IV

48 5 0
                                    

               Ao chegarem na estrada próxima ao rio, Adam pediu para Alípio esperar alguns minutos. Antes de Alípio perguntar o motivo, o colega já estava correndo de volta à cidadezinha. O garoto colocou sua sacola de plástico no chão e foi molhar os pés no rio. A vegetação ao seu redor era de um extremo verde que quase possuía um brilho próprio. O verde brilhoso da vegetação às margens do rio contrastava com o amarelo escuro da areia da estrada, que seguia até se perder de vista, sendo acompanhada pelo rio de um lado e plantações cercadas do outro.

               Alípio molha seus chinelos e sente a água fria e transparente tocando seus pés. Ele olha para a frente e vê a margem oposta, seguindo um horizonte árido, com poucas plantas e muita areia. Ele calça seus chinelos molhados e pega sua sacola.

               Adam retorna correndo com sua sacola e um chapéu de palha na cabeça.

               - Nada de bom acontece sem o meu chapéu – disse ele, sorrindo para o amigo.

               E os dois seguiram andando. Uma pequena brisa vinha do rio para amenizar o calor dos dois que já comiam algumas das cocadas. Depois de um tempo em silêncio, Alípio voltou a ficar curioso sobre aquela missão esquisita.

               - Macho, como é que a gente vai achar um calango verde-escuro em um terreno cheio de plantação? – perguntou o garoto, com a boca cheia de cocada.

               - Ora, esse é o único trabalho que a gente vai ter. Depois é só pegar os dinheiros – respondeu Adam, ajeitando seu chapéu.

               - E tu sabe onde achar o cabra depois?

               - Deixe comigo – disse Adam, confiante.

               A estrada parecia não ter fim. Os dois já caminhavam há uma hora. O rio já havia feito uma curva há alguns minutos dali e não os acompanhava mais. Eram apenas eles, a estrada, as cercas de arame e o Sol maligno. Andaram por mais alguns minutos e avistaram, ao longe, uma casa e um bar ao lado dela.

               - Ó lá, a casa do Seu Manduca e o bar do Carlinho – disse Adam, apontando para frente.

               - Finalmente, né – disse Alípio.

               Os dois seguiram o caminho até passarem em frente à casa e ao bar. Não havia ninguém lá, mas as portas e as janelas estavam abertas. No bar, havia copos cheios abandonados nas mesas e algumas cadeiras no chão. O rádio do bar estava ligado, tocando uma música brega cantada por um homem de voz aguda.

               - Olha aí, fugiram do Lairton dos teclados – disse Adam, rindo bastante.

               Alípio riu, mesmo achando estranha aquela situação. Porém, nunca andava por esse lugar e achou que todo mundo poderia ter ido ao sítio de alguém. Afinal, nesses interiores, todos possuem parentes em comum.

               - Me diga o que ela significa pra mim! – cantou Alípio, acompanhando a música do rádio.

               - Se ela é um morango aqui no nordeste! – os dois cantaram juntos, apertando o nariz, enquanto a música ia se distanciando dos dois.

               Eles continuaram cantando, enquanto a música ia ficando mais baixa a cada passo. Caminhavam calmamente, enquanto devoravam mais cocadas. Com areia nos pés e a cabeça fervendo, os garotos avistaram um defeito na estrada mais à frente. Havia um buraco nem muito fundo, nem muito raso, mas o suficiente para estragar o amortecedor de um carro. Ao redor dele havia um cruzamento de estradas, possibilitando ir para frente, esquerda ou direita.

A Lenda do Calango VoadorOnde histórias criam vida. Descubra agora