Penultimo Capitulo

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  Tia Anne- Samantha?-sussurrou ela, eu levantei a cabeça.- Já me disseram do teu pai, mas e a tua mãe ela ficou ferida?- disse encaminhando-me para uma cadeira.

Fiquei a olhar para ela durante bastante tempo.

Eu- Não.- disse cautelosamente.- A minha mãe não está ferida.
Tia Anne- Oh, graças a Deus...
Eu- A minha mãe.- interrompi-a.- Está morta.- abraçou-se a mim a chorar, eu já nem sei se chorava ou não, talvez as lagrimas já tivessem secado.

(...)
Tia Anne- Porque demoram tanto?- perguntou ela pela terceira vez, andando para trás e para a frente diante da janela minúscula do quarto privado que destinaram ao meu pai.
Eu estava sentada na única cadeira, com a cabeça apoiada nas mãos.

Tia Anne- Eles disseram-te mais alguma coisa? Sobre o que aconteceu?- em resposta abanei a cabeça negativamente.
Eu- Ele estava assustado tia, com dores.- levantei-me e encostei-me á ombreira da porta.- Parece que era grave.

Gemma chegou até nós e abraçou-me, fiquei rígida, não tinha forças para abraçar, e o contacto com a morte não alterou muito esta acção.
Gemma- Lamento San,  isto nem parece real.

Algo desviou a minha atenção, um auxiliar trazia o meu pai numa cama, com a cabeça coberta por espessas ligaduras brancas.
Fiquei colada ao chão, incapaz de estabelecer a ligação entre aquela pessoa que ali estava, que era o MEU pai. Uma enfermeira explicou qualquer coisa sobre o médico vir falar comigo e depois ela e o auxiliar saíram do quarto.
Ouvia as nossas respirações acompanhar o leve cateter intravenoso do meu pai, tinha os olhos fechadas devias ser dos sedativos pensei, sentei-me á beira da cama e embalei-o pelos braços.

Eu- Pai.- encostei-me a ele.- Está tudo bem.- disse tentado dar algum conforto a mim própria.

Passados alguns minutos ouvi os soluços de ambas e não consegui chorar diante delas.
Mordi o lábio e abri a porta do quarto, desejando exteriorizar as emoções em privado. No corredor, coloquei as palmas das mãos abertas na parede fria de betão e tentei lembrar-me que eu é que tinha oferecido aquela viagem, fui eu.

Dr.- Desculpe.- virei a cabeça e vi o médico que anteriormente tinha falado comigo.- O seu pai já foi operado mas não ouve muitas melhores.
Eu- Como assim?
Dr.- Ele encontra-se em coma, não sabemos quando pode acordar, mas pelos exames feitos ao cérebro chegamos á conclusão que ele está em estado vegetativo.
Eu- O que isso quer dizer?- neste momento não conseguia pensar.
Dr.- Estado Vegetativo é um quadro clinico no qual o seu pai se encontra, ele apresenta ausência de reações, ausência de consciência, irá apresentar uma perda temporária ou permanente de toda a capacidade de pensamento e de comportamento consciente, porém ele conserva algumas outras funções autônomas e cerebrais como a respiração e a deglutição, isto deveu-se á lesão cerebral grave que teve e á ausencia de oxigénio enquanto esperava pelos paramédicos.- disse ele de forma clara a eu perceber.
Eu- Mas ele vai recuperar certo?
Dr.- Neste caso é pouco provavel, o cerebro está morto e ele so esta ali a respirar por causa daquela máquina, e a legislação diz que ao fim de duas semanas e não existirem sinais vitais a máquina é desligada com a aprovação da familia, neste caso é a menina.
Eu-Faça alguma coisa Doutor, eu perdi a minha mãe não deixe o meu pai ir tambem.- disse agarrando-me a ele.
Dr.- Nós vamos fazer os possiveis mas seja forte.- disse afastando-se.

Isto só pode ser um pesadelo, como estou a perder todos a minha volta desta maneira?

Tia Anne- Nós estamos aqui filha, vamos estar sempre aqui.
Eu- Eu queria os meus pais só isso.- disse tremendo.
Gemma- Tens de te acalmar, eu acho melhor tomares qualquer coisa.- disse levantando-se e saindo de ao pé de nós.
Eu- Eu não quero nada, só quero a minha mãe, a culpa é toda minha.
Tia Anne- Não é tua, ninguem ia imaginar que isto ia acontecer.
Eu- Mas se eu não tivesse oferecido a viagem eles de certeza que ainda estariam aqui.
Tia Anne- Não te culpes.-Gemma voltou com um comprimido.- Toma isso agora, a Gemma fica aqui contigo eu vou ao piso de baixo ver como está o Harry.

