Capítulo 11

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Eu sorria pra Marina. Sentia surpresa, que me deixava sem reação. Tentava achar alguma palavra pra falar, mas elas fugiam. Os cabelos vermelhos, os olhos pretos, a pele branca. Eu não conseguia decifrar Marina. Ela tava com os lábios franzidos, olhando pra mim, mas sem olhar pra mim. Parecia que seu olhar passava direto por mim.

- Eu tô grávida... É. Tô grávida.

Como as palavras insistiam em não chegar, improvisei.

- Eu te amo, Mari - me inclinei e a abracei, quase caindo - Como você tá?

- Grávida - respondeu ela e logo depois começou a rir. Nós dois rimos.

- É estranho, mas é a primeira vez que tô falando isso em voz alta - disse Marina.

- E aí? É bom falar em voz alta?

- É diferente. É como se só agora fosse verdade.

Eu sorria pra ela, tateando qual deveria ser a próxima pergunta.

- Isso quer dizer que você... Eh... Você vai ter... - e não consegui terminar a pergunta, mas ela entendeu.

- Vou, vou sim! Vou ter meu filho sim. - ela colocou a mão na barriga - Tô pensando nisso tem umas semanas já...

- Semanas? Você já sabe tem semanas?

- Já... - ela ajeitou o cabelo atrás da orelha - Eu fiz aqueles exames caseiros e depois fui ao médico. Já tem uma semana que eu sei com certeza.

- Poxa... E como você tá?- perguntei de novo - E o Pedro? Ele já sabe?

- Não falei com ele ainda. Nem com meus pais...

- Como você vai fazer? - perguntei - Você vai... Como é que você vai contar?

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

- Eu não sei, Gui... Eu... Eu tô com medo.

- Oh, meu Deus, - falei baixinho enquanto abraçava ela de novo, esbarrando no pirex com palha italiana em cima da cama - fica com medo não.

- É solitário, sabe?

Disse ela, enquanto se aconchegava no meu abraço.

- É uma coisa muito minha. Eu que passei noites sem dormir, pensando se minha menstruação não ia vir. Depois fui eu que pesquisei na internet pra ver se tudo aquilo que eu tava sentindo era mesmo algum sintoma de gravidez...

Eu só abraçava ela mais forte.

- Depois eu que fui fazer os exames... Eu descobri e fiquei pensando... Ninguém mais sabia. Almoçar com meus pais, olhar nos olhos deles tá sendo uma coisa horrível. Eu sinto que tô traindo eles, sabe? - ela se afastou e pegou na minha mão - Sair com o Pedro tá um pesadelo. A gente tá brigando sem motivo nenhum.

Ela olhou pra baixo, buscando algo pra focar sua atenção. Parou um pouco no pirex, mas logo depois levantou a cabeça, sem olhar pra mim.

- Uma vez perguntei se ele pensava em ter filhos e ele me respondeu que só daqui uns dez anos. Que ele queria curtir muito a vida ainda. Que filho era uma âncora, um peso. E ele tem razão, Gui! Eu não quero ter que ter filho agora... Eu quero fazer mochilão na Europa! Eu... Eu quero usar roupas bonitas e sair pra dançar! Quero poder decidir trocar de curso ou virar hippie... Sei lá! Eu quero...

Ela se agachou no meu colo e continuou.

- Eu quero não ter que decidir.... Eu não quero falar agora sobre isso. Quero dormir tarde e poder ir pra academia, ir pro parque, ver programa de fofoca na TV... Não quero ficar pensando nisso vinte e quatro horas por dia! Não quero!

Machos AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora