Capítulo 5

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Todo carnaval tem seu fim. As aulas recomeçaram e eu estava novamente envolto em livros, compilações de leis e códigos. Esse semestre tinha ficado cheio porque eu tinha finalmente começado a fazer um estágio. Não era nada muito especial. Tinha conseguido ser contratado pra trabalhar num escritório de advocacia do Rio de Janeiro que estava abrindo sua filial aqui. Eu nem queria muito começar a estagiar, sabe, mas é que essas festas todas estavam apertando o meu orçamento. E eu não queria ficar toda hora pedindo pro meu pai pra complementar a mesada. Na verdade, o estágio era bom porque eu estava podendo colocar em prática o que eu aprendia na sala de aula. E tudo isso enquanto usava gravatas bonitas todo dia. Dava pra ser melhor do que isso?

A parte ruim era que eu tava parecendo um zumbi. Tinha aulas de manhã, estágio à tarde e mais aulas de noite. Era bem pesado. Eu sabia que ia dar conta, afinal todo mundo tinha muitas responsabilidades na vida. E era bom ter meu dinheiro e minha liberdade. Mas eu também tinha que aprender a cuidar melhor do meu tempo pra não ficar dormindo durante as aulas. Era por isso que eu estava todo orgulhoso de ter ficado em casa naquela quinta-feira à noite. Eu tava na sala, esparramado no sofá, junto dos meus pais, vendo televisão, quando senti um negócio vibrando no meu bolso. Era o celular.

"Oi Lindinho. Tá sumido... Como tá?"

Nossa! Tinha um tempão que não falava com o Victor! É que depois que comecei a viver a vida real eu nem entrava mais no site de encontros online. Me levantei do sofá e fui pro meu quarto ter mais sossego. Me aconcheguei na minha cama e mandei a resposta.

"Oi Victor! To bem e vc?"

Uns segundos depois ele começou a digitar.

"Tudo certo tb! A gente não se fala há séculos! Me conta... Vc chegou a ir na Spiceclub aquele dia meses atrás?"

"Nossa! Desculpa! É que a gente nunca mais se viu online pra conversar... Fui sim! To saindo bastante agora..."

"Sério? Me conta, vai! Fez amigos? Tá indo em todas as baladas?"

Eu contei tudo pra ele: do Dé, do Beto, do Calabouço, dos beijos. Era bom colocar a conversa em dia com o meu amiguinho virtual. Ele me contou do trabalho, da falta de namorados, da vida...

"To carente, Gui.. Essa vida de solteiro tá difícil."

"Ué... E pq vc não sai comigo e meus amigos, Victor? Rapidinho vc arranja um namorado! :)"

"Imagina, menino! Eu vou ser um velho saindo com vocês. E eu já fiz essa vida de balada todo fim de semana. Depois de um tempo vc vira figurinha repetida e não pega ninguém... O mercado tá feio pros solteiros, viu?"

Achei o Victor um pouco pessimista. Não me lembrava dele assim. Ele escreveu de novo.

"Mas vamos falar de coisa boa! To gostando de ver! Você tá super levando com naturalidade essa transição, né? Me lembro q vc era um pouco preocupado com o 'sair do armário'..."

"Pois é, Vi! Eu achava que ia ser mais diferente... Mas o mundo gay é muito lindo e maravilhoso! Só conheço gente do bem e amigos que tão me acolhendo e me fazendo sentir super aceito, sabe?"

E emendei.

"E eu já to tão bem, que eu to achando que logo logo vou estar namorando..."

"É??? Me conta! Tá saindo com alguém especial!?"

"Ah, ainda não tem ninguém, mas eu tenho um pressentimento, sabe?

Acho que ele tá perto... Ele tá por aí me procurando e eu finalmente to procurando por ele também... É só questão de tempo. A gente vai se encontrar..."

Machos AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora