IX

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               Edgar usa sua pouca energia para transportar-se ao quarto para onde havia enviado sua rainha. Ao chegar, encontra Lenna deitada na cama, com os olhos meio abertos, respirando em uma cadência lenta.

               Ele se aproxima da cama, dispersando alguns curandeiros e sacerdotisas que ali estavam.

               - Ela vai ficar bem? – perguntou Edgar à sacerdotisa mais próxima, segurando a mão de Lenna.

               - O fogo de um dragão tem propriedades mágicas quando toca um coração. Ele fica como um veneno de uma serpente, percorrendo toda a corrente sanguínea...

               - Ela vai ficar bem? – perguntou o Rei, subindo seu tom de voz.

               A sacerdotisa abaixa sua cabeça, sem responder.

               - Ela só tem mais alguns minutos, Majestade.

               Edgar sente um frio percorrer todo o seu corpo, iniciando um desespero. Lenna sorria para o Rei, sem conseguir se mover ou falar. O homem deixa uma lágrima despencar de seu olho, anunciando uma cachoeira que viria logo após.

               O Rei via sua esposa morrendo, e Alípio via Adam.

               O garotinho, olhando através de Edgar, observava seu amigo sorrindo, com uma mancha negra em seu peito. Ele segurava sua pequena mão, misturando suas lágrimas com a de Edgar.

               Lenna, fracamente, tenta dizer algo.

               - Ficará tudo bem, Edgar. Encontrará alguém que te fará feliz – gaguejou, em meio a algumas tosses.

               - Nunca mais existirá alguém que me dará tanta felicidade como você me deu – disse Edgar, deixando cair suas lágrimas nas mãos juntas dos dois. 

               Contudo, Alípio ouviu algo diferente. Ele viu seu amigo tentando dizer algo.

               - Olha, Alípio, eu tô nos estadozunido – gaguejou Adam, piscando para Alípio.

               - Vamo pra casa, Adamastor! Vamo pra casa, por favor – disse Alípio, derramando suas lágrimas.

               Lenna e Adam fecharam os olhos lentamente, descansando no eterno silêncio.

               Edgar põe suas mãos em seus olhos, enxugando suas lágrimas. Ele derruba um vaso de flores que estava perto da cama, estilhaçando-o em centenas de pedaços. Os curandeiros e as sacerdotisas estão em volta da cama, comovidos com a morte de sua Rainha.

               Após se acalmar um pouco, com os olhos vermelhos, Edgar ordena para um dos curandeiros trazerem as espadas gêmeas, uma dupla de espadas que ele havia ganhado em sua coroação. É uma antiga tradição de Lunaeria o transporte da essência de alguém que morreu para uma arma. As armas que contêm as essências dos reis e rainhas passados decoram um grande salão dentro do castelo.

               Então, o rapaz trouxe as duas espadas, uma com o punho vermelho e a outra com o punho azul. As duas armas brilhavam com a luz das velas do quarto. Edgar faz um de seus anéis brilharem, com a vontade de transportar, pela última vez, a essência de Lenna para a espada do punho vermelho. Alípio expressou sua vontade de transportar a essência de Adam para a espada do punho azul, fazendo o anel brilhar intensamente e se partir.

               As espadas, rapidamente, tornaram-se mais pesadas, carregando as memórias de Lenna e Adamastor.

               "Você ficará com a de seu amigo, garoto", pensou Edgar. Os curandeiros e as sacerdotisas em volta não entendiam por que Edgar estava tão calado.

               "Só me leva pra casa, por favor", disse Alípio, em soluços.

               Edgar levantou-se e saiu do quarto, observando se havia alguém no corredor. Ele pega o cristal lilás de seu bolso, enquanto segura a espada do punho azul na outra mão.

               "Tome controle de minha mão e expresse sua vontade de voltar. Assim, voltará, levando a espada e deixando o cristal aqui. Guardarei essa joia para que nunca encontrem", pensou Edgar. "Além disso, garoto, obrigado. Cuide bem da nossa vida".

               Alípio permaneceu em silêncio, expressando sua vontade de voltar. O cristal começa a brilhar intensamente, ofuscando a visão do garoto pela última vez.


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