fosse me acariciar novamente, mas Adrian me tomou em seus braços, erguendo-me do chão e soltei um gritinho em surpresa, ele me levou até a cama e me deitou com cuidado no colchão.

E então ele removeu minha venda.

-Não posso fazer isso. –Ele disse e senti meu coração afundar.


Arruinada ( #1 Duologia Arruinada)Onde histórias criam vida. Descubra agora