VIII

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               O pequeno Alípio se levanta, sentindo seu corpo pesado. Sua mente dá voltas, recebendo centenas de memórias ao mesmo tempo. Contudo, o garoto mantém-se em pé. O terreno continua completamente carbonizado, com restos de cinzas de plantas em todos os lugares. A casa, no meio do terreno, estava desabada, enquanto um garoto estava deitado mais à frente. O Sol começava a se pôr, amenizando aquele calor digno do sertão do Ceará.

               Alípio correu para o menino no chão, e viu Adam com um buraco enorme em sua camisa e uma mancha negra em seu peito.

               - Adam, macho, acorda. – Alípio remexia o amigo, tentando acordá-lo.

               - Macho, por favor, acorda. – O desespero começava a nascer no menino.

               "Pera, a rainha ainda tá viva, né?", pensou Alípio.

               Edgar não respondeu.

               Adam ainda respirava fracamente, parecendo que estava em um sono profundo.

               "Garoto, olha para trás!", gritou uma voz em sua mente, alertando-o do golpe que ia acertá-lo em cheio.

               Alípio olha para trás e desvia do soco de uma criança de oito anos. O menininho desfere outro golpe em Alípio que, simplesmente, segura com uma mão.

               - Seph, desista, que prometo não te executar em Lunaeria – disse Alípio, involuntariamente.

               - Ei, que diabéisso – disse Alípio, voluntariamente, suprimindo uma lágrima que estava prestes a cair.

               Solonildo põe a mão no bolso e some, levando Alípio. Os dois reaparecem em pleno ar, a dezenas de metros de altura. Solonildo solta o garoto e some, deixando-o em uma queda fatal.

               - Ele num podia ter feito isso bem antes? – disse Alípio, sem sentir medo com a queda.

               "Podia, mas seu orgulho não permitiria.", respondeu Edgar na mente do garoto.

               - Ou ele é apenas um jumento disfarçado de gente. – O garoto põe sua mão no bolso e segura o cristal com força. – Como é que se faz pra ligar mesmo?

               Edgar pensou com convicção em ir para perto de Solonildo. Então, Alípio foi transportado para o menininho e o segurou pelo braço.

               - Me larga! Me dê meu cristal! – esperneou-se o garotinho.

               - Sorte a sua que não posso fazer muita coisa por aqui – disse Edgar, através de Alípio.

               - Macho, para de roubar minha voz. Eu sinto um negócio estranho nas entranha.

               Alípio segura o cristal com ainda mais força, desejando voltar para Lunaeria.

               E um brilho extremo ofuscou os dois garotos.

...

               Edgar abre seus olhos, sentindo seu corpo pesado novamente. Meio atordoado, ele vê dezenas de soldados e magos no chão, enquanto outros ainda tentam conter a criatura indomável. O dragão vermelho continua a chicotear e lançar fogo, enquanto desvencilha-se das magias congelantes com seu bater de asas.

               - Senhor, essa seria a hora perfeita para chamar a Sentinela! – gritou um dos soldados para o comandante.

               - Aquela herege não aceita ordens de ninguém! – gritou Comandante Snow de volta, desviando de uma chicotada da cauda do animal.

A Lenda do Calango VoadorOnde histórias criam vida. Descubra agora