O gigantesco salão estava lotado. Casais giravam no meio, embalados por uma valsa em tom menor. Giravam para um lado, para outro, esbanjando grandes quantidades de tecido nos vestidos das mulheres. Em um patamar mais elevado, havia um enorme trono dourado com adornos vermelhos, e um homem jovem sentado nele, aparentando uns trinta anos. O rapaz possuía uma coroa prateada em cima de seu cabelo liso que tocava seus ombros e sua barba bem aparada. Segurava um cálice prateado em que bebia seu vinho predileto, ao mesmo tempo em que deixava à mostra seus anéis enfeitados com cristais minúsculos. Sua outra mão não estava em sua posse, mas na posse da dama que sentava ao seu lado, uma mulher alta, com um cabelo que chegava a sua cintura, tão dourado quanto a cor do trono. Ele olhava para ela, encantado com seus olhos que alternavam entre cinza claro e verde. Ela olhava de volta e sorria, como faziam quando não tinham assunto.
- Acho que a gente devia ir dançar - disse ela, ajeitando seu cabelo.
- Sério? Está tão bom aqui. Minha mão está tão bem acompanhada - disse ele, rindo.
Ela olhou para baixo, e viu sua mão entrelaçada com a de seu marido. Os anéis de casamento dos dois se tocavam, brilhando com o mesmo cristal.
Ele deu um último gole, repousou o cálice em uma pequena mesa e se levantou, puxando sua esposa levemente.
- Nem sei como você prefere ficar aqui do que ir dançar. Parece alguém que conheço. - Disse o rei Edgar.
"Quem será, né?" pensou Lenna, sorrindo.
Os dois caminharam até o centro do salão, atraindo olhares de todos que dançavam por ali. A música chega no refrão, aumentando levemente o ritmo dos dançantes. O rapaz põe sua mão acima do quadril da moça, segura sua outra mão e começa a dar passos de um lado para o outro, contagiando a bela moça a fazer o mesmo. Os olhares dos presentes eram carregados de sentimentos ambíguos, separando-se por linhas tênues entre admiração, orgulho e inveja.
Entretanto, o casal não se importava e olhava apenas um para o outro, dançando ao som da valsa menor que parecia infinita.
- Já lhe falei o quanto sou apaixonado por esses olhos? - Edgar sussurrou no ouvido da moça, afastando o cabelo dourado dela da orelha.
- Mas quase todas as mulheres daqui possuem a mesma cor! - disse Lenna.
Edgar riu.
- Ainda haverá de nascer uma menina com a mesma cor de seus olhos. Não há, em Lunaeria, alguém com um cinza tão vivo ou um verde tão brilhante!
Lenna riu. Deixou que seu marido fosse enganado por sua própria visão defeituosa. Ela sabia que seus olhos, na verdade, eram azuis, mas Edgar nunca veria toda a beleza dessa cor. "Talvez seja uma maldição, talvez seja uma benção. Quem sabe a mãe dele tenha ofendido o deus da cor azul", pensou.
- E se... - Lenna interrompeu-se com seus pensamentos.
Esse era o momento perfeito? A moça do cabelo dourado mergulha em sua dúvida. Já havia alguns dias que ela vinha desconfiando, mas só teve a certeza poucas horas antes deste baile. Lenna amava escrever romances, por isso, acreditava que momentos de extrema importância na vida dos personagens não poderiam ser, simplesmente, atirados na face do leitor. Precisava prepará-lo com pequenas pistas, com uma conversa ou com simples ações do cotidiano, a fim de facilitar a criação de um laço entre leitor e personagem.
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A Lenda do Calango Voador
FantasySim, isso mesmo que está pensando. Eu sou um completo apaixonado por cultura cearense e fantasia medieval. Logo, pensei: Por que não? Com muito zelo e carinho, fiz esse pequeno livro/grande conto de fantasia com inspirações de RPG's, letras de Power...