Capítulo 25

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Sage sentia uma dor ardente em seus braços e pernas enquanto ele lutava contra os grilhões de

Askelon, sem sucesso. Ele estava pendurado naquela enorme cruz de Askelon, com seus braços

presos em cada lado dela, suas pernas estavam amarradas na parte de baixo, ele olhou a sua frente e

viu milhares de sua espécie, mais integrantes do seu povo do que ele jamais vira reunidos em um só

lugar, todos pululavam em torno do grande salão do Castelo Boldt. Era um imenso salão, com

centenas de metros de altura, em forma de um arco, e seu povo invadia o local em um caos agitado,

alguns deles zumbiam pelo ar, outros andavam pelo chão, enquanto Sage ficava ali pendurado, no

centro, como um objeto de exibição e desprezo.

Sage se sentia tão fraco; ele tinha sido arrastado para fora sua estação de recuperação antes que

pudesse se fortalecer, ele se sentia à beira da morte. Sabia que sua hora havia chegado. Seu único

arrependimento era que ele queria ter passado mais tempo com Scarlett, ou pelo menos ter tido uma

chance de lhe dizer adeus. Ele pensou nela aparecendo no ponto de encontro deles, ele não estaria lá

e isto partiria seu coração. Ele só podia imaginar como ela ficaria magoada. Ela pensaria que ele a

teria abandonado; ou pior, que ele já estaria morto.

Sage se inclinou para trás, olhou para cima e viu o teto do salão, afilado, a centenas de metros de

altura, ele viu o buraco que o atravessava, através do qual ele podia enxergar o céu noturno, as

estrelas, a lua crescente. Este buraco deixava ar fresco entrar no local, arrefecendo a movimentação

frenética e agitada de todo o seu povo. Sage viu a lua e sabia o seu povo ainda tinha alguns dias antes

da lua minguante mudar de fase.

Sage olhou para baixo e viu os rostos irados de seu povo olhando para ele como se ele fosse o

maior vilão. Mas ele não se importava mais. Ele não se importava consigo mesmo, não se importava

com aquela dor insuportável em seus braços, ombros e pernas. Ele sabia que seria extremamente

torturado, mas ele tampouco se importava com isso. Sage se preocupava apenas com Scarlett. Ele

orou para que ela estivesse segura, longe dali. Que ninguém de seu povo jamais a encontrasse.

"SILÊNCIO!", gritou uma voz.

Lentamente, a sala se acalmou quando o líder bateu seu cajado de metal nas pedras daquele

antigo castelo.

Logo, podia-se ouvir um alfinete cair no chão, e então o líder emergiu da multidão. Sage o

observou: Octal. Um homem que ele não via há anos, duas vezes mais alto que os outros, ele vestia

um longo manto escarlate e empunhava seu cajado de metal de Komber. Ele levantava seu cajado,

com sua antiga cruz torta pendurada na ponta, uma cruz que diziam ser capaz de perfurar e queimar

até mesmo o inimigo mais forte, uma arma mística temida por sua espécie, exercida apenas por seu

líder. Octal avançou, seus olhos translúcidos pareciam queimar Sage, enquanto ele o encarava com

reprovação e condescendência.

"Você está agora diante de seu povo", a voz sombria de Octal explodiu por toda a sala, ecoando

pelos corredores, enquanto ele olhava para Sage, "você teve a oportunidade de nos deixar todo vivos

por dois mil anos mais. Ao invés disso, vamos todos morrer sua causa. Você tem alguma palavra

final para si mesmo?"

Sage o olhou com desprezo, sem energia para responder. Ele sabia que não faria nenhuma

diferença de qualquer maneira.

Após um longo silêncio, Octal franziu o cenho.

"Você pode ter desistido da vida", disse ele, "mas nós não. É tarde demais para você agora, mas

não para nós. Vou ser gentil e lhe dar uma última chance. Vou perdoar os seus pecados, perdoar você

e deixá-lo viver, se você nos levar até a menina. Desistir da vida dela e salvar a todos nós, sua

família e irmãos."

"Se não o fizer, os seus dias finais sobre este planeta serão piores do que você pode imaginar.

Nós vamos torturá-lo de maneiras que você não tem ideia, apresentá-lo a um inferno que nunca

conheceu."

Houve um zumbido agitado em toda a multidão, um murmúrio de aprovação, quando o líder se

adiantou e levantou a ponta de seu cajado para o peito de Sage. À medida que o cajado se

aproximava, a Sage já sentia dor. Ele se contorcia em agonia, gemendo, virando sua cabeça para trás,

o calor abrasador que o objeto emanava era insuportável. Sage sabia que, quando ele tocasse sua

pele, ele sentiria uma dor diferente de qualquer outra coisa . A ponta da cruz curvada chegava cada

vez mais perto.

"Diga-nos", disse o líder baixinho. "Onde ela está? Você vai desistir dela em prol de sua

família?"

Finalmente, Sage convocou toda sua força para olhar nos olhos dele.

"Nunca", ele respondeu. "Você pode fazer o que quiser de mim. Mas eu nunca, nunca mesmo, irei

levá-los até ela."

A multidão de milhares eclodiu em murmúrios irritados, o líder fez uma careta, deu um passo à

frente e levantou a cruz curvada até o peito de Sage, pressionando-a contra ele.

Sage gritou quando a cruz queimou sua carne, sentindo uma dor rasgar seus ossos, pior do que

qualquer coisa que ele podia imaginar. O líder se manteve ali, com um semblante de desaprovação,

empurrando a cruz cada vez mais fundo, Sage gritava, querendo que sua vida chegasse ao fim, mas

determinado a nunca entregar Scarlett.

"Eu acho que você vai perceber", disse o líder, empurrando mais ainda a cruz ", que você sequer

começou a entender o que significa dor."


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