A minha atenção despertou, com tudo isto tinha-me esquecido do que tinha acontecido ao Harry.
Eu- Como ele está?- disse tomando de seguida o comprimido.
Gemma- A Caroline ainda está em observação, mas já teve o parto o bebé está em risco de vida.

Limitei a concordar e não disse mais nada. Encostei-me a Gemma e ali fiquei chegando a adormecer e não saber o que tinha acontecido. O Harry voltou com a Tia Anne ele estava visivelmente abatido também, apesar de tudo a minha familia e a dele formavam uma só familia. Ele pegou-me e levou-me até casa.

Deitou-me na cama, devido aquele comprimido que Gemma me tinha dado eu estava em sono profundo. Sentou-se do lado oposto, à espera que a minha respiração se torna-se regular devido ao sono, sem querer ir embora até ter certeza que também eu não lhe seria tirada de surpresa. A Tia Anne estava encostada á ombreira da porta e inspirou a fragancia que se encontrava no meu quarto.

Tia Anne- É melhor ires filho, eu fico cá esta noite.- Harry levantou-se e beijou a mãe encaminhando-se para a porta da rua.

(...)
Quando acordei parecia que tinha um limão entalado mesmo a meio da garganta e tinha os olhos tão secos que parecia que as palpebras se fechavam sobre estilhaços de vidro. Também tinha uma enorme dor de cabeça, mas sabia que isto se devia a não ter dormido nada nestas duas semanas, é verdade duas semanas se passaram, o meu pai perguntam voces? Bem ele continua na mesma, hoje vou ao hospital dar autorização para desligar as maquinas, é doloroso mas ele esta morto por assim dizer e é o melhor. Quanto ao Harry, o bebé não sobreviveu, e a Caroline ficou com algumas lesões, não sei mais pormenores pois nao o tenho visto nem tenho perguntado.
A Tia Anne adormecera na cadeira do quarto e a Gemma estava enrolada aos pés da cama.
Imaginei onde a minha mãe se encontrava agora, numa agencia funeraria? Na morgue? Onde seria a morgue...nunca estava assinalada nos botões do elevador. Remexi-me desconfortavelmente, retraindo-me devido á grande dor de cabeça. Dia-me a cabeça, mas não tanto como o coração.

Gemma-San?- sentou-se agarrada á colcha.- Como estás?- senti a sua mão na minha, fria o que me fez despertar.- Doi-te a cabeça?-perguntou ela.

A determinada altura a Tia Anne acordou, agora ambas ladeavam a cama, como um par de suportes para livros, com pena e dor estampados no rosto. Virei-me de lado e puxei a almofada para cima do rosto.

Gemma- Quando tudo isto passar vais sentir-te melhor
Tia Anne- Querida.- as suas mãos pousaram nervosamente nos ombros.- Podes chorar á vontade. A sua mão puxou ao de leve a almofada mostrando a minha cara vermelha das lagrimas.

Carreguei no botão do elevador, só quando ouvi a campainha é que levei as mãos ao cabelo tentando melhorar o meu aspecto. Assim que a porta rolou mostrou quem se encontrava no seu interior Harry.

Eu- Secalhar é melhor ir pelas escadas.- proferi e ele logo retorquio.
Harry- Não tenho nenhuma doença contagiosa.- o que me fez entrar e carregar no botão que me levasse ao piso do meu pai.- San.
Eu- Não Harry-. cortei logo ali..
Harry- Ouve, eu tenho que te pedir desculpas, um pedido sincero.
Eu- Desculpas porque?
Harry-Por tudo. - um por tudo muito tremido, havia algo mais ali.-Eu sei que um dia vou ter que aceitar as coisas como são, sermos só amigos.
Eu- Claro e é isso que eu quero.
Harry- Mas esse dias não é hoje.- parou ao ouvir o sinal de paragem num piso, o dele.- Desculpa.
Eu- Espera.- disse mas ele logo saiu-o, ele estava estranho, subi ate ao meu andar e procurei por o médico dando então a minha utorização, vendo da janela a máquina a ser desligada e a ultima respiração do meu pai, acabou.  

Never Too Late /h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora