Capítulo 8 - Confronto

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O vídeo não faz parte da trilha sonora, mas é uma música tão tudo a ver XD Curtam ai! o/

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~Adrian~

Ela o estava beijando, bem na minha frente. Ela estava montada nele. Será que ela não tinha a menor decência? Ela estava casada comigo! Onde foi parar o voto de honra e respeito do maldito casamento? "Ela provavelmente fez o mesmo voto a ele" disse a mim mesmo, lembrando que também era casada com ele. Soquei a parede e eles se separaram pelo susto, olhando ao redor, mas eu estava atrás da cortina da janela da sala, olhando-os por uma fresta na cortina. Ouvi sua conversa, sabia que estavam falando de seu filho, mas não entendi o que queriam dizer com as fogueiras de maio.

Eles se ergueram e iam retornar para o lado de dentro da casa, então me apressei para o andar de cima, decidido a confrontá-la de uma vez. Acendi a vela na cabeceira novamente e sentei na cama, mas antes lavei o rosto com a água da tina ao lado da cama, precisava esfriar a cabeça, não queria dizer a coisa errada. "Vamos, Adrian, seja frio e calcule cada movimento".

-O que são as fogueiras de maio? -Perguntei assim que ela entrou e parou estarrecida na porta, olhando para mim como se eu fosse um estranho.

-Quanto você ouviu desta vez? -Ela perguntou aborrecida e corei um pouco. Realmente, estava começando a parecer que eu tinha o hábito de ouvir a conversa alheia.

-Vi vocês indo para a varanda quando desci para te procurar. -Falei simplesmente ela entrou suspirando, fechando a porta com cuidado.

-Droga, Adrian, nunca te ensinaram a não se meter onde não é chamado?

-Eu fui chamado, você pediu para virmos para cá.

-Mas não pedi para ouvir minhas conversas particulares. -Ela disse exasperada, aproximando-se de mim.

-Quer dizer que você tem o hábito de conversar de madrugada? -Perguntei e ela rosnou. Sério. Rosnou!

-Mas que inferno, Adrian, da próxima vez bata na porta ou algo assim, não gosto que me desrespeite dessa forma.

-Você estava montada nele. -Falei entredentes. -Quem desrespeitou primeiro?

-Quer começar a apontar dedos, Adrian? -Ela perguntou, sua voz estava suave, baixa, todos os meus instintos diziam que isso era perigoso, que eu devia ter medo dela. Mas ignorei, afinal ela é só uma mulher, muito menor e mais fraca que eu. Que mal poderia fazer? -Vamos começar por nossa festa de noivado, certo? Quando você me insultou, que tal? Não acha isso desrespeitoso? Tudo bem, vamos para a nossa noite de núpcias. Você estava bêbado como um gambá, Adrian, não é nada legal fazer isso com sua esposa, e então você aceitou fingir que eu era Janessa, mas acabou não cumprindo suas obrigações de marido, lembra-se? -Enquanto apontava cada falha, parecia que sua estrutura crescia, sentia como se ela fosse muito maior que eu, como se de fato, eu estivesse em perigo. Ela me cutucou o peito com seu dedo e senti como se tivesse me perfurado com uma faca. -Quem desrespeitou primeiro, Adrian?

-Lídia... -Tentei falar, mas ela me cutucou novamente e a dor foi ainda maior.

-Quem desrespeitou primeiro, Adrian? -Ela repetiu sua voz se elevando apenas o suficiente para me fazer tremer.

-Eu. -Respondi e ela se afastou e então caiu de joelhos no chão, suas mãos mantendo-a com o tronco erguido, ela tremia e eu a olhava apavorado.

O que havia acabado de acontecer? Ela parecia pequena novamente, indefesa e machucada. Meus instintos não mais me alertavam sobre perigo e eu escorreguei da cama para o chão, diante dela, percebi que seu corpo tremia porque ela tentava conter as lágrimas. Apesar de o perigo ter passado, eu sabia que devia esperar que ela falasse primeiro, para ter certeza de que o pior havia realmente passado, mas tentei segurar sua mão, que ela afastou com tanta rapidez que nem cheguei a sentir seu toque. Ela me olhava com fúria, seus olhos castanhos tinham um brilho alaranjado e suspeitei que fosse por causa da vela acesa.

-Você tem a menor ideia de como me sinto? Ser substituta de minha irmã porque ela não conseguiu dar um herdeiro para a sua família, e então ameaçada pelo seu pai caso te contrariasse de novo?

-Meu pai te ameaçou?

-Ele disse que era melhor que eu entendesse meu lugar. Que se não fosse por sua dita bondade, eu acabaria na sarjeta, mas isso é mentira, eu voltaria para casa, para o meu lar. -Ela cuspiu as palavras, nojo em sua expressão. De mim? De meu pai? De seu pai? -E então ter que pensar dezenas de vezes antes de fazer algo na frente dele ou tomar cuidado em como falava com você porque você ainda está fragilizado pela perda de minha irmã, santa Janessa, a quem eu jamais chegaria aos pés?

-Lídia...

-Cale-se e escute! -Ela disse e contra tudo o que eu sabia de minha criação, eu me calei. -Eu jamais faria você passar pelo que me fez passar nos últimos dias Adrian, eu te dei tempo e espaço para curar suas feridas e quem sabe pudéssemos realmente viver em paz um com o outro, então jamais aponte o dedo para mim para falar de desrespeito quando tudo o que você tem feito é me afrontar!

-Você não está impune, Lídia. -Eu falei, finalmente reencontrando meu orgulho. -Que tal me falar antes que já estava casada e acima de tudo tem um filho?

-Como você esperava que eu dissesse? Eu mal te conheço, Adrian de Villiers, quem poderia me garantir que você manteria meu segredo como eu tenho mantido há anos! -Ela argumentou. -Você também tem filhas, Adrian, não faria qualquer coisa para mantê-las a salvo? -Ela perguntou.

-É claro que faria!

-Meu pai prometeu mandar dinheiro para a criação de Simon todos os meses, caso eu fosse com ele. Somos pobres aqui, Adrian, eu não tive escolha, ou pelo menos achei que não tinha, mas acredite quando digo que não pensaria duas vezes antes de voltar no tempo e mudar a escolha que tomei naquele dia, porque agora o meu filho está morrendo e eu nunca terei aquele tempo de volta! -Ela disse e finalmente se rendeu as lágrimas.

Pela primeira vez, e admito isso com certo embaraço, eu a admirei. Nos últimos, o que? Dez minutos? Lídia tinha mostrado tanta ferocidade e bravura que nem pude acreditar que era a mesma garota pequena que chorava diante de mim agora. E de certa forma suas lágrimas me mostravam sua coragem também. Naquele momento, eu realmente pensei que poderia sim chegar a amá-la um dia.

Isso se ela ainda quisesse me dar uma chance. A puxei para os meus braços e ela não resistiu, abraçou-se a minha cintura e se deixou chorar e ser consolada por mim até cair no sono. De repente percebi que a porta estava entre aberta e pela fresta vi Killian nos observando, quieto. Parece que eu não era o único que ouvia conversas particulares. Ele entrou e me ajudou a colocar Lídia na cama, não que nenhum de nós não pudesse fazer aquilo sozinho.

-Gostei do jeito que você se manteve firme. -Ele me disse e o olhei confuso. -Quando ela usava em mim esse efeito que a faz parecer maior, eu costumava me tremer de medo!

-Costumava?

-Bem, ela foi embora, nunca mais usou esse tom de voz comigo. -Acenei com a cabeça. -Você mostrou que tem bolas, cara, isso é um ponto para você. -Corei um pouco com seu linguajar vulgar, mas senti seu respeito por mim e isso me fez respeitá-lo.

-Obrigado. -Eu disse. -Isso quer dizer que vai desistir dela? -Perguntei e ele soltou uma risada estranha meio por seu nariz tanto quanto por sua boca, o som foi estranho, mas entendi que estava zombando de mim.

-Nunca, meu chapa. -Ele disse e passou o braço por cima de meu ombro. -Quer beber alguma coisa? A casa é simples, mas sempre temos whiskey barato. -Torci o nariz.

-Não estou em condições de recusar. -Falei e saímos do quarto deixando Lídia dormir, mas tive a impressão de ver um sorriso em seu rosto quando fechei a porta.

Arruinada ( #1 Duologia Arruinada)Onde histórias criam vida. Descubra agora