Capítulo 9

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– Nossa! Esse de tapioca tá demais! – disse Soraia.

– Não disse, menina? Eles arrasam no sorvete aqui! – Beto gesticulava com a pazinha do sorvete – É do nível dos sorvetes de Belém!

– E Belém lá tem sorvete gostoso? – perguntou Dé.

– Alô? Só os melhores sorvetes do mundo! Lá é super quente, né? – disse Beto – E eles sempre têm todos os sabores mais perfeitos, tipo Tapioca, Cupuaçu, Bacuri...

– E como é que você sabe disso tudo? – Marina perguntou.

– Menina! Minha família é de lá! Nunca te falei não? – respondeu.

– Acho que não...

– Isso e muito mais você só vai encontrar no Pará – Beto dançou em sua cadeira.

– Mas é besta esse menino mesmo! – Soraia já estava raspando o restinho de sorvete em seu potinho – Deixa eu provar mais um pouco, vai...

– Oxe, Sô! Sai daqui! – Beto afastou seu sorvete – Você escolheu chocolate porque quis! Eu te avisei que o sorvetes bons daqui eram esses regionais.

– Deixa de zurar, menino! Me passa aqui esse sorvete que tá bom demais! – Soraia se levantou e tentava pegar seu pedaço de sorvete na marra.

– Gente, mas mulher quando tá de TPM é uma coisa, hein!

Na confusão, Beto deixou sua bolsa cair, espalhando seu material pelo chão. Dé foi ajudar o amigo a pegar as coisas.

– Que livro bonito, Beto. "Através do Espelho"... É bom?

– Eu to gostando, gato. Foi o Vini que me deu.

– Cadê ele, Beto? Será que é hoje que a gente vai conhecer o misterioso namorado? – Dé voltou pra sua cadeira, pra comer seu sorvete de manga.

– Já disse pra relaxar, menino! Ele tá chegando... É que ele tinha que fazer umas coisas de trabalho hoje de manhã e deve ter se enrolado.

– Num sábado? Vai ficar rico desse jeito, hein... – Dé sorriu.

– E cadê o Gui? – Soraia tentava de novo encontrar vestígios de sorvete em seu potinho.

– Tá com os pais – explicou Dé.

– Ele vai estar um pouco ocupado essa semana – completou Marina.

– Fim de semestre? – Soraia perguntou.

***

– Hummmm! Mas essa carne de sol tá especial, não tá? – minha mãe comentou, sem um destinatário em especial.

Meu pai descansou os talheres no lado do prato e sorriu pra ela.

– Tá mesmo... Me passa a manteiga de garrafa, Guilherme? E o feijão de corda também, por favor.

Passei o feijão e a manteiga pro meu pai e continuei comendo. A gente tava num restaurante nordestino e a comida tava muito gostosa! Esses almoços de domingo eram uma das nossas poucas tradições. Nós três comíamos quase todo domingo fora. Era uma desculpa pra fazer algo diferente, só nós três, e pra forçar nossa pequena família a interagir.

– Quer mais, meu filho? – minha mãe olhava pro meu prato quase vazio.

– Tô bem, mãe – respondi, sem muito ânimo.

– Come mais um pouco, filho! – ela foi alcançar a carne de sol pra me servir – Tá tão gostoso.

– Já disse que tô bem – cortei, sério.

Machos AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora