Capítulo 12

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Eu estava debaixo do bloco, na minha pilastra, pensando em tudo que tinha acontecido nos últimos dias. Pensava no Dé, na nossa conversa no caminho em volta do prédio dele, em como eu tinha sido burro, como tinha sido ingênuo. Sentia o chão gelado do cimento embaixo de mim, que refrescava um pouco o calor. Como é que eu tinha acreditado que eu e Dé poderíamos ter alguma coisa? O vento batia em minha pele e o barulho das folhas me embalavam enquanto eu pensava em como é que eu achei que ele... Como que eu achei... Ai, que saudades que eu tava! Que saudades que tava de sentir seu cheiro, de ler suas mensagens, de conversar com ele. Será que eu tava exagerando? Será que eu tinha imaginado coisas que não existiam? Ele realmente estava me mandando mensagens. Ele realmente estava me buscando esse último mês. Ele me beijou. Ele me beijou e me amou. Eu olhava pras árvores e pensava. Foi... Ele me amou e foi tão especial!

Já tinha tempo desde a última vez que tinha chovido na cidade. A seca tinha chegado pra valer e me incomodava um pouco. Uma folha caiu perto de mim. Veio da árvore que se despia pra enfrentar os meses de água. Pensei na Marina. Nossa, que barra que ela tava enfrentando... Ela ia ser mãe. Sem planejar. Sem saber se o Pedro estaria junto dela pro que desse e viesse. Perto do problema dela o meu não era nada. A seca se intensificava e revelava o tronco nu das árvores. O tronco torto, cheio de marcas e alguns galhos quebrados. Eu sentia falta do André. Queria sentir seu peso nos meus ombros de novo. Seu perfume na minha roupa. Pensava em como foi bom ter finalmente encontrado ele. E pensei no Victor. Em como devia ser difícil ter pisado na bola do jeito que ele fez... Como seria difícil conversar com o Beto. Ter que olhar pra pessoa que você ama e confessar um defeito seu. Se despir e mostrar seus defeitos e só ter a esperança de que ele não se importaria. Ou melhor, que eles veriam como você era e mesmo assim te aceitariam. Deitei no chão pra sentir mais da sua superfície gelada. Pensei no Dé de novo e em como, talvez, eu estava fazendo uma tempestade num copo d'água. Ele tinha ficado com outras pessoas, sim. Mas eu não tinha falado com ele direito. Não sabia se ele não queria ficar comigo. Não tinha pedido ele em namoro. O erro do Victor, por exemplo, foram as mentiras, que foram se enrolando. Será que eu tava sendo verdadeiro com o Dé?

Peguei meu celular e mandei uma mensagem pro Dé.

***

– Vamos lá? – disse Vinícius.

Beto olhava pro namorado, sem vontade.

– Vâmo ficar mais um pouquinho aqui, lindo – respondeu Beto, enquanto se levantava da mesa.

– Vem! Vamos dar um passeio perto do lago, vem!

– Mas eu acabei de comer. – Beto ia sem vontade pela varanda do restaurante – Olha essas redes! Deixa eu tirar uma soneca aqui!

Eles tinham ido almoçar num restaurante perto do lago. Uma construção espaçosa que lembrava uma gigante casa de verão, com sofás e redes na varanda.

– Vem, amor, vamos andar aqui perto da orla, vem... – Vinícius foi puxando Beto pelo estacionamento.

– Lindo... Esse sol tá muito forte! Vamo prum shopping, algum lugar com ar condicionado, sei lá!

– Vem... Olha que dia lindo que tá! A gente vai vencer os desafios – brincou Vinícius, enquanto andavam pela grama seca e cheia de poeira no caminho sem calçadas.

– Ai, lindo – disse Beto enxugando o suor na testa – Só você mesmo pra me fazer entrar nesse rally logo depois do almoço. Ai, um calango!

– Hahaha! Ele tem mais medo de você, do que você dele, Beto! Eles sempre fogem.

Beto se resignou e foi com Vinícius pelo caminho mal feito. Eles estavam chegando mais perto da beirada do Lago, na parte próxima da ponte JK. Tinha alguns banquinhos e um jardim bonito por lá... Enquanto andavam, Victor pensava em como faria pra conversar com Beto.

Machos AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora