ALÉM DA CERCA

ONZE

Antes, bem antes daquele episódio fatídico para lá da cerca, a garota fazia compras no supermercado. Não era uma garota comum, tampouco, e nutria uma afeição por piromantes, em suas diversas manias de controlar o fogo nas mãos, entre os dedos dançantes. A garota foi criada com uma mãe detestável, que sorria poucas vezes, e as vezes que abria um sorriso e mostrava dentes alinhados e brancos, não era em propósito dela.
Nunca teve pai, porém a mãe insistia em dizer que ela tinha de esquecer que ele um dia tivesse existido. Era como cinzas após um incêndio de baixa proporção. Ninguém deveria se importar depois do acontecimento.
A garota não sabia seu segundo nome. Sabia que chamavam-na de Tynna, porém por tempos ela nunca se encontrou no mundo. Entretanto possuía o terceiro nome, esse pertencente à mãe, Osquare.
Tynna guardou rancor e mágoa mesmo depois da morte da mãe. Achou que a doença devastaria a vida da mãe e marcaria a própria vida de maneira irreparável.
Tynna viveu e teve dois filhos: Antony e Jorge. Ambos cresceram sem saber o que eram e de onde descenderam, assim como a mãe.
Porém a ceita estava tão perto quanto o respirar de cada um, porém nunca souberam que eles descendiam de Salazar Hytton.

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As luzes brilhavam por cima da cerca, saídas das auras protetoras doa anjos em batalha. O calor borbulhava pelo solo resultando a fúria dos confins do inferno. Essa guerra era, de longe, entre anjos e demônios do que propriamente com meros mortais em dívida com o mal. E isso era exatamente o que os demônios queriam: corromper almas menores para penhorar para o grande senhor com chifres sentado no trono de fogo.

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A batalha durou um dia inteiro e Mama Abigail fez o que pôde para proteger a casa. Nas últimas horas cobriram os corpos de Tom e Elisabeth com cobertas encontradas nos fundos e puseram no carro.
- Um ser de luz me contatou - disse Mama, prendendo o nervosismo numa caixa dentro da cabeça. - Ele disse que virá avisar-me quando liberarem a cidade do mal.
- O que quer dizer com liberar a cidade? - perguntou Katherine, com olheiras tão fundas quando o ferimento no coração pelas duas perdas.
- Era o que eu pensava. - disse Mama. - Os demônios bloquearam qualquer estrada que fizesse alguém sair da cidade. Tornaram-nas uma passagem confusa e desconexa com a realidade, exatamente porque existe aqui esta casa, que sempre foi uma das unidades da ceita, cuidada por Natcho.
- Existem outras unidades, certamente. - disse a mulher, com o filho recostado em seu ombro, protegido.
- Sim. Existem. - confirmou Mama Abigail. - Cada uma regida por um líder. Provavelmente quem os mandou para cá era um líder ou ajudante direto de um.
- Que os anjos nos ajude! - rezou Katherine, beijando o topo da cabeça do filho e derramando uma lágrima morna na face.
- Eles o farão. - disse Mama com confiança. - Eu sei. Sei disso.

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     O anjo veio com um som melodioso serpeando pelos céus. A luz baixou e floreou pelo casebre verticalmente. Katherine dormia com Patrick no sofá.
Mama dirigiu o veículo dos Hytton uma hora depois pela estrada agora livre. Os anjos tinham deixado um rastro de demônios derrotados para lá da cerca. Agora tudo rescindia a um conforto momentâneo beirando ao sentimento de liberdade.