Capítulo 4

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André pegou a manteiga e colocou na panela. Juntou a cebola com o alho e mexeu. O cheiro inundou a cozinha. Cebola com manteiga era um dos cheiros mais saborosos que existiam, pensou. Apreciou por alguns segundos e quase não percebeu que o alho estava dourando rápido demais. Abaixou o fogo e acrescentou o arroz. Mas e o shitake? Desligou o fogo para picar o cogumelo. Será que isso estragaria o risoto? Ele esperava que não. Procurou pela receita na bancada da cozinha, mas não conseguiu encontrá-la. Continuava picando o cogumelo enquanto passava os olhos na mesa, cadeiras e estantes procurando o papel. Finalmente parou de picar para procurar a receita. Estava caída no chão atrás da mesa. Conferiu os passos e ligou o fogão. Acrescentou o shitake e depois o vinho. O cheiro estava gostoso e a comida parecia estar indo bem. Agora era só ir colocando o caldo de legumes e mexer sem parar. Dessa vez não tinha erro, pensou, a receita ia dar certo. Era só esperar o arroz ficar no ponto e colocar o queijo brie que ele tinha comprado especialmente para o jantar.

André olhou orgulhoso para o jantar que preparou. A salada estava linda, toda colorida, com pedaços de manga, alface e tomate. Os tira-gostos estavam já na mesa de centro, pros dois poderem conversar um pouco antes de comer. É, parecia aqueles jantares de revista. Depois de pronto o risoto, era hora de arrumar a mesa. Pratos, talheres, taças. Uma ou três velas? Três velas era mais romântico, pensou. Estava tudo perfeito pra comemorar o aniversário de um mês de (volta do) namoro. Como já havia acontecido algumas vezes nesse pouco tempo, ele estava sozinho na casa do Guilherme. Ele gostava daquela casa. Era um apartamento de dois quartos na Asa Norte. Não era muito grande, mas era mais do que o suficiente para uma pessoa sozinha. Além disso, era lindo. André sempre admirou o bom gosto de Guilherme para decoração.

Como Guilherme morava só, nada mais natural do que sempre chamar o André para passar a noite. E dormir na casa do namorado era bem mais conveniente do que voltar dirigindo para casa às quatro da manhã. Uma vez, quando voltava de madrugada, André cochilou por meio segundo e quase bateu o carro. Desde então decidiu que, apesar dos protestos da mãe, era melhor passar a noite na casa do Guilherme e voltar para casa pela manhã.

Risoto pronto. Cervejas alemãs no congelador pra gelar. Mesa e velas a postos. André olhou para sua obra e ficou feliz. Agora era só tomar um banho e ficar cheiroso para o namorado, que chegaria em vinte minutos.

Saiu do banho, se vestiu e foi pra sala. Colocou uma seleção de sambinhas para tocar e pronto. Estava tudo preparado para o aniversário. Agora era só esperar.

André esperou uns quinze minutos sem notar. Estava vendo televisão e, afinal, o trânsito poderia estar complicado. Depois de trinta minutos de atraso, André começou a se preocupar. Será que estava tudo bem com o Guilherme, pensou. Ele não era de atrasar assim. Além disso, ele começou a ficar com fome. O cheiro da comida tinha aberto seu apetite. Depois de quarenta e cinco minutos de espera, André finalmente pegou o telefone e ligou para Guilherme. Tentou algumas vezes, mas a ligação nem completava. André ficou pensativo, sem saber o que fazer. Depois de considerar suas opções limitadas, decidiu apenas esperar, vendo televisão e aguentando a fome. Com um pouco mais de uma hora de atraso, a porta se abriu.

– Oi, amor. Que gostoso te ver.

– Finalmente, hein! – respondeu André, sentado no sofá.

– Oi?

– Nossa! Que atraso! Tava em uma reunião ou coisa assim?

– Não. Era o trabalho normal... Tá tudo bem?

– Não. Não tá tudo bem. Tentei te ligar, mas não consegui... – disse André, com uma voz de menino triste.

– Ah, é que o celular ficou sem bateria... Vem cá, me dá um beijo.

Machos AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora