O pesadelo

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"O que Deus permite hoje, só iremos entender no amanhã"

Aconteceu algo horrendo que, nenhum tipo de criança deveria passar neste mundo... - narrador

*Narrador Off*

*Priscila on*

Eu só tinha seis anos, sim só seis, estava lendo como sempre, lendo clássicos infantis que tia Chris havia comprado para mim. De repente senti sede, e fui até a cozinha. Peguei meu copo exclusivo de formiguinhas (eu amava formigas) e o enchi de água. A caminho de meu quarto percebo alguém na cozinha...

- Oi, qual seu nome?- Diz ele, um homem jovem de uns 25 anos, que me deu medo, estava sorrindo para mim, mas quem era aquele afinal?

- Priscila Machado Corrêa - eu sempre dizia meu nome todo naquela idade

¬- Sou Eduardo, você é uma princesa sabia? Serei seu novo pai! - aquilo, aquelas palavras deram-me um pequeno medo, mas eu não sabia ao certo o porquê do medo...

***

Os atos de Eduardo sobre mim tornaram-se mais frequentes, me trancava em meu quarto, não sabia como, mas ele conseguiu uma cópia de minha chave, deve ter pegado no quarto de mamãe. Mesmo sem entender a gravidade da situação, eu tinha ojeriza dele e muito medo, ele nunca me tratou com 'violência'. Sempre ria muito ao fazer seus 'carinhos', o que me dava nojo.

Seus atos sujos e ousados continuaram, até que, completados meus oito anos, não o vira mais. Sentia-me aliviada, me sentia livre de novo, para andar em casa sem medo, sem ter de olhar em seus olhos maus, sem ter receio de ser novamente por ele tocada...

Por fim, já se fazia um mês que não o via, estava feliz, muito feliz, apesar de não saber tamanha maldade que me fizera.

- Mãe, onde está Eduardo? Seu amigo não apareceu mais, para onde foi? - indaguei a minha mãe um dia.

- Filha, ele se foi! Eduardo viajou para um lugar distante, e não volte a falar nele, por favor! - falou minha mãe um pouco triste.

- desculpe mãe - falei percebendo sua impaciência.

Minha mãe nunca soubera de seus "carinhos" frequentes, pois ele dizia para não contar a ninguém, e como me envergonhava foi fácil manter silêncio.

Meses se passaram, anos, completei dez anos, mamãe nunca mais havia trazido homens para casa, e eu me alegrava, agora era somente eu e ela. Não sabia o porquê, mas mamãe nestes últimos dois anos me tratara muito melhor que nunca. Ela era divertida, às vezes sensível e quase sempre carinhosa, eu sabia que ela estava se esforçando para ser melhor, ou como de costume demonstrando por gestos um pedido de desculpas; ela nunca me pediu desculpa, por nada, pelas broncas que me dava sem causa, por exemplo, nunca me pediu desculpa. Seus gestos o faziam por ela.

Sempre que podia me comprava um presente, em suas folgas trazia filmes e assistíamos até altas madrugadas, conversávamos muito, mas nunca, nunca ousei em lhe contar o mal que Eduardo havia me feito (a esta altura já era um tanto mais entendida), apesar de vontade não faltar.

Às vezes me deparava com mamãe chorando em seu quarto, inconsolavelmente chorava, ajoelhada na beira de sua cama pedia a Deus pela minha vida, eu não entendia (até hoje com dez anos ainda não a entendo), mas a observava sempre. Minhas tias Rute e Chris sempre vinham nos visitar, traziam João, Tiago e o pequeno Ben(meu primo de três anos), vez ou outra meus tios também vinham, mas era raro; perceberam a angústia de minha mãe e falaram de tal paz que ela podia encontrar na igreja... Uma paz que está em Jesus, diziam:

- Ana, o que há contigo? - eu amava minhas tias, mas elas sabiam ser inconvenientes nas horas erradas - conte-nos estamos aqui para ajudá-la, você está aflita com quê?

- Não há nada de errado - minha mãe dizia nem eu sabia o que ela tinha - só é difícil criar Priscila sem o pai, ela sente falta, por mais que ela não assuma, ela precisa de uma proteção paterna - ela mentiu, minha mãe sabia mentir sem pestanejar, ela nunca se incomodou com a ausência de meu pai.

- Vamos à igreja? - tia Rute dizia tão insistente, e sem mesmo por esperar uma resposta continuou - no domingo vamos vir pegar você e Priscila, como o culto começa as sete passamos para pegá-las às seis e meia.

Minha mãe não sabia dizer não a minha tia que tanto nos ajudava e acabou aceitando. Eu sempre ia à igreja com meus tios e tias, sempre tia Chris ligava para saber se eu ia ou não e diferente de minha mãe eu sabia dizer um 'não', isto é, quando de fato eu estava indisposta para ir. Eu gostava da igreja, me sentia bem, havia momentos que, eu me esquecia totalmente de toda a desgraça que Eduardo havia me feito.

O que me empolgava mais era o fato de ver a professora Deisy (dava maravilhosas aulas de Bíblia), ela era muito amável comigo, tinha muito afeto por ela; quando me via abraçava-me muito forte e dizia: - Por onde você andou sua ovelhinha perdida?

Eu somente ria. Ela já estava de casamento marcado com Bernardo (desta vez primo de segundo grau de tia Rute), ele era mais sério, mas muito carinhoso.

Mamãe continuou indo com mais frequência, até que em uma destas idas conheceu Fausto, irmão do Pastor Nonato, eles se cortejaram por algumas semanas, e já marcaram casamento. Eu muito me alegrei pela minha mãe, ela estava tão feliz que, eu nunca havia visto tamanha alegria em seu semblante.

Fausto parecia ser um bom homem, vez ou outra eu o via no púlpito dando a tal palavra de oferta ou cantando hinos da harpa com o coral. Ele me tratava bem, muito bem, respeitava-me também, não me olhava com olhos de "desejo" como os que eu já presenciava, mesmo com tão pouca idade meu corpo já se desenvolvera, mas ele me olhava com ternura. Se fosse numa outra ocasião eu diria que ele tinha pena de mim ou já sabia do que me acontecera na minha triste infância. Mesmo assim eu tinha medo de homens, medo de Fausto; eu tinha traumas, receios... Lembranças...

Comprava-nos presentes sempre, e claro que eu gostava!

Eu não sabia bem como orar, mas assim como minha avó Catherine me ensinou eu o fazia:

Pai do céu, sei que não sou íntima de ti, mas saiba que eu ando me esforçando, sou agradecida de o Senhor ter me protegido após o mal que Eduardo me fizera não ter acontecido mais, saiba que ainda não concordo de o Senhor ter permitido isto, mas é como minha tia Rute diz: Os planos de Deus são inquestionáveis! Não quero questioná-lo mais. Por favor, não deixe Fausto ser mau comigo ok?! Que ele venha ser como um pai, já que ele e mamãe vão casar!

Em nome de Jesus amém!

Quando eu abria meus olhos já estava chorando, só de pensar nas maldades daquele filho de uma descabida, eu chorava sem parar...

*O Casamento*(será um extra)



O Maravilhoso plano de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora