As plantas que compunham o solo acariciavam os pés dos garotos pelos chinelos. Eles caminhavam para frente, imersos em seus pensamentos sobre tudo que acabara de ser apresentado. Os dois garotos, distraídos, mal conseguiam pensar em mais perguntas, enquanto o menino de oito anos continuava a andar sem fazer contato visual com os outros dois. A cerca que delimitava o outro lado do terreno já se aproximava, sendo possível visualizar a estrada de areia mais escura, sem nenhum transeunte. Adam pisa levemente em uma pedra pontiaguda, despertando-se dos pensamentos longínquos.
- Só eu estou achando estranho esse sumiço do povo? Aqui no terreno do Wellington da Mazé sempre tinha alguém cuidando dos bois – comentou Adam, coçando a barriga e olhando para Alípio.
- Devem ter ido pro sítio de alguém. Tem dias que todo mundo da minha rua some, aí quando vou ver, foram pro sítio da Dona Carmelita – disse Alípio, pegando uma cocada de sua sacola.
As cocadas da sacola de Adam já haviam terminado. Ele carregava apenas o estilingue dentro dela, apoiando nas costas. Seu chapéu, acomodado em seu cabelo encaracolado, protegia-o do Sol de três horas da tarde, e seu suor fazia sua pequena testa brilhar. Alípio caminhava entre Adam e Solonildo, tentando, de vez em quando, espiar o que havia no bolso do menininho. Este, por sua vez, caminhava olhando apenas para frente, com a mão no bolso, enquanto a outra tirava seu cabelo liso de perto dos olhos.
- Macho, mostra logo o que tu tem aí no bolso – disse Alípio, abocanhando um pedaço da cocada.
Solonildo ignorou e continuou andando. Os três chegaram na cerca e Adam começou a subir. Alípio, propositalmente, desacelerou seus passos, a fim de observar o menininho ultrapassando. Adam ultrapassa a cerca como se subisse uma escada.
"Merda", pensou Solonildo. Ele, desajeitadamente, pôs o pé no primeiro fio de arame e se ergueu, apoiando-se na estaca de madeira que segura a cerca, tentando pôr o segundo pé no segundo fio. Alípio e Adam, rindo, observavam o espetáculo. O menininho, apoiando-se na estaca, põe seu primeiro pé no terceiro fio e passa a perna para o outro lado. Alípio aproxima-se da cerca e, colocando um pé após o outro, rapidamente ultrapassa e espera Solonildo descer dali. O menino passa a outra perna para o lado certo e, lentamente, tenta descer. Ao pisar no fio de baixo, seu chinelo escorrega, desequilibrando o menino e o levando ao chão. Alípio apressa-se para ajudar a criança caída, abraçando e levantando, sem conseguir disfarçar seu riso.
Solonildo se levanta rapidamente, limpando a areia de sua bermuda e continua a andar, como se nada houvesse acontecido. Alípio e Adam acompanham o menino caminhando mais atrás, rindo juntos.
A estrada velha possuía uma coloração mais escura que a estrada para o terreno. Era de um marrom mais acentuado pela menor iluminação na área, por culpa da sombra oriunda da vegetação mais alta em torno da estrada, com cajueiros e outros arbustos. Os três já conseguiam abrir os olhos totalmente sem machucar a visão com a claridade. Contudo, pela falta de pessoas transitando e pela estrada ser mais escura, os dois amigos sentiram um leve frio na espinha.
- Macho, ainda falta muito? – perguntou Alípio, segurando mais forte sua sacola de plástico. Adam olhava para todos os lados, conferindo se estavam realmente sozinhos.
- Falta só chegar na capela da santinha, avexado.
Solonildo andava mais à frente, fazendo que os dois garotos apressassem seus passos. Um vento suave sopra os garotos, obrigando Adam a segurar seu chapéu e Alípio a ajeitar sua camiseta.
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A Lenda do Calango Voador
FantasySim, isso mesmo que está pensando. Eu sou um completo apaixonado por cultura cearense e fantasia medieval. Logo, pensei: Por que não? Com muito zelo e carinho, fiz esse pequeno livro/grande conto de fantasia com inspirações de RPG's, letras de Power...